Kaká: o príncipe de Milão

Melhor jogador do mundo em 2007, Kaká foi um dos maiores jogadores na primeira década do novo Século. Meia-atacante com visão de jogo e forte arremate, Kaká se tornou, pelo que fez principalmente no Milan, um dos grandes jogadores brasileiros da história.

Ao contrário da grande maioria dos jogadores do nosso futebol, Ricardo Izecson dos Santos Leite (mais tarde conhecido por Kaká) nasceu numa família de classe média-alta, não tendo passado grandes dificuldades financeiras. O futebol sempre foi uma das suas paixões e, aos 15 anos, foi para a base do São Paulo. Contudo, com 18 anos, Kaká sofreu um acidente numa piscina (fratura na espinha dorsal) que gerou certa preocupação, mas o jovem acabou por se recuperar rapidamente.

Tão rapidamente que, menos de um ano depois, estreava com a camisa tricolor. Logo em seu segundo jogo, mostrou que podia ser protagonista: contra o Santos, o meia entrou na segunda parte e marcou um dos gols da vitória são-paulina por 4 a 2. A estrela começava a brilhar.

Um mês depois, na final do Torneio Rio-São Paulo, marcou os dois gols da vitória sobre o Botafogo, que valeu primeiro, e único, troféu do torneio para o time do Morumbi. Kaká passou, então, a ser comparado com Raí, um dos maiores jogadores da história do Tricolor.

Campeão do mundo aos 20 anos

Titular já no Campeonato Brasileiro de 2001, Kaká passou a ser chamado para a seleção de Luiz Felipe Scolari. Marcou logo no segundo jogo, contra a Islândia, e acabou por convencer Felipão a levá-lo para a Copa de 2002, onde não foram, entre outros, Romário, Zé Roberto e Juninho Pernambucano.

Na Copa, Kaká era o mais jovem do elenco brasileiro e só foi utilizado na goleada sobre a Costa Rica, na fase de grupos. Aos 20 anos, Kaká se tornou campeão do mundo e passou a ser uma das maiores esperanças do futebol brasileiro.

O Melhor do Brasileirão antes das críticas

De volta ao Morumbi, Kaká brilhou no Brasileiro de 2002, ganhando a Bola de Ouro daquele ano, que terminou com título santista. Foi o Peixe que eliminou o São Paulo nas quartas de final, e a torcida são-paulina criticou Kaká. 

A relação do jogador com os torcedores foi ficando cada vez pior: de ídolo, passou a ser um dos alvos de crítica e responsabilizado por maus resultados. A torcida criticava Kaká por não ver protagonismo do meia nos principais jogos. 

Príncipe em Milão

Vaiado no Morumbi, Kaká era valorizado na Europa e, em 2003, assinou pelo então campeão europeu Milan. Apesar da forte concorrência, rapidamente se impôs na equipe rossonera e, durante seis anos, espalhou classe pelos gramados italianos e europeus.

Logo na primeira temporada, foi campeão italiano e, na seguinte, viveu a desilusão de perder a final da Champions para o Liverpool, depois de sua equipe abrir 3 a 0 na primeira parte. No final dessa temporada, Kaká conquistou a Copa das Confederações, marcando na final, contra a Argentina.

Em 2006, Kaká chegava na Copa da Alemanha como um dos melhores jogadores do mundo, fazendo parte de um quarteto que muito prometia nessa competição, com Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo. Era o quarteto fantástico da seleção, que conseguiu algumas grandes exibições antes da Copa.

Kaká começou o Mundial em grande estilo, com um golaço que definiu a magra vitória sobre a Croácia. Mas aquela Copa foi uma desilusão para a torcida. O quarteto fantástico teve poucos lampejos, e o Brasil caiu para a França, nas quartas. 

O Mundo a seus pés

Foi na temporada seguinte ao Mundial que Kaká viveu o melhor momento da carreira. Depois da polêmica do Calciocaos, o Milan ficou fora da luta pelo título na Itália e concentrou-se na Champions – que ganharia, e com muita ajuda de Kaká.

O brasileiro fez um hat-trick contra o Anderlecht, na fase de grupos, marcou, na prorrogação, o gol que eliminou o Celtic nas oitavas de final e fez uma das exibições individuais mais espetaculares na competição nas semifinais, diante do poderoso Manchester United. Marcou três dos cinco gols que o Milan anotou na eliminatória, incluindo dois em Old Trafford. 

Ficou na história também um dos mais famosos gols da carreira: com um subtil toque de cabeça, deixou para trás dois adversários, num gol demonstrativo de toda a sua inteligência. Na final, Kaká não foi tão brilhante, mas levantou o troféu.

No final do ano de 2007, Kaká foi considerado não só o melhor jogador da Liga dos Campeões, com o melhor jogador do mundo. Com a seleção tentando fazer as pazes com a torcida, Kaká ouviu o Maracanã gritar que ele era, de fato, o "melhor do mundo". 

A aventura em Madri

Kaká seguiu outras duas temporadas no Milan, com bons registros individuais, mas de fraco desempenho coletivo. Começaram a surgir rumores sobre uma possível transferência para o Real Madrid, que acabou por ser confirmada em 2009, após conquistar uma vez mais a Copa das Confederações, agora na África do Sul, sendo o melhor do torneio.

Florentino Pérez, presidente merengue, não conteve esforços e contratou, na mesma temporada, jogadores como Benzema, Xabi Alonso, Cristiano Ronaldo e Kaká.

Mas a aventura do brasileiro em Madri não foi a mais feliz. Nas quatro temporadas passadas na capital espanhola, nunca conseguiu ser o jogador que era no Milan, muito devido aos constantes problemas físicos que teve, principalmente uma pubalgia que não o largou até ao final da carreira. Teve, ainda assim, bons momentos e conquistou títulos, o principal a Liga Espanhola, em 2012, quando os Merengues interromperam uma série de três títulos consecutivos do Barcelona de Guardiola.

Os últimos anos

Na seleção, o protagonismo do meia passou a ser, progressivamente, menor. Em 2010, visto como a principal figura do Brasil, não esteve ao seu melhor nível. A partir daí, só realizou mais dez jogos pela Canarinho em seis anos.

O final da carreira de Kaká foi de alguns retornos. Voltou ao Milan, onde não foi o protagonista de antes, e ao São Paulo. Teve bom desempenho com a camisa tricolor e, principalmente, fez as pazes com a torcida. Nos Estados Unidos, se tornou ídolo em Orlando, até encerrar a carreira em 2017, com 35 anos.