Quando foi contratado pelo Real Madrid em 2006, Marcelo tinha uma missão ingrata: ser o sucessor natural do ídolo Roberto Carlos. Os anos passaram e o lateral esquerdo superou todas as expectativas, construindo a sua própria história de conquistas e idolatria com a camisa merengue. Mas o momento agora é outro. Marcelo, que foi referência na última década na posição, completa 32 anos questionado, enquanto o clube prepara o seu substituto.
A primeira temporada de Marcelo no Real foi a última de Roberto Carlos no clube. Ainda uma jovem promessa com pouca experiência anterior no Fluminense, o lateral disputou seis jogos e foi titular em apenas um. Conquistou ali o seu primeiro título espanhol, o único ao lado do antecessor. 14 anos depois, o agora veterano Marcelo parece passar por situação semelhante a de Roberto Carlos à altura.
Ferland Mendy é o nome do lateral que vem sendo preparado para suceder Marcelo. Talvez sem o mesmo talento e habilidade do brasileiro, mas, com 24 anos, o francês chegou ao Real mais preparado que seu antecessor em 2006. E vem prestando boas atuações, aproveitando uma temporada de muitos baixos e lesões do companheiro e rival de posição. Apesar de toda a história no clube, Marcelo disputou 19 jogos em 2019/20, três a menos que Mendy. É difícil cravar, hoje, quem é o dono do posto.
Marcelo ainda é querido em Madri. Todos no clube sabem o que o lateral representa, com seus quatro títulos de Liga dos Campeões no currículo, apenas os mais importantes entre seus 21 troféus conquistados com a camisa merengue. Nada disso o tem protegido das críticas, com um velho ponto fraco exposto: a deficiência na defesa.
Marcelo é um lateral ofensivo por vocação. Por anos o Real aproveitou a sua força no ataque, com uma parceria de sucesso estrondoso com Cristiano Ronaldo pela esquerda. Para isso, claro, era preciso um esquema que lhe desse cobertura. Nem sempre a utilização do brasileiro significou queda de qualidade na defesa. Mas o desempenho vem decaindo desde 2016/17.
A temporada passada foi especialmente negativa e fez crescer a contestação sobre seu futebol. O aproveitamento do Real em 2018/19 com Marcelo foi 41% pior em número de vitórias na Liga Espanhola. A média de gols sofridos por partida com o lateral em campo foi de 1,7, contra 0,5 sem ele no torneio. Uma melhora de 6% no desempenho ofensivo, em média de gols marcados, não compensava a queda de produção em outros setores.
Zinedine Zidane é fã do futebol de Marcelo, essencial em sua primeira experiência no comando do Real Madrid. O técnico tem tentado recuperar a confiança do lateral, e seu melhor futebol, porém sem muito sucesso. A média de gols sofridos segue muito superior com o brasileiro em campo - 1,1 contra 0,4 - e a falta de consistência em suas atuações preocupa. Mendy, por outro lado, tem sido uma opção mais segura.
Talvez seja o momento de se adaptar a uma nova realidade. Zidane já estudou o aproveitamento de Marcelo como meio-campo, onde não teria de desempenhar o papel de ir e voltar a todo o tempo, o que naturalmente se torna mais difícil com a idade. De qualquer forma, a hora da despedida do jogador no clube está inegavelmente mais próxima.
No Brasil, há quem esteja esperançoso com a possibilidade de fim de ciclo de Marcelo no Real. O Botafogo fala publicamente no sonho de repatriar o jogador, torcedor assumido do clube, embora identificado também com o Fluminense por ter sido revelado nas Laranjeiras. O lateral, no entanto, não tem pressa para deixar o clube que defende há 14 anos e onde construiu a reputação de um dos maiores e mais vitoriosos laterais da história.