O dia que todo o torcedor do Barcelona temia chegou. O dia em que acabou uma era, um sonho, um conto de fadas, uma soberania. O dia em que, após 17 temporadas como profissional, e mais de duas décadas no ambiente do clube, Lionel Messi disse adeus ao Camp Nou.
Agora, os vídeos de Messi com a camisa blaugrana representarão apenas nostalgia. Serão lembranças, a cada dia mais distantes, de um momento mágico, único e insuperável. De um conto de fadas que o torcedor catalão torceu para nunca acabar. Mas que acabou no dia 05 de agosto de 2021.
Jogador com mais jogos, mais gols, incontáveis títulos e 217 assistências com a camisa do Barça, Messi vê um filme passar pela cabeça no momento do adeus. Filme este que tentamos trazer um pouco, com palavras, números, feitos e recordes, acima de tudo com a imortalidade de um gênio.
Lionel Messi chegou ao Barcelona com apenas 13 anos de idade. Destaque nas categorias de base do Newell´s Old Boys, da Argentina, se mudou com a família para a Catalunha e, em La Masia, se tornou o símbolo de uma geração fantástica.
Franzino, Messi foi insuperável nas categorias de base. Tirar-lhe a bola era uma missão quase impossível. Logo se viu que a promessa, de fato, ia se tornar realidade. E para além das expectativas criadas.
O início no profissional foi como uma passagem de bastão. Ronaldinho Gaúcho entregou o protagonismo para Messi. O primeiro gol de Messi como profissional (dia 01 de maio de 2005) simbolizou isso: Ronaldinho fez o lançamento, e Messi tirou, com categoria, do goleiro Valbuena, do Albacete.
O primeiro gol de Messi veio no nono jogo, mais de seis meses depois da estreia, em 16 de outubro de 2004, vitória no dérbi sobre o Espanyol, gol de Deco.
O início de Messi no Camp Nou foi ainda como coadjuvante. Ronaldinho seguiu protagonista na conquista da Liga dos Campeões em 2006. A temporada seguinte foi a primeira de Messi mais ativo, protagonista, com 17 gols em 36 jogos.
Apesar de toda a genialidade que fazia nascer uma lenda, Messi ainda precisou ser lapidado. Ou será que foi ele a lapidar o time? Aquela fantástica geração de La Masia... Em 2008, Pep Guardiola chegou para conduzir o grande time a uma sequência histórica de sucessos.
De 2008 a 2011, o Barça foi três vezes campeão de La Liga, duas da Copa do Rei, três da Supercopa da Espanha, duas da Liga dos Campeões, duas do Mundial de Clubes e duas da Supercopa da Europa.
Messi pegou embalo. Foi eleito melhor jogador do mundo pela primeira vez em 2009, artilheiro de La Liga pela primeira vez em 2010 e, de 2009 a 2011, monopolizou a artilharia da Liga dos Campeões.
A última temporada de Pep no Camp Nou foi a primeira de Messi com mais de 50 gols: foram incríveis 53 tentos em 55 jogos. O E.T começava a mostrar sua cara. E a rivalidade com Cristiano Ronaldo se acirrava, com Superclássicos históricos, inesquecíveis.
Em 2011/12, Messi viveu sua melhor temporada no Camp Nou, com incríveis 73 gols em 60 partidas, média de 1,22 gol/jogo. Foi artilheiro de La Liga, da Liga dos Campeões, Chuteira de Ouro e, pela quarta vez, melhor jogador do mundo.
Messi inventou um novo patamar de se jogar futebol. Estabeleceu um novo critério, quase que inventou seu próprio esporte. Se manteve no topo até o último minuto como jogador do Barcelona. Como consequência, empilhou recordes.
Messi se tornou o maior artilheiro da história de La Liga, com 474 gols, e é também o jogador com mais artilharias do torneio (oito). La Pulga é ainda o jogador com mais partidas (778) e mais gols (672) pelo Barcelona, superando o número de gols de Pelé pelo Santos (642).
O argentino é o único na história do futebol a ter pelo menos 30 gols em 13 temporadas seguidas. Aos 34 anos, se aproxima dos 750 gols na carreira (são 748), a maioria deles no Camp Nou.
Apesar de Messi ter se mantido em alto nível até seu último jogo no Camp Nou, o Barcelona não acompanhou seu maior ídolo. Nas últimas temporadas, sofreu com resultados desastrosos.
Os últimos anos de Messi no Camp Nou foram de um argentino quase como um "carregador de piano", tentando, com seus recitais, levar adiante uma equipe com limitações evidentes, dentro e fora de campo.
As passagens de treinadores contestados e com trabalhos contestáveis, como Ernesto Valverde, Quique Setién e o próprio Ronald Koeman, trouxeram resultados pesados para Messi em seus últimos anos de Barcelona.
Além de o clube perder com maior regularidade para equipes mais modestas do futebol espanhol, uma sequência de eliminações na Liga dos Campeões por goleadas frustrou Messi, o carregador de pianos.
De 2018 a 2021, o Barça sofreu com eliminações vexatórias, dos 3 a 0 para a Roma no Olímpico, com queda após ter vencido por 4 a 1 em casa, aos 4 a 1 para o PSG na última temporada, no Camp Nou, passando pelos acachapantes 8 a 2 para o Bayern de Munique, no Estádio da Luz, em Portugal, e pelos 4 a 0 para o Liverpool em Anfield.
No final das contas, o Barcelona não esteve à altura de Messi. Muito pelo próprio alto padrão estabelecido pelo argentino, que mudou o patamar do clube.
Incontáveis foram os gols, inesquecíveis as memórias, imortais as lembranças. O conto de fadas acabou, mas Messi nunca será esquecido em Barcelona. E o Camp Nou nunca mais será o mesmo sem Messi.