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Fred: gols, milagre e idolatria em três cores

Texto por Eduardo Massa
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Ele chegou no dia 5 de março de 2009, e foi recepcionado com grande festa nas Laranjeiras. O que os presentes não sabiam é que aquele dia mudaria a história do Fluminense, assim como o Fluminense mudaria a vida de Frederico Chaves Guedes. Como um Messias prometido 40 minutos antes do nada, o atacante fez o Tricolor ressurgir como gigante no Brasil, e protagonizou até milagres. Foi com o manto de três cores que Frederico surgiu também para uma nova vida: como salvador, artilheiro, campeão... Como Fred, o ídolo tricolor.

A história de Fred, no entanto, não começou a ser escrita no Fluminense. O talento foi forjado em Minas, na base do América. O goleador, por sinal, teve passagens marcantes pelos três grandes mineiros, protagonista de disputas e polêmicas entre Cruzeiro e Atlético. Na França, o atacante fez parte de um Lyon multicampeão, capitaneado por Juninho Pernambucano. E toda essa história poderia não ter acontecido...

Farra, bebidas e gol relâmpago na Copinha

O principal rival da história de Fred foi o próprio Fred, e desde cedo. Com talento para o gol, o candidato a jogador começou a despontar em sua cidade, Teófilo Otoni, e teve de seguir o caminho que muitos outros meninos fazem: deixar a casa, a família, rumo ao desconhecido. A vida muda, e com novos desafios. Com 14 anos, no interior de São Paulo, o adolescente teve de aprender a se virar sozinho, e logo descobriu um mundo de bebidas e festas. A passagem pelo América, de São José do Rio Preto, foi breve. O clube não toleraria o comportamento errático de Fred.

De volta a Minas, Fred por pouco não teve o mesmo fim no América Mineiro. A fama de "baladeiro", como o próprio revelou mais tarde, o perseguia, e com razão. Imaturo, pouco profissional, o atacante viveu a gangorra entre os profissionais e os juniores, sempre no limite de ser dispensado. Tanto que recebeu do seu técnico na época o vaticínio: tinha menos de 1% de chances de participar da Copa SP de Futebol Júnior de 2003, maior vitrine para jovens atletas.

Os gols salvaram Fred do ostracismo. O técnico acabou por repensar sua decisão e convocou o atleta para a Copinha. Fred tinha 19 anos e nenhuma noção do que estava a sua espera. Foi no terceiro jogo da campanha. Com três segundos, o atacante arrisca do meio-campo. A bola entra. O feito corre o mundo. O atacante, que chegou a ser comunicado que seria dispensado por indisciplina, acaba por ganhar uma nova chance na vida. E desta vez ele a agarraria.

Novo Fenômeno do Cruzeiro?

Os gols em seu primeiro ano como profissional fizeram o América ser pequeno demais para Fred. O passo seguinte foi o Cruzeiro, campeão brasileiro de 2003. Desde Ronaldo, o Cruzeiro não via um goleador jovem causar tanto impacto. Fred não tinha o talento inato e sobrenatural do Fenômeno, mas não parava de balançar as redes.

Fred chegou ao Cruzeiro na 21ª rodada do Brasileirão de 2004. Terminou o campeonato com 14 gols. Não completaria o segundo ano no time celeste. Depois de impressionantes 37 gols em 41 jogos, mesmo o gigante mineiro não conseguiria segurar o goleador. O Lyon pagaria 15 milhões de euros para contar com seus gols, um valor muito alto para a época, e para o clube.

Tricampeão no Lyon, Fred passa bastão para Benzema

O sucesso na França foi imediato. Quando Fred chegou ao Lyon, em 2005/06, o time já era tetracampeão francês. O grande nome da geração mais vitoriosa da equipe foi outro brasileiro, Juninho Pernambucano. Mas Fred logo assumiria o seu posto de goleador do time. O atacante foi vice-artilheiro do Francês em sua primeira campanha, em um título conquistado com sobras.

Como natural pelo desempenho nos anos anteriores, Fred acabou convocado para a Copa do Mundo de 2006. Foi reserva daquele time que decepcionou com craques fora de forma. Jogou apenas dois minutos, contra a Austrália... O suficiente para marcar um gol.

Fred seguiria sendo o artilheiro do Lyon em 2006/07, mas em um ano menos prolífico, embora novamente com título. Marcou 14 gols em 30 jogos, 11 deles no Francês. Aqui começou também a sofrer com lesões, que limitariam em muito o seu tempo em campo ao longo da carreira. Na sua ausência, um jovem francês começava a despontar: Karim Benzema.

A última temporada completa de Fred no Lyon foi em 2007/08. Aqui, a passagem de bastão foi clara. Fred ainda dividiu muitas vezes o campo com Benzema, mas em jogos mais duros, muitas vezes a opção era por escalar apenas um dos dois. E o francês desencantou de vez, com 31 gols. A dupla de ataque ajudou o clube a ser campeão pela última vez.

Fred, cada vez mais ofuscado pela ascensão de Benzema, e com problemas pessoais, decidiu voltar ao Brasil no meio da temporada 2008/09. O francês iria no fim do ano para o Real Madrid. O Bordeaux acabou com a sequência de títulos do melhor Lyon da história e decretou o fim de uma era.

Da depressão ao Milagre Tricolor

Os motivos para o retorno de Fred para o Brasil não foram transparentes na época. Tricampeão na França, com passagem pela seleção brasileira, Fred tinha mercado no futebol europeu. Nem mesmo o dinheiro da Era Unimed justificava a decisão do atacante. Havia ali motivos maiores, que só ficaram claros mais tarde. Mais uma vez o jogador precisava superar os seus próprios demônios para dar a volta por cima.

Fred havia acabado de se separar. Precisava voltar ao Brasil para ficar próximo da filha. Mas estava sozinho a maior parte do tempo, em uma cidade que não era sua, sem motivação para seguir em frente no futebol. Bebidas, festas, depressão, lesões. Sem Fred em campo, o Fluminense afundava no Brasileirão. O alto investimento parecia não se justificar. A frieza dos números apontava o clube como virtual rebaixado, com apenas 1% de chances de seguir na elite. Era o que bastava.

Quando retornou de lesão, em outubro, Fred estava no fundo do poço, assim como o Fluminense. Era preciso mudar. "Até o fim do Brasileiro, não saio nem bebo mais", prometeu para ele próprio. O que aconteceu na sequência ficou conhecido como o "Milagre Tricolor", que foi contado aqui em outro texto. Líder do "Time de Guerreiros", Fred anotou sete gols nos últimos sete jogos e foi protagonista da maior reação de um clube na história do Brasileirão. Era o primeiro passo para a idolatria.

O despertar do Gigante Tricolor

Para entender a importância de Fred para o Fluminense, é preciso contextualizar. O fim dos anos 90 foi desastroso para o Tricolor e o declínio, em certo momento, pareceu irreversível. A volta por cima teve início em 99, com o time na Série C, e com uma parceria duradora com a Unimed. O Flu voltou a conquistar um título nacional com a Copa do Brasil, em 2007, e chegou na final da Libertadores, em 2008. Mas ainda parecia pouco para a tradição tricolor.

O "Milagre Tricolor" acabou por construir uma relação simbiótica entre arquibancada e time. Empurrados pela torcida, e com um time de talentos, com nomes como Deco, Washington e Conca, o Fluminense foi da ameaça de rebaixamento ao fim do jejum de 26 anos. Fred, no entanto, sofreu com problemas físicos e, embora tenha contribuído, não foi destaque da conquista, com seu companheiro argentino assumindo a responsabilidade sob comando de Muricy Ramalho.

Fred marcou 34 gols em 2011, mas o Fluminense passou em branco. Em 2012, a história foi diferente. Fred foi artilheiro do Brasileirão, com 20 gols, e eleito o Craque do torneio, com mais um título brasileiro pelo Tricolor.

O Cone da Copa

No auge no Fluminense, Fred assumiu o posto de titular também na seleção brasileira. Foi muito feliz por lá em 2013. As atuações na Copa das Confederações colocaram o atacante mais uma vez em destaque pelo globo.

Fred marcou dois gols contra a Itália, outro contra o Uruguai, e mais dois na final contra a Espanha. No total, cinco gols e uma assistência em cinco jogos. O Brasil sagrou-se campeão e mostrou ao mundo que estava preparado para buscar o título em 2014 na Copa do Mundo, jogando em casa. Nada faria crer no desfecho contra a Alemanha...

O sucesso de 2013 contrastou com o fracasso completo de 2014. Em um time coletivamente perdido, Fred pouco fez. Marcou um gol em seis jogos e não evitou o desastre do 7 a 1. De artilheiro, virou "Cone", odiado por todo o Brasil.

No retorno, Fred pensou em deixar o futebol brasileiro. Pensou até em largar o futebol. Mas, nesta altura, o atacante já estava mais maduro. Não voltou ao ciclo de álcool e farras para preencher o vazio. Ao invés disso, retornou ao Fluminense, e foi recebido de braços abertos. O atacante nunca escondeu a gratidão pela forma como foi tratado no momento mais duro de sua carreira.

"Vocês me abraçaram enquanto o resto do país me humilhava", resumiu em carta aos torcedores.

Gols e polêmicas em BH

Apesar do amor recíproco, a permanência de Fred se tornou praticamente insustentável após o fim da Era Unimed, com o Fluminense em crise financeira. A solução foi o retorno a Minas, em uma passagem polêmica. Com forte identificação com o Cruzeiro, onde se firmou como grande nome do futebol brasileiro, Fred acabou por assinar com o Atlético. O casamento pareceu sempre forçado. Apesar dos 42 gols em um ano e meio, o atacante nunca caiu nas graças do torcedor.

Quando negociou a rescisão amigável com o Galo, em 2018, Fred assinou contrato com multa para impedir a mudança para o Cruzeiro. Mas, em uma decisão que se provaria um erro de todas as partes, o time celeste convenceu o atacante a retornar de qualquer forma. A longa disputa entre as partes terminou na justiça. Fred, mais uma vez, entregou gols. Mas o caos instalado na Raposa era incontornável, e o rebaixamento veio em 2019.

Mais uma vez, Fred pensou em parar. Mas nesta altura da carreira, o atacante já sabia a quem recorrer para voltar a sorrir, e não pensou duas vezes quando recebeu o convite do Fluminense. Desta vez, mais que os gols, "Don Fredón" trouxe ao clube a experiência e liderança para dar exemplo às Crias de Xerém. O garoto indisciplinado aprendeu com o tempo. Não fosse o Fluminense, não existiria Fred, ao menos não esse que conhecemos. Não fosse Fred, talvez o gigante tricolor nunca tivesse voltado ao topo do Brasil.

A relação entre Fluminense e Fred estava destinada a acontecer, diria provavelmente o saudoso Nelson Rodrigues. Talvez o jovem Frederico ainda não soubesse, mas já era tricolor muito antes da presente encarnação.

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