As glórias ficaram em um passado distante, e o futebol ficou em segundo plano, embora a aposentadoria não seja oficial. Mas a história do esporte brasileiro tem um capítulo especial reservado para Vanderlei Luxemburgo, que completa 70 anos nesta terça-feira.
A dedicação de Luxemburgo neste momento é a campanha para o senado no estado de Tocantins, pelo PSB, de Alckimin. No entanto, sua carreira como técnico não foi encerrada oficialmente (ainda). O seu último trabalho em campo foi com o Cruzeiro, em 2021, sem sucesso na missão de recolocar o clube na elite nacional.
A falta de trabalhos de destaque se tornou rotina na última década, com momentos esporádicos de sucesso e títulos estaduais. Para toda uma geração que nasceu neste século e já atingiu a maioridade, o nome de Luxemburgo pode dizer pouco. Mas seu trabalho entre as décadas de 1990 e 2000 o colocaram no patamar dos maiores da história do Brasil.
Ainda jovem, com 37 anos, Luxemburgo foi uma aposta arriscada para comandar um projeto ambicioso do time de Bragança Paulista. Apesar da idade e da pouca experiência como treinador, Luxa conhecia bem o mundo da bola e rapidamente conquistou o grupo. Mais que isso, começou a mostrar que era mais que um técnico "boleiro", transformando rapidamente o Braga em um time competitivo, campeão da Série B.
O grande feito que colocaria Vanderlei Luxemburgo na prateleira de cima do futebol nacional, no entanto, foi realizado em 1990. O Bragantino surpreendeu a todos e, na terceira fase do Paulista, terminou à frente de Corinthians e Santos em seu grupo, garantindo vaga na decisão, que ficou conhecida como "Final Caipira", contra o Novorizontino.
O Bragantino de Luxa jogou com o "regulamento debaixo do braço" nos dois jogos da decisão e na prorrogação. A melhor campanha ao longo do Paulista deu ao time o direito de jogar por dois empates, e foi o que aconteceu, com o placar em 1 a 1 nos duelos.
O sucesso no interior paulista fez Vanderlei Luxemburgo receber o primeiro convite de um grande clube nacional, e logo o seu Flamengo. Mas a passagem pelo Rubro-Negro não foi como o técnico gostaria, com problemas dentro e fora das quatro linhas. Luxa voltou então para o interior paulista para treinar Guarani e Ponte Preta.
Luxa conquistou o primeiro de seus cinco títulos do Brasileirão ainda em 1993. No ano seguinte, o técnico sagrou-se bicampeão estadual e brasileiro, comandando um time de craques da "Era Parmalat".
A história de amor com o Flamengo acabou novamente por não render frutos em campo. Contratado em 1995 para comandar um time de estrelas no centenário rubro-negro, com a surpreendente chegada do melhor do mundo na época, Romário, Luxemburgo viu o time naufragar com a derrota para o Fluminense no jogo decisivo, eternizando o "gol de barriga" de Renato Gaúcho.
Luxemburgo ainda passou pelo Paraná antes de retornar ao Palmeiras ainda em 95, novamente deixando marca positiva com novo título paulista no ano seguinte e um ataque arrasador, mas sem repetir o sucesso nacional.
A primeira passagem pelo Santos foi em 1997, e com conquista do Rio-São Paulo. Neste momento, Luxa já era considerado um dos maiores, se não o maior, técnico do país. Uma visão consolidada em 1998 no comando do Corinthians, com a conquista de seu terceiro Campeonato Brasileiro.
O convite para assumir a seleção brasileira parecia o percurso natural, e as expectativas eram altas. Afinal, Luxa ficou conhecido por montar times ofensivos e sua contratação trazia esperanças de um futebol no estilo dos grandes esquadrões brasileiros. Mas nada correu como esperado.
A passagem de Luxemburgo pela seleção brasileira foi um desastre. Muito mais pelo caos instalado fora de campo do que pelo futebol apresentado dentro dele. O técnico respondeu processo por sonegação fiscal e uso de documentos falsificados. Com tantas polêmicas, Luxa não resistiu à eliminação nas Olimpíadas de 2000 e sequer conseguiu finalizar o ciclo para a Copa do Mundo de 2002, que acabou com o pentacampeonato sob comando de Luiz Felipe Scolari.
Luxemburgo se mudou para o Cruzeiro ainda em 2002, e deixou sua marca na história do clube no ano seguinte. Foi sob o comando de Luxa que o time mineiro conquistou a sua "Tríplice Coroa". Conquistou o Mineiro, a Copa do Brasil e o Brasileirão. A Raposa atingiu os 100 pontos no primeiro Brasileiro disputado com pontos corridos e marcou mais de 100 gols, 23 deles com o craque Alex, símbolo do futebol atraente daquela equipe.
Como de costume, Luxa não fixou raízes. Em 2004 a história foi no Santos, e mais uma vez com sucesso. Liderando os "Meninos da Vila" com Robinho como líder em campo, o técnico conquistou o seu último Brasileirão. Um feito que o levou ao topo do mundo.
A história de Luxemburgo no Brasil foi reconhecida internacionalmente, a ponto de levar o técnico ao clube mais famoso do mundo: o Real Madrid. E não em um momento qualquer. Luxa foi escolhido para liderar um time de "Galácticos". O sonho europeu terminou em pesadelo.
O Real contava com um time repleto de estrelas, como Luís Figo, Beckham, Roberto Carlos, Zidane... Embora tivesse comandado supertimes em sua carreira no Brasil, Luxemburgo teve um desafio diferente com nomes internacionais e de um cultura diferente. Melhor do mundo em 2001, Figo foi a estrela que bateu de frente com Luxa, e mais tarde definiria o técnico como "o pior" com quem trabalhou na carreira.
A experiência no Real Madrid se provou traumática para Luxemburgo, demitido após um ano e sem deixar saudades em Madri. Luxemburgo retornou ao Brasil e foi tricampeão paulista entre Santos e Palmeiras, nos anos de 2006 e 2008. Mas era pouco para o pentacampeão brasileiro.
O brilho genial de Luxa parece ter se perdido em Madri. O técnico ainda seguiu conquistando títulos pelo Brasil, mas agora em enfraquecidos estaduais, sem a mesma relevância de quando começou a carreira. O último deles, em 2020, justamente pelo Palmeiras, e que não o ajudou a escapar das críticas e da demissão, embora ainda tenha participado do início da caminhada do título da Libertadores, conquistado sob o comando de Abel Ferreira, que se tornaria também lenda no Alviverde.
O último trabalho de Luxemburgo foi pelo Cruzeiro, longe da glória conquistada em 2003. O técnico teve de se contentar em evitar um desastre maior, com a Série C como possibilidade real, mas nunca levou o time celeste a brigar pelas vagas de acesso à elite.
Sem confirmar a aposentadoria, embora reconhecendo a proximidade com a mesma, Luxa resolveu dar um tempo no futebol para se dedicar a política. O retorno ainda é uma possibilidade, mas dificilmente veremos novamente o técnico genial que conquistou o Brasil por cinco vezes.