O exemplo de Casemiro, a herança de RC e Marcelo e o conselho decisivo de Zidane

A tradição de brasileiros na lateral-esquerda do Real Madrid não deve acabar com Marcelo. Abner Felipe, de 21 anos, é o terceiro nessa linha sucessória, e tem muita moral com Zidane. 

A história quase foi completamente diferente. O brasileiro, que começou a carreira no Coritiba, estava em Madri para assinar com o Atlético, mas uma carteira perdida acabou o levando para o Santiago Bernabéu. Abner, em conversa descontraída por telefone com a reportagem de oGol, explica melhor. 

©Coritiba

"Meu empresário, Thiago Silva, veio para Madri, estava tendo uma negociação com o Atlético. Foi até meio engraçado. Ele tinha um grande amigo que jogava no Real Madrid B, Pablo, hoje no Atlético Paranaense, atacante. Eles se encontraram para jantar e, no outro dia, meu empresário foi passear por Madri e perdeu a carteira. Ele falou com o pai do Pablo: 'Poxa, perdi minha carteira. Será que tem como me ajudar a recuperar´? E o pai do Pablo era amigo de um diretor do Real Madrid, e pediu para ele ajudar. Ai ele (diretor) falou: 'O Real Madrid tem interesse no Abner. Você pode combinar com ele para a gente jantar e bater um papo'? Aí o pai do Pablo intermediou a reunião. Meu empresário foi jantar com o diretor do Real Madrid, eles tiveram o interesse e fizeram a proposta para eu vir para cá", conta. 

O exemplo de Casemiro

Abner, então, virou mais um merengue. Mais um lateral-esquerdo brasileiro no clube. Desde então, vem jogando no time B, e vê Casemiro, que também jogou na equipe B e hoje é fundamental na equipe principal, um grande exemplo a se mirar. 

©Divulgação

"O Real Madrid é um grande clube e tem grandes jogadores no time B. Para mim, o Casemiro é um exemplo. Estava no time B, foi para o principal, não jogou muito e saiu emprestado. Fez grande temporada no Porto, voltou para cá e hoje é titular indiscutível. Eu tenho um Casemiro como exemplo aqui", disse.

Abner pode, inclusive, seguir o exemplo de Casemiro, que jogou emprestado no Porto, e buscar experiência em outra equipe. Sem revelar o clube, o atleta disse que tem proposta de uma equipe da primeira divisão de Portugal. 

"Tem essa possibilidade de sair emprestado para ganhar experiência, poder jogar, ter mais minutos e poder voltar, se Deus quiser, para o time principal. Tem proposta de time de Espanha, Portugal... Estamos começando. Vou tirar meu passaporte europeu e aí fica mais fácil", revelou.

A herança brasileira na lateral

Casemiro é o exemplo de jogador brasileiro que aproveitou bem a oportunidade de jogar no time B dos Merengues. Já Roberto Carlos e Marcelo são mais que espelhos: são os nomes que antecedem Abner na linha sucessória de laterais brasileiros no clube. 

"Quando o Marcelo chegou, com 18 anos (eu também cheguei com 18), era para ser o sucessor do Roberto Carlos. Muitos falaram que eu poderia ser o sucessor do Marcelo. Infelizmente, tive muitas lesões, mas já estou recuperado, 100%. Nessa temporada, vou estar aproveitando a oportunidade de poder voltar a jogar e, quem sabe, ocupar a lateral-esquerda do Real", projetou Abner. 

©Divulgação

Além de espelhos, Roberto Carlos e Marcelo foram bons conselheiros para Abner. O atual lateral-esquerdo do Real Madrid sempre ajudou seu compatriota.

"Marcelo sempre me passava conselhos. Para mim, é uma referência. Tenho o Marcelo como um espelho, uma referência, desde quando comecei a jogar na lateral. O Marcelo é muito alegre, sempre falou para mim que a gente não pode desanimar, tem que estar sempre sorrindo porque a gente tem que disfrutar o que a gente faz. Se a gente gosta de fazer algo, a gente tem que aproveitar a cada dia, cada oportunidade. Mesmo machucado, ele fala para mim: 'Isso é passageiro. Daqui a seis meses você está de volta. Não pode desanimar. Continua sorrindo'. Ele sempre dava conselhos assim. Essa frase que peguei para mim", garantiu.

A ajuda de Zidane

Outro dentro do Real Madrid que foi, e ainda é, um grande conselheiro de Abner é Zinedine Zidane. Quando o brasileiro pensou em parar de jogar, após grave lesão, o francês o impediu e o fez levantar a cabeça.

"Quando aconteceu a segunda, terceira lesão, pensei em deixar o futebol. Sei que é sofrido, que se recupera, mas é uma lesão complicada, que você sente muita dor, dia a dia é a mesma rotina. E o Zidane, na época, era meu treinador. Cheguei no vestiário com essa decisão. Ele me chamou, e eu falei que ia deixar o futebol. Ele disse que não, que não era para eu deixar, que eu era muito jovem ainda, que só tinha 18 anos. Que eu tinha muito pela frente, que ia ser um grande jogador, que não podia desanimar. Ele tem essa grande parcela de eu estar aqui hoje. A experiência com ele foi muito boa. Até hoje, eu tenho um carinho por ele, ele por mim", confessou o brasileiro, que recebeu conselhos de Zidane sobre o mercado de transferências.

"Tive uma reunião pedindo conselho dele perguntando o que ele pensava de eu ser emprestado agora. Ele falou que seria perfeito, jogar em um time de primeira divisão, ganhar experiência, ganhar minutos e, depois, voltar para cá que ele estaria me esperando".

Abner projeta jogar mais na próxima temporada. Possivelmente emprestado para outro clube, o brasileiro quer ter mais minutos em campo para depois voltar ao Real, como fez Casemiro, e lutar por seu espaço.  

"Eu tenho que mostrar que estou 100%. Tive jogos no time B, mas não tive uma sequência, porque estava voltando (de lesão). Ainda tenho isso de jogador lesionado. É normal. Agora, tenho que ter sequência, procurar jogar, fazer 20 jogos com 90 minutos na temporada para poder mostrar que estou totalmente recuperado. Eu mostrando isso, se Deus quiser eu vou estar de volta no time principal", garantiu.