Lothar Matthäus fugia um pouco do estilo de jogo alemão. De atacantes marcantes pelo bom porte físico e objetividade em campo, e com meias de muita disciplina, a Alemanha teve em Matthäus um pouco da magia que raramente se viu no país. A fantasia do futebol alemão atendeu, por muitos anos, pelo nome de Matthäus.
O meia, que também era dotado de inteligência tática e condição física suficientes para o fazer dominar todo o meio campo e chegar no ataque, começou a carreira em um ótimo momento. No fim da década de 1970, o Borussia Monchengladbach vinha de um título alemão (em 1977) e da conquista da Liga Europa, então Copa Uefa (em 1979). Foi exatamente em 1979 que Matthäus começou a carreira.
O início nos Potros foi arrebatador. Matthäus foi destaque na campanha que quase levou o clube ao bicampeonato da Copa Uefa (perdeu a final para o Eintracht) e fez 28 jogos na Bundesliga, marcando quatro gols. Foi logo convocado para a seleção alemã.
Matthäus esteve na Eurocopa de 1980 como uma das principais apostas daquela seleção alemã. Entrou contra a Holanda em jogo que estava 3 a 0, mas cometeu um pênalti e os holandeses quase empataram (o jogo ficou 3 a 2). O meia nunca mais entrou em campo no torneio, mas os alemães acabaram campeões.
A decisão do técnico Jupp Derwall acabou sendo mais para não queimar a jovem promessa, pois o meia voltou a ser convocado em 1981 para as Eliminatórias. Em 1982, disputou sua primeira Copa do Mundo, entrando em dois jogos da campanha que acabou com o vice-campeonato alemão (a Itália foi a campeã, lembre-se).
Títulos só em Munique
Matthäus seguiu se destacando em Monchengladbach nas temporadas seguintes. Mesmo meia, mostrava sua habilidade com belos gols. Chegou a marcar dez tentos em 33 jogos na Bundesliga em 1980/81. O desempenho o mantinha na seleção alemã.
O meia passou a ser protagonista no time a partir de 1984. Naquele ano, a Alemanha tentaria defender o título da Eurocopa. Matthäus foi titular contra a Romênia e a Espanha, mas não evitou a eliminação alemã, uma decepção na época.
As maiores glórias na carreira do jogador só apareceriam depois do craque se mudar para Munique. Vendo o jovem se destacar nos Potros, o Bayern de Munique teve de mostrar sua força e levou Matthäus para a Bavária. Lá, o jogador conquistaria seus primeiros títulos.
O primeiro deles veio logo na primeira temporada pelos bávaros. Jogando com mais liberdade, Matthäus encantou no título da Bundesliga em 1985, marcando 16 gols em 33 jogos no campeonato, terminando como o artilheiro do Bayern.
O meia e o clube embalaram a conquista com um tricampeonato alemão, além de um título da Copa da Alemanha. Matthäus seguiu como destaque ofensivo, mesmo quando o Bayern não era campeão. Em 1988, o craque foi novamente o artilheiro do time no vice-campeonato alemão, com 17 gols em 26 jogos, média de 0,65 por partida, a melhor da carreira. Matthäus participou da histórica goleada sobre o maior rival do Bayern, o Schalke 04, marcando três vezes no dia 09 de abril de 1988, maior goleada do clássico na Bundesliga.
Ao final daquela temporada, Matthäus deixaria Munique e partiria para a Itália. Logo na primeira temporada com a camisa da Internazionale, foi campeão italiano. Os títulos seguiriam, e era mesmo na Itália que o craque chegaria ao topo...
O auge na Copa de 1990
Como protagonista da seleção alemã, Matthäus colecionou, durante alguns anos, algumas frustrações. Na Copa de 1986, o meia foi um dos craques do torneio. Decisivo, marcou o gol que deu a classificação contra o Marrocos nas oitavas. A Alemanha sofreu nas quartas diante do México, passando apenas nos pênaltis, e, na semifinal, só respirou com um gol de Rudi Völler já perto do fim contra a França.
A final foi contra a Argentina, e foi um dos grandes jogos de Copa do Mundo de todos os tempos. De um lado, Matthäus jogava com a 8, mas tinha alma de 10. Do outro, Diego Armando Maradona, El Diez em pessoa. Foi um jogo de cinco gols no Estádio Azteca, resolvido por Burrochaga já perto do fim.
Depois do vice-campeonato mundial, Matthäus seguiu tentando. Apesar de ter marcado na semifinal, o meia acabou eliminado na Eurocopa de 1988 ao ser superado pela Holanda com gol de van Basten já perto do fim. Até que, enfim, chegou a glória.
Matthäus chegou na Copa do Mundo de 1990, na Itália que ele mesmo já conhecia bem, no auge da carreira. Era um craque pronto. Era o craque. Herdou a 10 de Felix Magath e, logo na estreia daquela Copa, marcou dois gols e comandou uma sublime goleada diante da Iugoslávia.
Contra os Emirados Árabes, nova goleada, e novo gol de Matthäus. A Alemanha foi superando adversários e traumas naquela Copa. Nas oitavas, deixou a Holanda, de van Basten e Koeman, pelo caminho. Nas quartas, Matthäus marcou de pênalti o gol que definiu a classificação contra a Tchecoslováquia. Na semifinal, adeus Inglaterra, de Gary Lineker, nos pênaltis.
A decisão seria o exorcismo completo. Afinal, de um lado estava Matthäus e, do outro, Maradona. O jogo, dessa vez, não teve tantos gols. Foi decidido nos detalhes e, um pênalti já a cinco minutos do fim, deu o título para a Alemanha em Roma. Grande craque e capitão da conquista, Matthäus ergueu o troféu. Estava no topo do mundo, e acabou ganhando a Bola de Ouro da France Football de 1990. Foi, também, o primeiro a ganhar como melhor do mundo na eleição da Fifa.
A última temporada no auge e retorno a Munique
Depois da Copa, Matthäus viveu o que foi, para muitos, sua grande temporada não só na Itália, mas na carreira. Em termos de gol, foi a melhor marca do meia: conseguiu 22 tentos em 43 partidas num total. O craque foi o grande protagonista da Internazionale, que conquistou a Liga Europa.
Matthäus cresceu na fase eliminatória do torneio, marcando nas quartas, semifinais e na decisão, diante da Roma. Outro rival que sofreu com Matthäus naquela temporada foi a Juventus, que perdeu o clássico em Milão. Mas a equipe nerazzurri ficou apenas em terceiro naquela Serie A.
Os números de Matthäus nunca mais foram os mesmos. E nem ele próprio. Em 1992, o craque sofreu grave lesão no joelho, que o tirou da Euro daquele ano, que acabou com título da Dinamarca. O meia acabou optando por voltar para Munique.
Passou a atuar mais recuado, como líbero, seguindo o exemplo de Beckenbauer. Entre uma lesão e outra, seja no joelho ou no tendão, ainda voltou a ser campeão alemão quatro vezes e duas da Copa da Alemanha, além de faturar a Supercopa.
Despedida nos EUA
O título que faltou no currículo de Matthäus foi a Liga dos Campeões. Mas foi no torneio que o craque fez seu último jogo pelo Bayern de Munique. Mesmo sem ser campeão, Matthäus se despediu da Champions com estilo. Titular, acabou participando da goleada do Bayern de Munique sobre o Real Madrid, de Roberto Carlos e Raúl, em março de 2000.
O craque deixou de vestir a camisa 10 do Bayern no mesmo ano, quando optou por encerrar a carreira nos Estados Unidos. Na Major League Soccer, vestiu a camisa 10 do New York Red Bulls, mas acabou eliminado na semifinal pelo Chicago Fire de Hristo Stoichkov. Foi um encontro de gênios, que marcou o último jogo do gênio alemão.
Matthäus ainda tentou carreira como treinador, e chegou a ter brevíssima passagem no Athletico Paranaense. Mas ficará marcado mesmo por sua técnica diferenciada, um mágico no meio dos "trabalhadores" alemães.