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Adolpho Milman: A lenda do russo-argentino que defendeu o Brasil

Texto por Paulo Mangerotti
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Quantos jogadores estrangeiros defenderam a seleção brasileira na história? Essa resposta sempre encontrará um ponto de discordância. Não há unanimidade porque simplesmente não existem provas cabais para o fato. O elemento chave dessa polêmica é Adolpho Milman, ex-atacante e ídolo do Fluminense de origem "desconhecida".

Adolpho Milman, chamado nos tempos de jogador de Russo, era filho de imigrantes judeus europeus. A família de Russo seria de uma localidade à época pertencente a União Soviética, atual Rússia, mas em um território hoje correspondente ao que é a Ucrânia - há também relatos dúbios de que a origem fosse o Afeganistão. Como se a confusão já não fosse bastante, os pais de Milman não migraram diretamente para o Brasil, mas para a Argentina, na região de Entre Ríos, relativamente próxima à fronteira com o Brasil.

“Era misterioso sobre o seu passado”, disse certa vez seu filho, Fernando Magalhães Milman, em entrevista ao jornalista Lourenço Cazarré.

Sem documentos que comprovem a cidade de nascimento do ex-atacante, a lenda criou-se e sustentou-se. A versão menos aceita é de que Russo fosse, de fato, russo, apesar da origem de seus pais. A principal questão que fica sem resposta, quase 100 anos depois do jogador defender a seleção brasileira, é sobre se ele nasceu na Argentina ou no Rio Grande do Sul, em Pelotas, onde comprovadamente passou parte de sua infância. Os irmãos de Adolpho Milman, inclusive, teriam nascido na cidade, onde a família se estabeleceu pelo trabalho em uma fábrica de tecidos.

Nacionalidade do gol

Toda a história de Russo, apesar de despertar uma inerente curiosidade, não se diferencia de tantos outros imigrantes europeus que se mudaram para a América do Sul no início do século passado. O que tornou Adolpho Milman especial foi sua capacidade de balançar as redes, como um artilheiro implacável que foi de Pelotas ao Rio de Janeiro, e vestiu até a Amarelinha.

O início de carreira de Russo foi no Pelotas, onde participou do Campeonato Gaúcho de 1933, torneio este vencido pelo Sport Club São Paulo, de Rio Grande. Na década de 1930, o futebol era um esporte amador e raramente a principal ocupação de um profissional e, por isso, a atuação de Russo não era popular entre sua família. Para seguir seu desejo de ser jogador de futebol, o atacante se mudou para o Rio de Janeiro e encontrou oportunidade no clube que era uma das principais potências do futebol brasileiro: o Fluminense.

"Meu pai fugiu de casa para jogar futebol, com 15, 16 anos, rompido com o pai. Deve ter sido rompimento sério, porque nunca mais voltou, nunca mais falou. E não falava sobre esse assunto. E aí Russo, criou-se. Eu também, convivi pensando que ele tivesse nascido lá, naquela região, Cazaquistão, Afeganistão... Até porque os traços dele são mesmo daquela região. Mas o fato é que certeza ninguém tinha", disse em outra oportunidade Fernando Magalhães Milman, desta vez em entrevista ao ge.

Pelo Flu, Russo rapidamente fez sucesso. Em números gerais, que contabilizam também os torneios amistosos de grande valor naquela época, Russo marcou 155 gols pelo Tricolor e notabiliza-se como um dos 10 maiores artilheiros da história do clube. O atacante foi tetracampeão Carioca, um desses torneios valeu a participação no Torneio dos Campeões da FBF, posteriormente reconhecido como primeiro Campeonato Brasileiro pela CBF, e foi vencedor também do Torneio Rio-São Paulo de 1940.

O bom desempenho de Russo pelo Fluminense não passou despercebido na época. O time das Laranjeiras era comumente utilizado como base para a seleção brasileira, num contexto em que poucos jogadores fora dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo compunham o time. Russo participou da Copa América de 1942, disputada no Chile, e que terminou vencida pelo Uruguai. O ex-atacante disputava posição com outra lenda, Sylvio Pirillo, artilheiro e ídolo do rival Flamengo.

A carreira de Russo como jogador ainda teve um capítulo na França, o que dividiu seu período no Fluminense em dois. Entre 1933 e 1937, logo após deixar o Pelotas, e entre 1939 até sua aposentadoria em 1944. Na França, Russo jogou pelo Cercle Athlétique de Paris Charenton, um clube de relativo sucesso no país na década de 1930, mas que abandonou o futebol profissional no início dos anos 1960. A estadia do jogador em Paris, no entanto, foi encurtada em razão da Segunda Guerra Mundial e pelo avanço da Alemanha Nazista de Hitler, que apoiava um genocídio justamente contra famílias judaicas, como a do próprio Russo.

Adolpho Milman nunca abandonou o futebol. Depois de aposentar-se como jogador, Russo ainda virou treinador e comandou o próprio Fluminense na década de 1950. Além de ter jogado na seleção brasileira, Russo trabalhou por anos como supervisor da Canarinha, deixando o cargo pouco antes do tri na Copa do Mundo de 1970. O ex-artilheiro faleceu em 1980 e deixou um legado envolto em seu mistério. Independente de brasileiro, russo ou argentino, Russo foi um craque de seu tempo que comprovou que sua nacionalidade era o futebol.

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