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    Carlitos Tévez: A lenda de Fuerte Apache

    Texto por Paulo Mangerotti
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    Pode parecer irônico, mas a maior conquista de um dos maiores vencedores da história do futebol não é um título. Não é a Liga dos Campeões, ou os campeonatos nacionais que colecionou por Argentina, Brasil, Inglaterra e Itália. Não é sequer o ouro Olímpico. Não é porque não faria sentido sê-lo, ainda que pudesse se gabar, de fato, tê-lo conquistado. Carlos Alberto Martínez Tévez, o Carlitos, sabe bem quando se tornou um verdadeiro vencedor na vida. Foi no dia em que se tornou uma lenda em Fuerte Apache.

    Tévez, nascido 5 de fevereiro de 1984, é natural de Ciudadela, cidade localizada na região metropolitana de Buenos Aires e que abriga Fuerte Apache, uma das maiores e mais perigosas favelas da Argentina. A lenda de Carlitos por lá não se propagou (apenas) porque um semelhante se tornou um craque, uma personalidade vencedora e querida pelo país. É que Tévez nunca esqueceu suas origens.

    Cria do Boca Juniors, Tévez protagonizou em 2005 a maior transferência da história do futebol brasileiro - que só viria a ser ultrapassada mais de uma década depois. A maior joia dos Xeneizes no início do Século XXI deixou a Argentina para jogar no Corinthians, num negócio avaliado em 20 milhões de dólares, à época cerca de R$ 60,5 milhões. Com o primeiro grande salário da carreira em mãos, Tévez voltou até Fuerte Apache e entregou nas mãos de tios e primos 10 chaves. O atacante comprou casas para todos familiares, numa oferta de oportunidade de uma vida melhor. O que Tévez é fora de campo diz muito sobre quem ele foi dentro dele.

    O primeiro amor

    Antes de protagonizar a venda milionária do Boca para o Corinthians, Tévez surgiu como um fenômeno em La Bombonera. Aos 17 anos, Carlitos estreou pelo clube, em um jogo do Campeonato Argentino contra o Talleres. 

    Da estreia à idolatria não tardou muito. O primeiro jogo de Tévez como profissional aconteceu em outubro de 2001 e menos dois anos depois, em 2003, o atacante já se sagrava campeão Mundial e da Copa Libertadores como peça-chave do Boca. Não por acaso, com 19 anos, foi um dos jogadores mais jovens a vencer a premiação de Rei da América.

    A primeira passagem pelo Boca durou três temporadas e meia, para além da Copa Libertadores, o atacante levantou ainda o primeiro dos 10 campeonatos nacionais que viria a ganhar na carreira, e a Copa Sul-Americana. Os títulos renderam ao jovem Tévez o segundo reconhecimento como Rei da América e a transferência para o Corinthians, onde capitaneou o projeto da MSI de Kia Joorabichan.

    Cumbia no Brasileirão

    Tévez chegou no Corinthians como a grande estrela de uma leva de contratações que prometiam elevar o patamar do Timão. Com o investimento da MSI, grupo de investimento britânico, o argentino desembarcou em São Paulo junto de várias promessas e jogadores de renome: Roger Flores, Carlos Alberto, Nilmar, Gustavo Nery, Javier Mascherano e Sebá Domínguez foram as principais contratações à época. 

    A transferência para o futebol brasileiro pode ser difícil de ser contextualizada no presente, mas é fácil de se imaginar o tamanho do negócio. A principal estrela do futebol argentino, recém-vencedor e artilheiro da Olimpíada pelos hermanos, deixou o clube mais popular da Argentina para jogar em um dos mais populares do Brasil. E Tévez não se intimidou por um momento sequer.

    Carlos Tévez
    Corinthians
    Total
    76 Jogos  6688 Minutos
    46   12   3   02x
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    Em 2005, o craque argentino protagonizou um dos (senão o) grandes anos de um jogador estrangeiro no futebol brasileiro. Tévez levou o Corinthians ao título brasileiro, com incríveis 31 gols na temporada, que acabou por ser a mais artilheira de sua carreira. Jovem, mas com muita personalidade, o atacante encantou o Brasil com a cumbia, curiosa dança que apresentou ao país, e pareceu se sentir em casa no Corinthians. De quebra, acabou por ser pela terceira vez seguida Rei da América, igualando um feito que apenas Eliás Figueroa havia conquistado.

    A história do jogador no Brasil foi encurtada, se encerrando em meados de 2006. Em meio à uma relação turbulenta entre MSI e Corinthians, o atacante acabou por se desentender com a torcida corintiana ao fazer um gol e comemorar com um gesto de silêncio. O Corinthians, então campeão brasileiro, vivia má fase a impiedosa Fiel não perdoava com as críticas, apesar de poupar o ídolo Tévez. O gesto de silêncio acabou com a boa relação, e o jogador se transferiu às pressas, no último dia da janela de transferências, para a Inglaterra.

    Campeón, campeão, champion, campione...

    A porta de entrada de Tévez no futebol europeu foi modesta. O West Ham foi quem abrigou Tévez e Mascherano na "fuga" dos jogadores da MSI do Corinthians. Os Hammers que perdoem, mas foram apenas uma ponte para voos do tamanho do ídolo argentino.

    Na temporada 2007/08, Tévez chegou ao Old Trafford para vestir a camisa do Manchester United de Sir Alex Ferguson. Logo de cara, ganhou a titularidade num time que jogaria ao lado de um esquadrão formado por lendas como van der Sar, Ferdinand, Giggs e Scholes, além dos jovens contemporâneos Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney.

    No United, Tévez foi campeão Mundial e da Liga dos Campeões em seu primeiro ano, além de ter se sagrado também bicampeão da Premier League. Nos Red Devils, a história se encerrou com 99 jogos disputados e 34 gols marcados, com um improvável e polêmico movimento de mercado. O argentino "pulou a cerca" e foi buscar louros no rival City.

    Mesmo que tenha trocado o Manchester United pelo Manchester City, é fácil notar que Tévez é um caso raro de idolatria compartilhada. Não há rancor dos Red Devils nessa relação, ainda que o atacante tenha se dedicado por mais anos ao lado azul da cidade.

    Nos Cityzens, Tévez fez parte do time que tirou o clube de uma fila de 43 anos sem título do Campeonato Inglês. Na temporada 2011/12, Tévez integrou o elenco vencedor da Premier League, e antes disso conquistou também a Copa da Inglaterra. Foram 148 jogos e 73 gols em quatro temporadas, que só não foram mais vencedoras porque o argentino fez parte do início do processo de investimento e reformulação do Manchester City. Anos depois de sua saída, o clube iniciou a Era mais vitoriosa de sua história.

    Já caminhando para se tornar um veterano, aos 30 anos, Tévez foi completar sua saga vencedora na Itália. Com muita moral, o argentino foi recebido em Turim com a camisa 10, e em dois anos entregou a mesma explosão que se tornou sinônimo de seu futebol. Grande velocidade e uma corrida vertical rumo ao gol renderam dois títulos italianos, uma Copa da Itália e um amargo vice da Champions League. Assim como na segunda temporada pelo Manchester United, Tévez perdeu uma Liga dos Campeões para o Barcelona.

    Mesmo destaque daquela Juve, sendo o principal goleador do clube nas duas temporadas que passou por lá (50 gols), o craque já dava sinais de cansaço, não da vida de atleta, mas da distância de casa.

     

    O retorno para La Bombonera

    É difícil explicar para um europeu porque jogadores como Tévez, Adriano ou outros tantos exemplos optam por retornar para a América do Sul quando ainda seriam competitivos no "mais alto padrão". É que o futebol não se explica apenas por esse senso de competitividade (subjetivo), mas também pela paixão.

    Em 2015, Tévez retornou para casa, no Boca Juniors, e deu continuidade naquela relação interrompida precocemente quando foi para o Corinthians. Em mais seis anos de Boca, o atacante acabou alcançou 281 jogos pelo clube de coração, com veia goleadora ímpar que o deixou próximo dos 100 gols (95).

    O retorno foi tão vencedor quanto lá no início de carreira, ainda que não tenha completado o sonho de voltar a ser campeão da Libertadores. Tévez foi tetracampeão argentino, muitas vezes já sem o protagonismo em campo, mas como figura de referência e idolatria.

    Ao contrário de toda sua trajetória vencedora, de forma ingrata, pela seleção argentina a única conquista de Tévez foi aquela Olimpíada de 2004. O atacante fez parte de uma das gerações que viveram um jejum de 28 anos sem título da seleção. Com a camisa albiceleste, o atacante disputou duas Copas do Mundo e três Copas América. Mesmo sem título, Tévez é uma figura histórica também de seu país, certamente um dos maiores ídolos que passou por ela sem uma conquista oficial. Azar dos louros. Na Argentina, ou pelo menos em Fuerte Apache, a maior delas já havia sido entregue há muito tempo.

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    Carlos Tévez (ARG)
    Carlos Tévez (ARG)

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