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      Richarlyson: O multicampeão que não teve o nome cantado

      Texto por Paulo Mangerotti
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      O estádio lotado, o nome entoado, a marca na história de um clube, a idolatria... Quem nasceu para o futebol, invariavelmente, sonha por esses momentos, mas é algo reservado para poucos. Normalmente, a longevidade, a entrega dentro de campo e os títulos são resultado (quase) infalível para elevar um atleta ao patamar tão desejado. Richarlyson preencheu todas as lacunas, mas nunca esteve apto a passar no teste. Fora dos padrões do futebol, o meia, o volante, o lateral, o polivalente jogador chegou até a seleção brasileira, mas ficará para sempre marcado por sua sexualidade.

      Richarlyson nasceu não só para o futebol, mas do futebol. Filho de Lela, histórico atacante campeão brasileiro pelo Coritiba, e irmão mais novo de Alecsandro, centroavante com longo currículo no futebol nacional, Richarlyson estava intrinsecamente ligado ao esporte que custou aceitá-lo.

      Conquistas e superações

      A história de Richarlyson no futebol, desde o princípio, é marcada pelo infeliz equilíbrio entre os troféus e a constante superação de "polêmicas" às quais seu nome esteve relacionado. Revelado pelo Santo André, o lateral foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior por um clube que vivia momento de ascensão na esfera nacional. E não demorou para ganhar um rápido reconhecimento.

      Depois daquela Copa São Paulo, Richarlyson se transferiu para o Fortaleza e pouco depois para o futebol europeu, onde jogou pelo Salzburg, da Áustria. Menos de dois anos depois passar por esses clubes, ele voltou para o Santo André, recém-campeão da Copa do Brasil, campanha da qual não fez parte.

      Bastaram poucos jogos em 2005, menos de um semestre, para Richarlyson se tornar alvo de um dérbi no estado de São Paulo: Palmeiras, Santos e São Paulo disputavam sua contratação. Deste episódio surgiu em esfera nacional a especulação que jamais deixaria de acompanhá-lo: a insinuação de um então dirigente do Palmeiras de que o jogador seria homossexual.

      Richarlyson, na época, optou por defender o São Paulo e não o Palmeiras. Tal decisão causou insatisfação da diretoria palmeirense, que já teria um acordo encaminhado com o jogador. A não-concretização do negócio e a semente da polêmica plantada deu frutos a perder de vista.

      No São Paulo, Richarlyson fez parte de uma das gerações mais vitoriosas do clube. Em 2005, o jogador não chegou a fazer parte do elenco campeão da Copa Libertadores, pois já havia disputado o torneio pelo Santo André, mas esteve no título do Mundial de Clubes contra o Liverpool, quando foi reserva. Nos anos seguintes, o aguerrido e polivalente jogador foi um coringa sob o comando de Muricy Ramalho, ajudando o Tricolor Paulista a estabelecer uma hegemonia no futebol brasileiro.

      De 2006 a 2008, o São Paulo conquistou o tricampeonato brasileiro, se tornando o primeiro clube a conseguir esse feito no contexto moderno do futebol nacional. Antes, apenas o Santos de Pelé havia levantado três troféus seguidos, na época Taça Brasil. Richarlyson foi fundamental ao longo de todos esses anos, e não por acaso foi um dos oito jogadores que participaram de todas as conquistas. Além do lateral, Rogério Ceni, Bosco, André Dias, Miranda, Alex Silva, Júnior e Aloísio também conseguiram o tri.

      Ainda que vivesse, dentro de campo, o auge de sua carreira, Richarlyson nunca conseguiu a plenitude fora das quatro linhas. No São Paulo, mesmo integrante fundamental de uma Era gloriosa, viu repetidamente ao longo dos anos seu nome ser pulado na tradicional saudação aos jogadores antes dos jogos. Por que? Pelo simples fato, à época, de supostamente ser gay. Richarlyson foi campeão, mas não colheu as glórias como os semelhantes.

      Por mais que o futebol parecesse ignorar Richarlyson, o alto rendimento do jogador era difícil de passar despercebido. Em 2008, o lateral recebeu o chamado da seleção brasileira - para alguns tardio -, e participou de dois amistosos. Richarlyson não voltou a ser chamado pela seleção, mas foi o único de sua família a conseguir isso em nível profissional. Lela, seu pai, foi jogador da seleção na categoria de base.

      Em 2011, depois de mais de 200 jogos pelo São Paulo, Richarlyson deixou o Morumbi. O destino foi o Atlético Mineiro, onde por três anos apresentaria grande regularidade. No Galo, Richarlyson encontrou o irmão Alecsandro pela primeira vez na carreira e, juntos, foram campeões da Copa Libertadores. O atacante deixaria o Atlético no ano seguinte, mas o lateral esquerdo seguiria para outras conquistas, entre elas a Recopa e a Copa do Brasil.

      Quando deixou o Atlético, em 2014, Richarlyson passou a ser um andarilho da bola. Teve vôos menores, e mesmo assim os problemas não fugiram de seu roteiro. Depois de passar por Vitória, Grêmio Novorizontino e Goa (Índia), o jogador chegou como grande contratação para o Guarani. Multicampeão e com currículo robusto, Richarlyson foi recebido com um ataque de bombas. A razão seria a homossexualidade do jogador.

      Richarlyson só viria, de fato, se revelar bissexual em 2022, um ano depois de encerrar sua carreira. Antes disso, o jogador ainda teria passagens de menos destaque por Cianorte, Noroeste, Campinense e America-RJ.

      "A vida inteira me perguntaram se sou gay. Eu já me relacionei com homem e já me relacionei com mulher também. Só que aí eu falo hoje aqui e daqui a pouco estará estampada a notícia: 'Richarlyson é bissexual'", disse o jogador, em entrevista que revelou sua opção sexual.

      "Pelo tanto de pessoas que falam que é importante meu posicionamento, hoje eu resolvi falar: sou bissexual. Se era isso que faltava, ok. Pronto", afirmou.

      E foi assim, numa entrevista publicada em 24 de junho de 2022, Richarlyson entrou para a história. Foi o primeiro jogador que já vestiu a camisa da seleção brasileira a se declarar bissexual. Na verdade, permita a correção. Richarlyson há muito tempo é parte da história do futebol, do São Paulo e do Atlético Mineiro. Richarlyson não teve seu nome cantado como mereceu ao longo da carreira, mas seu grito na entrevista ecoará pela eternidade.

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      Richarlyson (BRA)

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