Matthias Sindelar, o 'Mozart do Futebol'

Do "Futebol dos Cafés" veio um dos grandes jogadores da história do futebol. Sem ter jogado em um gigante da Europa. Ou mesmo sem ter vencido uma Copa do Mundo. Os desafios e os títulos que faltaram em sua carreira não ofuscam as qualidades, e os feitos, de Matthias Sindelar, o "Mozart do Futebol". 

Sindelar foi revolucionário como era a proposta de futebol da "Escola do Danúbio". Tanto a Áustria, quanto a Hungria eram a antítese do jogo físico, viril e pragmático dos ingleses, então os deuses do futebol no início do século XX. 

Como conta o escritor austríaco Friedrich Torberg, em trecho reproduzido em A Pirâmide Invertida, Sindelar "era dotado de uma variedade de repertório e ideias tão inacreditável que ninguém podia ter certeza de que tipo de jogada esperar. Ele não obedecia a nenhum sistema, a nenhum padrão definido. Tinha apenas… genialidade". 

Sindelar nasceu na Morávia, que passou a ser território da República Tcheca, em 10 de fevereiro de 1903, e imigrou com a família para os subúrbios de Viena. Na rua, aprendeu seus truques no futebol. 

Começou a carreira no Hertha de Viena, e se mudou, em 1926, para o Wiener Amateur-SV, que mais tarde se tornaria o Austria Viena. No mesmo ano, foi chamado por Hugo Meisl, um dos mais lendários treinadores austríacos, para a seleção nacional. 

Sindelar foi campeão austríaco e da Copa da Áustria em 1926. Nos anos seguintes, passou a figurar com regularidade na seleção, mas Meisl o demorou a dar a titularidade. 

Ela só veio em 1931. O atacante confirmou sua titularidade com grande exibição em goleada sobre a Escócia. Mas o grande feito ficou para o ano seguinte. 

A Áustria desafiou a Inglaterra em Wembley e até perdeu por 4 a 3, mas foi um rival duríssimo e Sindelar foi protagonista. O atacante fez um golaço, e deixou perplexo até o árbitro da partida, o senhor John Langenus. 

"O gol de Sindelar foi uma verdadeira obra de arte, um feito que ninguém conseguiria alcançar contra um adversário como os ingleses. Nem antes nem depois dele. Sindelar pegou a bola no meio campo e disparou com a sua incomparável elegância, driblando tudo o que lhe aparecia pela frente, e concluiu empurrando a bola para o fundo da baliza", relatou o apitador belga. 

Em 1934, Sindelar jogou sua primeira, e única, Copa do Mundo. O Wunderteam era o favorito para o título, pelo futebol que jogava. Sindelar marcou o primeiro gol dos austríacos na Itália, na estreia contra a França, que ficou pelo caminho na prorrogação. 

Os austríacos derrubaram ainda os rivais do outro lado do Danúbio, a Hungria, mas acabaram derrotados pela seleção local, a Itália, que venceu com uma arbitragem contestadíssima do sueco Ivan Eklind. 

Mesmo com a eliminação, Sindelar seguiu na seleção austríaca depois da Copa e conquistou um outro grande feito em 1936: superou a Inglaterra, em Wembley, com a inteligência e o posicionamento de Sindelar, que abriu a defesa inimiga ao arrastar John Barker de sua posição. 

Sindelar se despediu da seleção austríaca em 1938. Foi no jogo que marcou a festa pelo retorno da Áustria ao domínio alemão. Sindelar carregava com ele um ódio daquela Alemanha nazista, e em campo humilhou o adversário. Chamado a vestir as cores da seleção alemã, se recusou. 

O atacante se aposentou no mesmo ano, e morreu apenas um ano depois. Sua morte foi misteriosa. Apesar de o relatório da polícia na época ter indicado a causa como um vazamento de gás na casa em que dormia com sua namorada, indícios dão conta que o ex-jogador estava na mira dos nazistas. O craque revolucionário teve um fim trágico.