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    1987: A polêmica Copa União

    Texto por Rodrigo de Brum
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    A mais polêmica das edições da história do nacional, o Brasileiro de 1987 segue em discussão mesmo 33 anos depois do seu término. O Flamengo faturou o título do torneio organizado pelo recém-fundado Clube dos 13, a Copa União - que também ficou conhecida como o Módulo Verde do Brasileiro. Ao mesmo tempo, o Sport levou a melhor no Módulo Amarelo depois de um bizarro empate nos pênaltis com o Guarani. No entanto, o cruzamento entre as equipes dos diferentes módulos, previsto em um regulamento para lá de controverso, nunca aconteceu por divergências entre o Clube dos 13 e a CBF.  O Leão acabou por vencer o Bugre em nova final e sagrou-se campeão nacional. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal definiu o Sport como o único campeão, enquanto a CBF incluiu a Copa União no rol de títulos do Flamengo, mas não contabiliza o clube como heptacampeão brasileiro por conta da decisão judicial.

    Entre 1980 e 1986, o campeonato nacional contou com 40 clubes na divisão de elite. A CBF tinha planos iniciais para uma remodelação do formato, e chegou a ser discutida uma diminuição para 24 times em 1987. A confusão quanto ao modelo se arrastou e a entidade até alegou não ter condições financeiras para organizar a peleja nos moldes anteriores. Na mesa, propostas como a regionalização e negociações com os clubes para discussão de quem arcaria com despesas logísticas.

    Com a indefinição da CBF, Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco fundaram o Clube dos 13. A intenção era disputar um torneio próprio, com organização feita pelos clubes. O novo torneio se chamaria Copa União, e contaria com 16 clubes.

    O corte no número de clubes gerou insatisfação, como não poderia deixar de ser - o Guarani, vice-campeão em 86, ficou de fora da Copa União. A CBF acabou por encontrar uma solução para organizar o seu campeonato: acatou o torneio do Clube dos 13 como oficial, mas estabeleceu no regulamento mais um módulo de 16 clubes. Os dois módulos ficariam conhecidos como Verde e Amarelo, e no final haveria um cruzamento entre os finalistas de ambos. Publicamente, o Clube dos 13 descartou a possibilidade de cruzamento. Porém, Eurico Miranda, como representante dos clubes junto a CBF, assinou o regulamento, embora tenha sido desautorizado por outros membros da entidade.

    Nem mesmo o nome do torneio escapa da confusão. Inicialmente, a competição se chamaria Copa Brasil. O nome Copa União é, na realidade, relativo ao torneio organizado pelo Clube dos 13. Os módulos Verde e Amarelo oficialmente se chamavam "Troféu João Havelange" e "Troféu Roberto Gomes Pedrosa". No entanto, o nome de Copa União foi o que pegou.

    Quando Internacional e Flamengo disputaram a final da Copa União (Módulo Verde), ambos reforçaram que não disputariam o quadrangular final. E não o fizeram.

    O caminho do Flamengo

    Depois de um primeiro turno irregular, o Flamengo começou a ganhar corpo na reta final do primeiro turno do Módulo Verde. Com três triunfos diante de Palmeiras, Bahia e Santa Cruz, além de um empate com o Atlético Mineiro, o Rubro-Negro garantiu lugar nas semifinais da Copa União.

    Então, a estrela do atacante Bebeto brilhou mais forte. Depois de marcar apenas dois gols nos dez primeiros jogos que disputou no torneio, o atacante engrenou na hora decisiva. Ele fez o gol da vitória na primeira partida semifinal contra o Atlético. No jogo de volta, vitória do Flamengo por 3 a 2, com outro gol de Bebeto.

    A história se repetiria também na decisão contra o Internacional, que havia eliminado o Cruzeiro do outro lado da chave. No Beira-Rio, empate por 1 a 1. Bebeto fez o primeiro gol do confronto e Amarildo deixou tudo igual e a disputa aberta no jogo da volta, no Maracanã.

    E o atacante do Flamengo seguiu inspirado. Logo aos 16 de jogo na finalíssima, Bebeto recebeu de Andrade e tocou na saída de Taffarel. Com mais qualidade técnica, o Mengão segurou o resultado e garantiu o título.

    "Ainda não entendi. Fui certo de que abafaria aquela bola. De repente, surgiu o pé do Bebeto. Mérito total dele", declarou Taffarel após a derrota. Em êxtase, Bebeto pouco disse depois do título: "Dedico o gol e o título a Denise, minha mulher. É demais", declarou o atacante, aos prantos. 

    Em entrevista para oGol, o ex-volante Flávio Campos reconheceu o papel decisivo de Bebeto na decisão. Ainda assim, considera Zico ainda era o principal atleta do elenco.

    "Sou até suspeito para falar do Bebeto. Era meu companheiro de quarto, um grande amigo do futebol. Ele ia se firmar como grande atacante naquele ano e, anos depois, seria titular da seleção e nos daria o título do mundo. Grande atleta, grande pessoa. Veloz, rápido, dinâmico. Eu não diria que ele foi o grande nome do Flamengo, porque o grande nome foi o Zico, enquanto esteve em campo. Mas o Bebeto foi o grande personagem. Assim como o Renato, e tantos outros" declarou Flávio.

    Naquele ano, Zico era preservado em diversas partidas do Flamengo por conta de uma lesão no joelho. Com isso, o jovem Flávio Campos, aos 22 anos, tinha a responsabilidade de substituir o Galinho em vários jogos e falou da emoção vivida na época.

    "Importante foi, não só o título, mas eu estar ao lado de um dos meus maiores ídolos, que é o Zico. Era meu início de carreira, eu saindo do Olaria, contratado pelo Flamengo, saindo do subúrbio, querendo ser alguém na vida, e de repente estar entre monstros do futebol, como Renato Gaúcho, Zico, Leandro, Edinho, Leonardo, que era menino na época, mas se tornou grande jogador, Nunes, Andrade, Zinho, Zé Carlos, o Goleiro, Jorginho, Adalberto, Aílton. O Zico já estava com uma idade avançada, vinha de uma lesão no joelho. Ali ele foi cuidado com muito carinho, e foi extremamente importante para o título de 87.

    A trajetória do Sport

    Na disputa do Módulo Amarelo, o Sport fez campanhas sólidas tanto na primeira, como na segunda fase. O Leão liderou seus grupos em ambas e chegou às semifinais como equipe de maior pontuação nas duas primeiras partes da disputa.

    Mas o Sport começou em dificuldade nas semis. No Rio de Janeiro, o Bangu levou a melhor na partida de ida com vitória por 3 a 2. No segundo jogo, porém, a história se inverteu. Com gols de Zico, Betão e Nando Lambada, o Sport garantiu vaga na final com o placar agregado de 5 a 4.

    Já na final, o adversário seria o bom time do Guarani, que eliminou o Atlético Paranaense apenas na prorrogação após dois jogos de empate em 0 a 0. Marco Antonio Boiadeiro foi o autor do gol decisivo.

    Novamente, o Sport de Recife saiu atrás na eliminatória. No Brinco de Ouro, com gols de Evair, o Guarani abriu uma bela vantagem para a partida de volta.

    Contudo, o Sport conseguiu dar a volta a essa desvantagem. Nando Lambada, duas vezes, e Zé Carlos Macaé, deram à vitória aos recifenses. A decisão seria nos pênaltis. De fato, seria.

    Isto porque com o placar empatado em 11 a 11 nas penalidades, Sport e Guarani decidiram encerrar a disputa e 'dividir' o título - no fim o Bugre abdicou do troféu simbólico. A intenção dos dois clubes era disputar o cruzamento de módulos com Internacional e Flamengo. Ser campeão do Módulo Amarelo era apenas uma formalidade.

    Sport e Guarani 'repetem' final

    A CBF até marcou as partidas do quadrangular com Sport, Guarani, Inter e Flamengo mas, como já explicado, os dois últimos se recusaram a realizar o enfrentamento com os clubes do Módulo Amarelo. Vitoriosos por W.O., Sport e Guarani repetiram a dose, com mais duas partidas para, enfim, definir o Campeonato Brasileiro.

    A primeira partida foi disputada em Campinas. O Sport saiu na frente com Betão, em cobrança de pênalti, e Catatau deixou tudo igual para o Guarani também em penalidade máxima.

    Já na Ilha do Retiro, o placar seguia em igualdade por 0 a 0 até os 19 da etapa final. Após cobrança de escanteio, o zagueiro Marco Antonio subiu mais alto do que a defesa do Bugre e, de cabeça, marcou o gol do título do Leão da Ilha. Sport 1, Guarani 0. 

    O duelo que nunca aconteceu

    A eterna discussão continua em 2020. Quem venceria um hipotético duelo entre Flamengo e Sport? Capitão do time do Leão em 1987, Estevam Soares concedeu entrevista a oGol e reconheceu a maior qualidade do plantel carioca. 

    "O futebol é jogado. Eu acho que entre os 22 jogadores de Sport e Flamengo, os 11 do Flamengo seriam titulares. E acredito que o time deles era muito melhor do que o nosso, mas o jogo é jogado. Uma pena que eles envergonharam o nosso futebol e não apareceram", declarou Estevam.

    Já Flávio Campos discorda e entende que o Flamengo é o campeão de fato em 1987. Segundo ele, desde o início do imbróglio, clubes e jogadores consideraram o Módulo Verde como a principal disputa naquele ano.

    "É muito simples: naquela ocasião, eram módulos por cor. O Flamengo disputava o módulo com os clubes da Série A, e o outro módulo jogavam equipes de menor porte, da Série B. Desde o início, estava definido que a equipe que fosse campeã daquele módulo, seria a campeã e pronto. Os dirigentes e os atletas não entendiam, naquele momento, que para determinar o campeão brasileiro, fosse necessário um confronto entre os módulos. Entendemos que o campeão do módulo do clube dos 13 seria o campeão brasileiro. Depois foi determinado o cruzamento, o Flamengo entendeu que não deveria jogar e essa batalha depois virou algo judicial. Mas a verdade é a seguinte: o campeão brasileiro de 1987, no campo, se chama Clube de Regatas do Flamengo", enfatizou o ex-jogador.

    Campeão brasileiro também com o São Paulo em 1977, Estevam traçou um paralelo entre as duas conquistas. No Morumbi, o zagueiro era um dos mais jovens do elenco, enquanto no Sport, era capitão e exerceu o papel de líder.

    "Até pela experiência de já ter sido campeão brasileiro eu penso que eu tinha um papel de líder maior daquele elenco. Essa final eu joguei, o que não aconteceu em 77 (Foi expulso na semifinal e suspenso para a decisão contra o Atlético Mineiro). Tive a oportunidade de levantar o troféu e isso foi muito bacana", finalizou Estevam Soares.

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