O Boca Juniors chegou na final da Libertadores, na última semana, sem vencer qualquer jogo no mata-mata. Dizer, porém, que o time avançou até a final sem brilho seria uma injustiça. Principalmente com Valentín Barco, jovem promessa argentina que foi uma espécie de luz no fim do túnel para os Xeneize.
A temporada do Boca, até aqui, está longe de ser considerada boa. O time venceu apenas 22 de 51 jogos, e terminou apenas em sétimo o Campeonato Argentino. Na própria Libertadores, o time empatou sete vezes, e venceu apenas quatro. Como visto, nenhuma vitória no mata-mata. Barco, porém, foi o ponto fora da curva.
Não é raro ouvirmos histórias de jogadores sul-americanos com um passado difícil. Em recente entrevista, Carlos Tevez, que teve uma infância de muita dificuldade, relatou que seus comandados chegam a ter dificuldade em somar dois mais dois. Barco também vem de família humilde.
Nascido em Veinticinco de Mayo, uma província de Buenos Aires, começou nas categorias inferiores do Sportivo, de sua província, como atacante. Se tornou um jogador das divisões de base do Boca em 2013, e foi "recuado" para a lateral esquerda.
Barco percorria, no Renault do seu pai, 450 km, de Veinticinco de Mayo a Buenos Aires, quatro vezes na semana, para treinar em La Candela, local da academia de jovens dos Xeneize. Ia com o dinheiro contado.
"Saíamos de La Candela, onde davam a ele um sanduíche e um suco, e pegávamos o carro. Ele me dava metade do sanduíche e dizia: 'Eu sei que você também tem fome'", recordou a mãe de Barco, Patrícia, em uma entrevista ao canal argentino TyC Sports em 2021, celebrando a estreia do filho no time principal do Boca.
Barco passou com destaque pelas categorias de base do Boca, e fez parte das seleções sub-13, sub-15 e sub-20 da Argentina. A história de superação terminou com final feliz para o jovem e sua família.
Valentín Barco estreou no profissional do Boca com apenas 16 anos, em 16 de julho de 2021, contra o Unión, pelo Campeonato Argentino. Foram três partidas até o final da temporada.
O Boca, porém, teve paciência com sua promessa. Barco só voltaria a jogar no time principal em 2023. O jovem passou o resto de 2021 e 2022 todo na equipe "reserva", uma espécie de sub-23.
No time "reserva", Barco chegou a oscilar no início de 2022, ficando algumas partidas no banco de suplente. Mas logo recuperou espaço para não deixar dúvidas de que estaria pronto para a equipe principal na temporada seguinte.
O "recomeço" no profissional aconteceu quase dois anos depois do primeiro jogo, na derrota para o Estudiantes, em 15 de abril desse ano. Dessa vez, Barco entrou no time para não sair mais.
Em 2023, ano em que também disputou o Mundial sub-20 pela seleção argentina, Valentín Barco se firmou no Boca Juniors. São 24 jogos, 22 como titular, com um gol e três assistências.
O número de participação em gols talvez não traduza o protagonismo de Barco no time. Mas os jogos contra o Palmeiras, com a preocupação de Abel de formar a dobradinha entre Mayke e Marcos Rocha para evitar as progressões do ala argentino, realçaram os pontos fortes de Barco.
O jovem lateral atuou, também, adiantado na ponta esquerda. Se o Boca mostrava muita dificuldade para avançar no campo coletivamente, a individualidade de Barco foi uma válvula de escape decisiva. Canhoto, atua no lado esquerdo e mostra muita força no 1 contra 1. Quando aberto, costuma atacar a profundidade.
Mostra versatilidade, também, para aparecer por dentro como referência criativa, com capacidade para criar chances de gol para a dupla de ataque (Merentiel e Cavani, ou Benedetto). Contra o Belgrano nesta terça-feira (10), por exemplo, flutuou mais pelo meio e buscou passes nas costas da defesa.
O bom desempenho com a camisa xeneize e o histórico de seleções de base já colocam Barco na mira de grandes clubes do futebol europeu. O Manchester City, segundo a imprensa inglesa, já enviou representantes para a Argentina para negociar a contratação do lateral, que é visto como a última grande revelação argentina.
Barco não tem contrato longo com o Boca, que busca uma renovação para conseguir valorizar o jogador no mercado. A atenção do futebol europeu, porém, o afasta da Bombonera. Infelizmente para o Fluminense, adversário argentino na final da Libertadores, a saída só deverá se concretizar ano que vem. Até lá, Barco seguirá protagonista com a camisa xeneize.
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