Já são 21 finais e 12 títulos como treinador na Tailândia. Você pode nunca ter ouvido falar neste nome, mas os 56 anos, Alexandre Gama é tido como uma das referências quando o assunto é ser técnico de futebol no país asiático. A história do comandante com a Terra dos Livre, por sua vez, não acaba aqui.
A trajetória de Alexandre é repleta de minúcias e experiências únicas. Desde comandar a estrela do penta Romário no Fluminense em 2004, até desbravar o desconhecido futebol da Tailândia e se tornar referência no país, o comandante prolongou a sua estadia no país e seguirá trilhando a sua trajetória com a prancheta em mãos.
"Foi maravilhoso. Quando o Ricardo Gomes saiu, o presidente Fishel confiou em mim para ser o treinador principal e fomos muito bem, peguei o time na 19ª posição da Série A. Fizemos uma recuperação muito boa e acabamos na 9ª posição, classificados para Copa Sulamericana", disse Alexandre em entrevista ao oGol sobre o início como treinador, em 2004.
No Flu, Gama teve a honra, ou desafio, de comandar Romário. O treinador lembra de quando afastou o baixinho do elenco carioca e teve de amargar as críticas da torcida tricolor depois da polêmica com o atacante do penta.
"Esse é um assunto que até hoje perguntam, nunca esquecem. Eu acho que teve um pouco dos 2, atrapalhou em alguns momentos e também me ajudou a maturar mais rápido", confirmou Gama.
Apesar da memória sobre o começo no Brasil, o treinador carioca sente ressentimento sobre a falta de oportunidades na terra nativa. Não à toa que foi buscar o reconhecimento merecido muito longe do país verde e amarelo, lá na Ásia.
"Sempre falo que se no Brasil quisessem um treinador com trabalho e conquista eu já teria tido alguma chance de voltar. (Hoje em dia) querem só nome e engajamento. Por onde trabalhei entreguei o que me pediram: títulos ou alcançamos o objetivo estipulado", pontuou o comandante.
A chegada na Tailândia foi, aos olhos do próprio Gama, "a consolidação da minha carreira". Depois de bons trabalhos no Brasil até meados de 2011, o cartola resolveu migrar para a Ásia. O destino inicial foi o Buriram United, um dos maiores clubes do futebol tailandês.
"Quando cheguei no Buriram e vi a estrutura e a grandeza, falei que não podíamos falhar nessa trabalho, senti que iria ser bem vitorioso ali e foi o que aconteceu. Ganhei 8 títulos lá e montamos o chamando time invencível em 2015, que ganhou 6 campeonatos sem perder um jogo. Acho que nenhum treinador ficou tanto tempo lá", adicionou Gama.
Depois de quatro anos, Alexandre foi escolhido pelo presidente do Chiang Rai como o tutor de uma nova história. Sem tanta estrutura como no antigo clube, era hora de transformar a equipe em uma potência do futebol tailandês.
"O clube fez tudo que pedi, fizemos um CT completo com 2 campos e com tudo que você pode imaginar, contratamos muitos tailandeses jovens com idade entre 19 a 23 anos que tínhamos observado nos 3 anos antes e trouxe os estrangeiros certos para potencializar esses garotos. Mudamos o patamar do Chiang Rai para o de um time grande", disse o treinador.
Na sequência, assumiu a seleção do país. Mas pouco mais de seis meses depois, um misto de emoções. Deixar a seleção tailandesa para reerguer o gigante Muangthong, que vivia situação delicada no campeonato, a um pedido pessoal de um dos dirigentes, em uma espécie de súplica.
"O Muangthong, um time gigante aqui na Thailandia, estava em último lugar quando acabou o primeiro turno. O diretor do Muangthong me procurou falando que precisava de mim e que só eu podia reverter aquela situacão", adicionou Alexandre.
Depois de tirar o time da lanterna, o treinador levou o clube à quinta colocação. Alexandre considera essa reviravolta como um título. Mais tarde, o futebol coreano, pela imagem do Daegu, convocou Alexandre para um novo desafio, mas as coisas não saíram como planejado.
Depois de pegar Covid e ser expulso por duas partidas na reta final da competição, Alexandre não pôde continuar o trabalho. "Estava indo tudo bem, estávamos sempre entre a sexta e oitava posição da liga o que classificava para os playoffs finais", mas após as complicações, em comum acordo, Gama deixou o cargo. "Covid foi para mim um momento muito ruim. Acabou atrapalhando minha volta a Coreia, que era um sonho grande meu".
Na sequência da aventura no país coreano, Alexandre fechou com o Lamphun Warriors, de volta à Tailândia, onde está até hoje. O desafio é similar ao enfrentado no Chiang Rai, quando o plano era apenas seguir com o clube na elite, mas a aspiração de Alexandre é sempre por mais do que apenas isso.
"Quando cheguei o presidente pediu para manter o time na primeira divisão e conseguimos ficar em 10º lugar. Na temporada passada ficamos na oitava posição e, agora para o próximo ano, queremos melhorar nossa colocação e tentar ganhar uma copa", pontuou Gama.
O comandante renovou o contrato com o clube que treina e não quer deixar a peteca cair. A motivação é por seguir escrevendo a história na Tailândia, aumentar o reconhecimento entre os brasileiros e, quem sabe um dia, retornar ao Brasil para demonstrar que sempre mereceu a chance no país verde e amarelo.
Mas, antes da vontade de ter o nome ecoado no Brasil, Gama foca, principalmente, na sua nova-velha casa. Na Tailândia, o treinador é rei, e não vai abrir mão disso tão fácil.
