O Vélodrome, em Marseille, presenciou uma atuação histórica da seleção brasileira feminina. Pela semifinal dos Jogos Olímpicos, o Brasil atropelou a Espanha por 4 a 1 com uma exibição de gala. Perfeita na marcação, eficiente na armação e letal no ataque, a Canarinho mandou as atuais campeãs mundiais para casa e deu mais um passo rumo ao sonho dourado inédito.
Pela terceira vez na história, o Brasil carimbou a presença em uma final olímpica. Com a chance de uma revanche histórica, a Canarinho enfrenta os Estados Unidos no sábado (10), às 13h, no Parque dos Príncipes, em Paris.
Brasil tem coragem recompensada
A seleção brasileira entrou determinada a fazer história na semifinal olímpica. Diferente do primeiro confronto contra a Espanha, quando o Brasil acabou atropelado ofensivamente pelas campeãs mundiais, desta vez, Arthur Elias colocou à prova o talento brasileiro e apostou em uma postura agressiva na marcação e na criação.
Nos primeiros minutos, a seleção espanhola não respirou. Quando teve a posse, a Fúria foi marcada de perto pelas brasileiras. Sem a bola, as europeias sofreram com a verticalidade do trio ofensivo formado por Priscila, Gabi Portilho e Jheniffer.
O Brasil causou incômodo nas campeãs mundiais e forçou erros defensivos. Logo aos cinco minutos, a primeira falha não foi perdoada. Após recuo para Cata Coll, Priscila apertou na marcação e obrigou a goleira a um chute errado, que desviou na atacante brasileira e explodiu nas costas da zagueira Paredes, voltando contra a própria meta espanhola.
A falha inusitada aumentou o nervosismo das europeias e deu a primeira amostra de um acerto na estratégia brasileira. Durante os 15 minutos iniciais, Ludmilla e Jheniffer receberam boas chances de dentro da área para aumentar o placar, mas não capricharam no arremate.
Aos poucos, a Espanha começou a entrar na partida e encurralar a Canarinho no campo de defesa. Com uma marcação sólida e sempre agressiva, o Brasil dificultou a chegada perto da grande área. Tarciane parou a melhor do mundo Bonmatí, Angelina se dividiu em três ocupando todos os lados do campo e Lorena foi mais uma vez segura defendendo todas as ameaças adversárias.
Apesar da Espanha rondar perigosamente a intermediária brasileira, as melhores oportunidades continuaram caindo nos pés da Canarinho. Na primeira chance de ampliar o placar, Priscila ficou cara a cara com Coll e errou o alvo no chute. A atuação madura e confiante da seleção não se deixou abalar com a oportunidade desperdiçada e continuou correndo atrás do segundo gol.
Com quatro minutos acrescidos no desconto, a seleção europeia ensaiou uma blitz final para tentar o empate, mas acabou surpreendida mais uma vez. No último lance do primeiro tempo, Yasmin achou cruzamento açucarado e Gabi Portilho, heroína nas quartas de final, empurrou para as redes. 2 a 0 para o Brasil!
Maturidade para definir e disciplina para defender
A dedicação tática e a intensidade física da seleção brasileira continuaram intactas na volta do intervalo. Sem deixar o ritmo cair, o Brasil não recuou e seguiu trocando golpes com as espanholas. Com a bola no chão, Gabi Portilho perdeu a chance de marcar o terceiro. Pelo alto, Jheniffer também ficou no quase.
A Espanha também mostrou a qualidade de uma campeã do mundo e usou todas as suas forças para embalar uma pressão. Em chute de longa distância, na bola parada, com infiltração pelas pontas, as europeias apresentaram um repertório de alternativas e não conseguiram superar a marcação verde-amarela.
O Brasil não tirou o pé do acelerador em nenhum minuto. O combustível canarinho parecia interminável e, nos contragolpes, a seleção brasileira atropelava a Espanha. Aos 26, Priscila puxou em velocidade pela esquerda, serviu na medida para Adriana mandar no travessão. No rebote, Gabi Portilho mostrou frieza para devolver à camisa 9, que enfim estufou as redes.
Apesar do cenário adverso, as campeãs do mundo não desistiram da final olímpica e aproveitaram o cansaço brasileiro para enfim estabelecer uma pressão absoluta. Aos 40, a defesa brasileira não acompanhou a bola aérea e Paralluelo descontou para a Fúria.
O gol incendiou a partida e recolocou a seleção espanhola de volta ao confronto. Lorena, com dois milagres, e o travessão, com uma colaboração, impediram um cenário dramático para o Brasil.
A marcação intensa, principal característica da classificação história, iniciou o gol que aliviou o Brasil e transformou a vitória em goleada. Aos 46, Kerolin roubou a bola no meio-campo e correu sozinha para tocar por baixo da goleira, assinando o quarto gol brasileiro.
O Vélodrome virou festa. Festa brasileira, com samba e gritos de olé. A Espanha tentou e ainda descontou novamente com Paralluelo, mas àquela altura nada mais tiraria a classificação canarinho.