Dez anos depois da conquista do Brasileiro com o "Cruzeiro de Alex" - ou de Luxemburgo - a Raposa voltaria ao topo do Brasil, mas desta vez de forma um pouco diferente. Absoluto como em 2003, em 2013 o Cruzeiro não se apoiou e um, dois ou três nomes para levantar o título, não dá para contar nas duas mãos. Foi a força de um elenco em que "os 20" poderiam ser titulares, entre experientes, campeões e revelações.
Se hoje parece fácil olhar para o fortíssimo plantel do Cruzeiro de 2013 e vê-lo com um óbvio candidato ao título, o mesmo não acontecia naquela época. O Campeonato Brasileiro daquele ano não estava para favoritos - basta recorrer às matérias e artigos de opinião da época. Despontavam como candidatos ao título o Fluminense, campeão no ano anterior, o Atlético Mineiro, vice-campeão em 2012 e então campeão da Libertadores, o Santos de Neymar (que deixou o clube no início da disputa), o Corinthians de Alexandre Pato... O Cruzeiro, por sua vez, vinha de dois anos complicados, um quase rebaixamento em 2011 e um fraco desempenho no ano anterior, quando terminou em nono.
"Com certeza, quando iniciou 2013, não estávamos entre os cinco favoritos ao título", afirmou Tinga, em entrevista a oGol.
O ex-meia lembra que chegou ao clube em 2012, junto de Ceará e Borges. Ele optou por deixar o Internacional depois de três temporadas para se juntar ao Cruzeiro, enquanto Borges e Ceará saíram, respectivamente, de Santos e Paris Saint-Germain. Para Tinga, o fato de serem jogadores experientes, que trocaram ambientes mais tranquilos para aceitarem o desafio no Cruzeiro, ajudou a torcida a entender aquele projeto, que ganharia corpo no ano seguinte.

A montagem do elenco campeão do Cruzeiro também é lembrada pelo volante Nilton. Ele chegou ao clube como pedido especial do treinador Marcelo Oliveira, com quem já havia trabalhado no Vasco.
"Nessa montagem juntou eu, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Egídio... Tinham alguns que tinham até uma história no futebol, como Diego Souza, Ceará, Bruno Rodrigo... Eu comentei com o Alexandre Mattos: 'Quais são as projeções de vocês?'. Ele falou: 'A gente entrar em uma Libertadores, brigar por título em uma Copa do Brasil. Mas o fruto, realmente, queremos colher em 2014'. Houve muito questionamento até em cima do Marcelo Oliveira, por ter jogado no rival... Mas a gente abraçou a causa. Quando ele (Marcelo) depositou o voto de confiança em mim, eu falei: 'Cara, vou correr até a última gota de suor'", disse o jogador, também em entrevista a oGol.
Eliminações, união e fome de título
A casca campeã do Cruzeiro começou a ser construída em meio aos tropeços do primeiro semestre de 2013. O clube perdeu a final do estadual para o Atlético, enquanto na Copa do Brasil foi eliminado, de forma precoce, nas oitavas de final, para o Flamengo, que depois viria a ser campeão.
"Depois da eliminação na Copa do Brasil, fomos jogar em Campinas, contra a Ponte Preta. Ali, a gente falou: 'A gente tem time, tem elenco'. O Dedé fez uma fala bacana, disse que o que as pessoas esperavam da gente, a gente não tinha que mostrar para elas. Tínhamos que mostrar para nós mesmos, porque era a gente que estava ali no dia a dia, sabia o que o companheiro gostava ou não. A gente tinha que dar a resposta para nós mesmos", relembrou.
E foi justamente na 16ª rodada, na vitória sobre a Ponte, que o Cruzeiro assumiu a liderança e de lá não saiu uma vez sequer, até o final do campeonato. O clube chegou a ter uma sequência de 12 jogos de invencibilidade, com vitórias expressivas nesse percurso, como por 5 a 3 sobre o Vasco, e um 3 a 0 sobre o Botafogo de Seedorf, então segundo colocado. O jogo é lembrado como uma "final antecipada" por Nilton.

Naquele Cruzeiro, Nilton, então com 26 anos, era titular. No banco, para a mesma posição, estava justamente Tinga, já experiente, com 35 anos. E é unânime, para ambos, que foi a força e a diversidade do elenco que levou o Cruzeiro ao título. Ao longo do Campeonato Brasileiro de 2013, Marcelo Oliveira utilizou 31 jogadores, sendo que 20 deles atuaram, pelo menos, em dez oportunidades.
"Todos os times sabem que o caminho, principalmente nos pontos corridos, é ter um grupo grande, com um monte de jogadores. Normalmente, o time que ganha os pontos corridos ou tem um time muito bom, que joga todos os jogos, que foi o que o Flamengo fez em 2019, ou você tem um time bom com número de gente também, em que você consiga substituir os jogadores sem perder o nível. Por exemplo, quando não jogava o Ceará, jogava o Mayke. Na frente, se não jogava o Moreno, jogava o Borges, ou jogava o Anselmo (Ramon), o Vinicius Araújo. Se não jogava o Willian, jogava o Everton Ribeiro, tinha o Goulart, o Julio Baptista, Diego Souza... O Cruzeiro, de verdade, é o clube que mais tinha jogadores bom dentro de um plantel com 25 jogadores", disse Tinga.
Tinga, inclusive, foi dos jogadores que menos entrou em campo pelo Cruzeiro no Brasileiro. Foram oito partidas, sendo titular em apenas duas delas. 190 minutos completados dentro das quatro linhas. O jogador, entretanto, encontrou a paz na Raposa. Conquistou o sonhado título nacional que não havia conseguido pelo Internacional, e também teve um papel essencial além do gramado.
Números da edição:
Média de gols: 2,46 gols/jogo
Melhor ataque: Cruzeiro - 77 gols
Melhor defesa: Corinthians - 22 gols sofridos
Artilheiro: Éderson (Athletico) - 21 gols
Jogador com mais partidas: Wilson (Vitória) e Weverton (Athletico) - 38 jogos
