De 'estagiário' a mais jovem a marcar pela Itália: Conheça Gnonto

O clima ao fim da goleada sofrida contra a Alemanha pode não ter sido dos mais agradáveis na Itália, mas pelo menos um dos atletas escalados por Roberto Mancini deixou o campo com motivos para se orgulhar, embora timidamente. Willy Gnonto, praticamente um desconhecido internacionalmente até ser convocado pelo técnico, se tornou o mais jovem a marcar um gol pela seleção italiana na história.

O gol de Gnonto foi marcado quando o placar assinalava 5 a 0, e abriu uma pequena reação para tornar a goleada menos humilhante. Com 18 anos e 7 meses, o jovem atacante colocou fim a uma marca que durava 64 anos. Bruno Nicolè detinha o recorde de mais jovem goleador pela Itália desde 1958, com 18 anos e 8 meses.

Apesar do feito histórico, a verdade é que mesmo na Itália poucos conhecem Gnonto. A forma como chegou ao posto de titular da atual campeã europeia é curiosa e, ao menos para esse que escreve estas linhas, inédita.

O começo: prodígio em fuga da Itália

Filho de marfinenses, Degnand Wilfried Gnonto nasceu na Verbania e cresceu em Baveno, no norte da Itália. Começou a brincar com a bola nas escolinhas de futebol locais, mas com nove anos já chamava a atenção na base da Internazionale de Milão. A Inter foi sua casa até 2020.

Considerado um atleta promissor na Inter, Gnonto foi galgando posições desde os primeiros passos. Em 2019 chegou ao time de juniores para jogar com companheiros em sua maioria mais velhos, e no mesmo ano ganhou destaque com a seleção sub-17 ao participar do Mundial da categoria, anotando três gols na campanha.

Valorizado por seu desempenho na seleção, Gnonto sentiu que não teria futuro em Milão, mesmo com proposta para assinar contrato profissional. Preferiu deixar seu vínculo encerrar para buscar mais minutos e experiência, e mostrou certa ousadia para escolher seu destino: a Suíça. Assinou por três anos com o FC Zurich.

Adaptação, evolução, gols e título

Gnonto chegou ao Zurich como um adolescente ainda com seu futebol em evolução. Não seria fácil conquistar seu espaço de imediato, mas logo o atacante recebeu o que pretendia: minutos em campo para desenvolver o seu futebol. E logo na primeira oportunidade na reta final da vitória sobre o Vaduz, o jovem promissor deixou uma assistência.

A história se repetiu ao longo da temporada. Gnonto foi presença frequente nos minutos finais das partidas do Zurich e terminou com 605 minutos jogados. Mais do que certamente teria na Internazionale, onde seu aproveitamento nos profissionais parecia ainda pouco provável. Gol mesmo, o italiano marcou apenas um, e no seu último jogo em 2020/21.

©Getty / Eurasia Sport Images

Com boas atuações, Gnonto começou a ganhar mais minutos, e correspondeu entregando ainda mais. Ao fim da temporada, o italiano já era titular habitual da equipe, embora ainda não incontestável. Foram 36 jogos em 2021/22, 11 deles começando em campo, com 11 gols marcados.

De estagiário de Mancini ao recorde

O sucesso no FC Zurich, que terminou campeão com a colaboração de Gnonto, fez o jogador novamente se valorizar no mercado. Não seria surpresa um salto para uma grande liga no mercado. Ainda assim, o atacante de 18 anos ainda era um desconhecido para o grande público em seu próprio país, e apenas um jovem promissor em busca de estabilidade como profissional em uma liga alternativa. Foi quando Roberto Mancini decidiu o incluir em uma lista de 53 jovens jogadores para um estágio de treinos de três dias, com o intuito de observar jovens atletas e promover a integração entre seleções de base e a equipe principal.

Os treinos ocorreram entre os dias 24 e 26 de maio. Não sabemos o que Gnonto apresentou no período, mas foi o suficiente para convencer Mancini de que estava preparado para dar o salto. Quatro dias depois, o nome de Gnonto surpreendeu a Itália - e provavelmente ao próprio jogador - por sua presença na lista de 30 nomes para a Finalíssima contra a Argentina.

O "estagiário" não entrou em campo na derrota para a Argentina. Mas quem imaginou que apenas figuraria entre os convocados para ganhar vivência no grupo, se enganou. A estreia veio no dia 4 de junho, contra a Alemanha. Entrou aos 20 do segundo tempo no lugar de Politano, e cinco minutos depois deu a assistência para o gol de Lorenzo Pellegrini. A partida terminou empatada em 1 a 1.

Gnonto foi titular no jogo seguinte, contra a Hungria, com vitória por 2 a 1. Entrou no fim no empate em 0 a 0 com a Inglaterra e voltou a ser titular contra a Alemanha, quando se tornou no mais jovem a marcar pela seleção italiana na história.

Com 1,70, mas físico robusto, Gnonto gosta de atuar como um segundo atacante, mas joga também pelas duas pontas. Veloz, habilidoso e com crescente gosto por gols, o atacante italiano tem um perfil que costuma ser valorizado no mercado. Não vai demorar para o vermos em uma liga mais famosa na Europa.