A exaustiva novela do Flamengo em busca de um novo treinador chegou ao fim. Isso porque, depois de desistir de Jorge Jesus e Carlos Carvalhal, o Rubro-Negro anunciou a contratação de um outro português: Paulo Sousa, que estava no comando da seleção polonesa.
Aos 51 anos, Paulo se dispôs a pagar do próprio bolso a multa rescisória com a federação da Polônia para dar "um grande salto" em sua carreira como técnico e assumir a equipe brasileira. Como jogador, a história do lusitano já foi bem sucedida.
Volante clássico, com um toque de bola apurado, Paulo Sousa iniciou a carreira no Benfica e logo se destacou no futebol português, em um período em que jogadores como Figo e Rui Costa brilhavam em terras lusitanas. Após se firmar nos Encarnados, o meio-campista tomou um decisão polêmica e trocou a Águia pelo Sporting, em 1993. As boas atuações, entretanto, trataram de colocar "panos quentes" na mudança e o credenciaram a mais um grande salto na carreira.
No ano seguinte, o jogador se transferiu para a Juventus. A ida para o futebol italiano deu início ao auge vivido pelo português dentro das quatro linhas. Na temporada 95/96, o volante conquistou a Liga dos Campeões pela Velha Senhora e, no ciclo seguinte, já como jogador do Borussia Dortmund, Sousa repetiu a dose.
Paulo, inclusive, a um seleto grupo de jogadores que venceram a Champions de forma consecutiva por clubes diferentes. Estão ao lado dele Marcel Desailly - Olympique (93) e Milan (94) - Piqué - United (2008) e Barcelona (2009) e Eto'o - Barcelona (2009) e Internazionale (2010).
Três anos após encerrar a carreira como jogador, Paulo Sousa iniciou sua experiência como técnico. Seu primeiro trabalho foi à frente das seleções de base de Portugal, comandando do sub-16 até o sub-19. Em 2006, inclusive, agora como auxiliar, Paulo fez parte da comissão de Luiz Felipe Scolari na disputa da Copa do Mundo da Alemanha.
Dois anos depois, Paulo iniciou sua trajetória no comando de clubes no futebol inglês. Mais precisamente no QPR, Swansea e Leicester, onde disputou a Championship, segunda divisão inglesa. Sem grande destaque, o português se transferiu para Hungria, onde comandou o Videoton FC, atual Fehérvár.
No futebol húngaro, Paulo, enfim, teve suas primeiras conquistas: uma Copa da Liga e uma Supercopa da Hungria. Apesar do sucesso na Hungria, o técnico deixou o país e assumiu o Maccabi Tel Aviv, de Israel, onde faturou o Campeonato Israelense. Menos de um ano depois foi contratado pelo Basel, da Suíça, e também conquistou o principal título nacional.
Pouco depois, Paulo Sousa abandonou a rotina de títulos, mas viveu o principal momento da carreira na Fiorentina, da Itália. Em 2015, o técnico chegou a comandar a Viola até a liderança do Campeonato Italiano e, no fim, garantiu uma vaga na Liga Europa.
O bom trabalho em Florença aumentou a cobiça do futebol internacional, mas Paulo decidiu arriscar outra vez e se transferiu para o Tianjin Quanjian, da China. Sem ter o resultado esperado no continente asiático, o português, em menos de um ano, voltou para a Europa para comandar o Bordeaux, da França, seu último clube antes de assumir a seleção da Polônia.
A formação tática de Paulo Sousa, como não poderia deixar de ser, começou ainda durante a carreira do português como jogador. Na Juventus, foi atiçado por Marcello Lippi a comentar sobre os treinos e os jogos da equipe com um olhar mais analítico. Na época, Lippi implementou um 4-3-3 pouco usual no futebol italiano. Na trinca de meias, Paulo Sousa jogou ao lado de Didier Deschamps e Antonio Conte, os três se tornando treinadores após pendurar as chuteiras.
Na Itália, garante ter aprendido mais sobre as transições do jogo. Apesar de ter absorvido muitos conceitos do Catenaccio, e de adotar muitas vezes um esquema com três zagueiros que vira, na fase defensiva, uma linha de cinco, tem como grande foco no trabalho metodológico nos treinos a fase ofensiva do jogo, buscando desenvolver ao máximo seus jogadores para dar-lhes repertório o suficiente para desequilibrar partidas.
Técnico presente em nove contextos competitivos diferentes, inclusive no de seleções, Paulo de Sousa absorveu diferentes formas de jogar, e sempre adaptou seu jogo com o estilo do clube ou liga onde trabalhou. Há, porém, algumas características similares se observarmos atentamente.
Tanto no Bordeaux quanto na Fiorentina, seus últimos trabalhos em clubes na Europa, o treinador optou por uma espécie de 3-2-4-1. A saída de jogo é curta e elaborada, buscando sempre o jogo apoiado. O goleiro tem papel muito importante na primeira fase de construção. O ataque posicional é um de seus preferidos, usando muito o conceito de atração para atrair o adversário para seu campo visando aproveitar os espaços deixados nas costas. Utiliza muito os meio-espaços.
Na seleção polonesa, adotou o 3-5-2, tendo muitas vezes que usar a ligação direta e o jogo mais reativo, atuando contra adversários mais fortes. Contra a Inglaterra, por exemplo, se postou mais recuado com uma linha de cinco defensores, visando sair em contragolpes em passes diagonais nas costas da defesa adversária.
Apesar de se considerar um romântico do futebol, e de priorizar um jogo ofensivo, Paulo Sousa tem transições defensivas bem trabalhadas, bebendo de fontes importantes para desenvolver um plano completo em todas as fases do jogo.