Nunca é tarde para mudar, e a história de Cristiano Ronaldo na seleção portuguesa é uma prova disto. Agora isolado como o maior artilheiro de seleções pelo mundo, o craque luso nem sempre teve com a camisa de Portugal um desempenho à altura de um dos maiores goleadores de todos os tempos. A transformação de CR7 em máquina de gols representando seu país foi consumada depois dos 30.
Os dois gols nos minutos finais da épica virada de Portugal sobre a Irlanda, por 2 a 1, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo, foram apenas mais um capítulo de sucesso de Cristiano Ronaldo na seleção. O atacante chegou aos 111 gols pela equipe nacional e deixou de vez Ali Daei para trás, com seus 109 gols pelo Irã, como maior goleador da história do futebol por seleções. Mas os capítulos mais felizes escritos por Ronaldo foram depois dos 30, sejam em gols ou em conquistas.
A história de Cristiano Ronaldo pela seleção começa a ser contada em 2003, quando o jovem talento ainda dava seus primeiros passos também no Manchester United. A imagem do atleta, na época, era bem diferente da atual. Ponta habilidoso, Ronaldo ainda não tinha exatamente intimidade com o gol. Ainda assim, foi um dos destaques de Portugal em sua primeira competição oficial, a Eurocopa de 2004, esbarrando na trave pela glória.
A transformação de Cristiano Ronaldo em máquina de gols por clubes começou mais cedo que na seleção. Foi em 2006/07 que o craque mostrou sua veia goleadora, com 23 gols pelo Manchester United. No ano seguinte ultrapassaria a marca dos 30 pela primeira vez em um ano, e logo com 42. Pela seleção, no entanto, a evolução não foi significativa.
Quando completou 30 anos, no início de 2015, Cristiano Ronaldo já era um craque consagrado e com coleção de recordes e títulos por clubes. Na seleção, no entanto, seu desempenho era diferente, com 52 gols em 118 jogos, uma média de 0,44 por partida. Bons números, mas muito aquém do seu tamanho.
O torcedor luso recebeu uma amostra de tudo que Cristiano Ronaldo poderia entregar para Portugal em 2013. No auge, aos 28 anos, Ronaldo teve seu melhor ano em gols pela equipe, com 10 ao todo, em nove partidas. A média de 1,11 gol por partida, com um tento a cada 74 minutos, estava mais próxima daquilo que já demonstrava por clubes.
A expectativa portuguesa para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, era alta, e não por acaso. Cristiano Ronaldo dava a Portugal esperanças de uma participação histórica e, quem sabe, com alguma sorte e grandes atuações do craque, de um título. Mas a seleção lusa e CR7 decepcionaram frente ao público brasileiro.
O fracasso no Brasil acabou por se transformar em um ponto de virada para Cristiano Ronaldo. O técnico Paulo Bento deu lugar a Fernando Santos, com quem Ronaldo logo entrou em sintonia. Mas CR7 pouco jogou no ano seguinte - foram apenas cinco jogos em 2015, quando completou 30 anos, com três gols marcados. O melhor estava ainda por vir.
O grande ponto de virada para Cristiano Ronaldo foi em 2016. Mais maduro, o craque assumiu o seu papel de liderança como grande estrela de Portugal e, embora não tenha tido uma participação exuberante na Eurocopa, liderou a equipe ao título inédito. Um troféu que lhe conferiu outro status com a seleção, e que também parece ter tirado um peso enorme dos ombros do jogador, que terminou com 13 gols em 13 partidas, sete deles marcados nos três jogos pós-Euro, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018.
As explicações para a melhor no desempenho são muitas: a parceria com Fernando Santos; as mudanças táticas (especialmente do 4-3-3 para o 4-4-2) que deram mais liberdade ao atacante; a boa geração lusa, com atletas de ponta em diversos setores. O fato é que a Máquina Ronaldo enfim foi programada para não falhar com a camisa lusa, mantendo-se sempre próxima da marca de um gol por jogo.
O melhor desempenho foi em 2019, quando anotou impressionantes 14 gols em 10 partidas, um a cada 59 minutos em campo. Gols que deram a Portugal mais um título, o da Liga das Nações, importante para o pequeno país de 10 milhões de habitantes, embora sem o mesmo peso da Euro.
Os números mostram com clareza a evolução. Foram 59 gols em 62 jogos disputados depois dos 30 anos, com média de 0,95 por partida. Antes foram 52 gols em 118 jogos, com 0,44 de média.
2003 - 2 jogos, 0 gols
2004 - 16 jogos, 7 gols
2005 - 11 jogos, 2 gols
2006 - 14 jogos, 6 gols
2007 - 10 jogos, 5 gols
2008 - 8 jogos, 1 gol
2009 - 7 jogos, 1 gol
2010 - 11 jogos, 3 gols
2011 - 8 jogos, 7 gols
2012 - 13 jogos, 5 gols
2013 - 9 jogos, 10 gols
2014 - 9 jogos, 5 gols
2015 - 5 jogos, 3 gols (30 anos)
2016 - 13 jogos, 13 gols
2017 - 11 jogos, 11 gols
2018 - 7 jogos, 6 gols
2019 - 10 jogos, 14 gols
2020 - 6 jogos, 3 gols
2021 - 10 jogos, 9 gols (e contando)