Adriano é dos jogadores mais icônicos do futebol mundial. Viveu diversas emoções no esporte: da rejeição até a fama, teve de cair e levantar muitas vezes ao longo da carreira. No fim, escolheu ser feliz. Nesta terça-feira, o ex-atacante lembrou um pouco disso tudo.
Em carta publicada no site The Players Tribune, o ex-atacante de Flamengo, seleção brasileira e Inter de Milão lembrou de quando quase foi dispensado na base do Flamengo. Lembrou da volta por cima e do sucesso na Inter de Milão e na seleção brasileira. Mas foi justamente aí, no ápice, que Adriano chegou ao fundo do poço.
Nove dias após o título da Copa América com a seleção, Adriano recebeu a notícia da morte do pai, algo que mudou para sempre a vida, e a carreira, do Imperador.
"Não importa quem você seja – você pode estar no topo do mundo, você pode ser o Imperador – mas sua vida pode mudar num estalar de dedos", começou a contar.
"Nove dias depois (do título), eu estava de volta à Europa com a Inter. Recebi uma ligação de casa. Eles me disseram que meu pai havia morrido. Ataque cardíaco. Eu realmente não queria falar sobre isso, mas vou te dizer que, depois daquele dia, meu amor pelo futebol nunca mais foi o mesmo", revelou.
Adriano teve dificuldades para lidar com a perda. Nunca mais foi o mesmo, de fato. Ainda marcou gols pela Inter, mas demorou para conseguir voltar a sorrir.
"Eu estava do outro lado do oceano na Itália, longe da minha família, e não conseguia lidar com tudo aquilo. Fiquei tão deprimido, cara. Comecei a beber muito. Eu realmente não queria treinar. Não teve nada a ver com a Inter. Eu só queria ir pra casa. Para ser honesto com você, embora eu tenha marcado muitos gols na Série A ao longo desses anos, e embora os torcedores realmente me amem, minha alegria se foi. Foi meu pai, sabe? Eu não poderia simplesmente apertar um botão e me sentir eu mesmo novamente", explicou.
A cabeça de Adriano não estava mais em Milão. Nem o coração. O menino da Vila Cruzeiro não queria mais lidar com a pressão de ser o Imperador, e resolveu voltar para casa.
"'Adriano desistiu de milhões para voltar pra casa”'. Sim, talvez eu tenha desistido de milhões. Mas quanto vale a sua paz de espírito? Quanto você pagaria para ter de volta a sua essência?", questionou.
"Voltei para o meu povo, meus amigos, minha comunidade. Eu não queria morar num castelo, isolado de tudo e de todos", completou.
Adriano ainda voltou a jogar em alto nível pelo São Paulo e, principalmente, pelo Flamengo, onde ajudou o Rubro-Negro a ser mais uma vez campeão brasileiro.
"Nunca fui completamente o mesmo depois que meu pai faleceu, mas naquela temporada eu realmente me senti em casa. Senti alegria novamente. Eu voltei a ser o Adriano".
E Adriano, que se aposentou em 2014 e em 2016 chegou a ter uma breve passagem pelo futebol estadunidense, resume melhor do que ninguém: "Adriano não usa coroa. Adriano é o menino da favela que foi tocado por Deus". No fim, é isso: "Adriano não sumiu nas favelas. Ele apenas voltou pra casa".