Motivação, estilo 'copeiro' e bola parada; a missão de Felipão para resgatar o Cruzeiro

Após um ano de inatividade, o técnico Luiz Felipe Scolari titubeou mas, por fim, aceitou o desafio de treinar o Cruzeiro no pior momento do clube em toda a sua história. Desde o vexame do 7 a 1 na Copa do Mundo, Felipão realizou trabalhos importantes em Grêmio e Palmeiras, além de uma passagem de sucesso pela China. Mas Scolari é a resposta que a Raposa precisa nesse momento?

Conhecido por sua capacidade de montar bons sistemas defensivos, Felipão precisa inverter a lógica do Cruzeiro, atualmente na penúltima colocação da Série B. Em 15 partidas, a Raposa sofreu 16 gols, média de 1,07 gol/jogo e anotou 15 tentos, média de um gol por duelo. Portanto, num primeiro momento, Scolari precisa urgentemente ajustar a defesa do Cruzeiro.

Na sua recente passagem pelo Palmeiras, um time de elenco obviamente muito superior, Luiz Felipe Scolari esteve por 76 partidas no comando, com bom aproveitamento: 46 triunfos, 21 empates e nove derrotas. Somente na Série B, o Cruzeiro já sofreu sete revezes. Mais importante do que isso, nesse período Felipão mostrou a sua boa e velha característica de construir equipes com ótima solidez defensiva. A média de gols sofridos por jogo no Palmeiras entre 2018 e 2019 foi de 0,55. O ataque também teve bom desempenho: 1,54 gol/jogo.

Com direito a título brasileiro em 2018, as coisas caminhavam bem para Felipão até a parada para a disputa da Copa América de 2019. Depois de liderar o Brasileirão até a nona rodada, o Palmeiras caiu muito de produção e, com sete partidas sem vencer no nacional, aliado a eliminação na Copa do Brasil, o experiente treinador acabou demitido. 

Antes disto, no futebol chinês, Felipão ficou à frente do Guangzhou Evergrande por três temporadas. Com um plantel de qualidade, repleto de brasileiros, Scolari guiou o clube a três títulos nacionais e uma Liga dos Campeões da Ásia, em 2015. Curiosamente, o Evergrande teve grande variação no aproveitamento defensivo no período, apesar do sucesso nos três anos. A média de 0,71 gol sofridos por jogo em 2016, por exemplo, disparou para 1,42 em 2017. Ao todo foram 108 jogos: 63 vitórias, 27 empates e 18 derrotas no período.

Logo após o vexame da Copa do Mundo de 2014, Felipão foi recebido de braços abertos pelo Grêmio e, em termos, começou a recuperar a sua imagem. Em 50 jogos o técnico atingiu 25 vitórias, 12 empates e 13 derrotas, mas foi demitido do clube por conta do mal início no Brasileirão, em 2015, e sem conquistar títulos. Naqueles anos o Grêmio vivia momento de instabilidade, com o último título gaúcho conquistado em 2010 e uma fila de 13 anos na Copa do Brasil.

O resgate necessário

A crise do Grêmio no início da década passada não chegava nem perto da realidade vivida pelo Cruzeiro em 2020. Assim como no time gaúcho, os mineiros buscam retomar o trilho certo com um técnico vitorioso e acostumado a lidar com a pressão, que no caso da Raposa, é a mais forte de todos os tempos.

Agora, diferentemente dos trabalhos no Guangzhou e Palmeiras, o material humano à disposição de Felipão é muito mais escasso. Muitas vezes criticado no Alviverde pela falta de ideias e criatividade no setor final de campo, Felipão mais do que nunca precisa encarnar seu estilo copeiro na disputa dos pontos corridos na Série B.

O recurso da bola parada, tão utilizado pelo treinador, aliado à ligação direta entre a defesa e o ataque, pode surtir efeito em um campeonato de nível técnico mais baixo e de muita luta e disputa em campo. Além da estratégia, o Cruzeiro necessita de outra das facetas de Scolari, o comandante motivador. Com esses ingredientes, o futuro da Raposa parece mais promissor do que há alguns dias atrás. É preciso cautela e ação, mas Scolari promete estar à altura de um dos desafios mais difíceis da carreira.