Às vezes você pensa que a vida poderia ter tomado outros contornos se uma simples decisão que fez no passado fosse diferente? Em um final de semana de agosto de 1973, o jovem zagueiro Oscar integrava a categoria de base da Ponte Preta e tinha planos para visitar a família em Monte Sião, no interior de Minas Gerais, como era costumeiro. Não o fez, já que naquele final de semana a Macaca enfrentaria o Santos de Pelé e ele queria assistir a partida. Acabou convocado para o jogo, brilhou, e o resto é história...
Oscar sequer havia estreado profissionalmente até então, tinha 19 anos recém-completados, e só foi chamado para a partida porque o zagueiro titular na época não tinha renovado o contrato. Oscar lembra que, como os campeonatos de base eram disputados no sábado, logo depois ele já viajaria para interior de Minas Gerais, próximo da fronteira com o estado de São Paulo, para ficar com a família.
"O zagueiro do time não queria jogar sem contrato, aí sobrou para mim. A Ponte ganhou por 2 a 1 do Santos, virei titular e nunca mais saí do time", conta Oscar, em entrevista para oGol.
Questionado sobre como foi estrear logo de cara contra Pelé, ele respondeu bem-humorado: "o Pelé ficou sabendo que eu ia jogar e não foi para a partida (risos). Acho que ele estava machucado e por isso não jogou".Pela Ponte Preta, clube que defendeu por sete anos, Oscar fez parte de uma geração histórica de 'pratas da casa'. Enquanto a torcida poderia estar preocupada porque perdia talentos como Chicão e Waldir Peres, negociados com o São Paulo, o clube promovia da categoria de base, além de Oscar, o zagueiro Pollozi e o goleiro Carlos Gallo. Juntos, os três jogadores ponte-pretanos chegariam à seleção brasileira e reencontrariam lá justamente as peças que foram responsáveis por repor.
"A filosofia da Ponte era essa: pegar três jogadores da base para jogar. É um clube que aprendi a gostar, torço para a Ponte, gosto demais do clube. O torcedor tem um carinho especial por mim. Já faz muito tempo e se criou um laço de respeito muito grande entre aquele time de 1977. Eu fui prata da casa, fui criado ali, formado no clube, a Ponte respeita muito isso", afirma.
O ano de 1977, referido por Oscar, foi decisivo em sua carreira como jogador. A temporada começou com uma boa participação da Macaca no Campeonato Brasileiro, em que o zagueiro foi eleito para a seleção da edição, ficando com a Bola de Prata, e terminou como finalista do Campeonato Paulista - a Ponte acabou derrotada pelo Corinthians no confronto de desempate, depois de uma vitória para cada lado nos primeiros jogos.
Convocado para a Copa de 1978, fruto do bom ano anterior, Oscar foi titular em todos os jogos. Mesmo sem sofrer uma derrota sequer e com apenas três gols sofridos em sete jogos, a seleção acabaria eliminada na 2ª fase de grupos, ficando com o terceiro lugar. Mais maduro, quatro anos depois, aos 28, ele seria titular novamente da amarelinha, na Copa da Espanha, pela lembrada seleção 'mágica' de 1982, de Telê Santana."A gente sentia que era diferenciado. Jogamos muitos amistosos antes da Copa, eliminatórias, não perdemos nenhum jogo", conta, ressaltando que os três meses de preparação na Toca da Raposa foram essenciais para aquele time, que contava majoritariamente com jogadores atuando no futebol brasileiro.
Tal fato, na época, só foi descoberto pelos jogadores no aeroporto, quando embarcavam para o México. Foi naquele momento que souberam que o lateral Leandro também não se apresentaria para viajar.
Com três convocações para Copas do Mundo (em 1986 não jogou) e uma Copa América, Oscar não conseguiu títulos com a camisa da seleção. Ainda assim, ele comemora o fato de ser corriqueiramente lembrado como um dos grandes zagueiros que o país já teve.
"É uma honra muito grande ser lembrado, embora não tenha conquistado nenhum título, eu marquei minha presença e tenho o carinho do torcedor", afirma.
Nem só de Ponte e seleção brasileira viveu a carreira de Oscar. O zagueiro é um dos grandes da história do São Paulo, onde conquistou quatro Campeonatos Paulista e um título brasileiro. Antes de chegar ao Tricolor, no entanto, ele teve uma rápida passagem pelo Cosmos, dos Estados Unidos. Sem qualquer trocadilho, um time que era uma verdadeira constelação.
O clube contava com Beckenbauer, Carlos Alberto Torres, Neeskens, Romerito, Chinaglia e muitas outras estrelas internacionais.
"Foi muito bom esse período. Onde jogávamos a casa sempre estava cheia, experiência muito boa de ter jogado com esses jogadores, tínhamos um timaço. O São Paulo me consultou para voltar, eu sabia que não estava sendo convocado (para a seleção) porque ninguém via o futebol americano e voltei para disputar a Copa de 1982", explica.
"Minha passagem pelo São Paulo foi muito boa, é um clube que eu tinha muita vontade de jogar. O São Paulo naquela época todo mundo queria jogar", afirma.
Apesar de o grande título da carreira de Oscar ter sido pelo Tricolor Paulista, com o Campeonato Brasileiro de 1986, aquele ano guarda sentimentos mistos na memória do jogador. Se em 1981, quando o clube terminou com o vice após derrota para o Grêmio na final, Oscar foi titular em toda a temporada, na conquista de 1986 o zagueiro pouco jogou.
"O time de 1986 era muito bom, tinha uma turma muito jovem aparecendo. O Careca estava numa fase muito boa. Eu recordo como positivo o título, mas a coisa negativa é que tive uma contusão e operei os dois joelhos de uma vez só. Até a final eu não joguei, fiquei no banco recuperando da cirurgia do joelho", explica.
Oscar deixou o São Paulo em 1987, foi para o futebol japonês onde ficou por três anos no Yokohama Marinos. Atualmente, o ex-jogador é fundador de um clube-empresa no interior paulista, o Brasilis FC.