Do início como profissional com a camisa do Fluminense à estreia no futebol internacional, na Rússia, a trajetória de Maicon Bolt no Brasil foi rápida, como sugere o próprio apelido, inspirado no ex-velocista jamaicano. Foram exatos dois anos no país antes de partir para uma carreira de sucesso de sete anos e meio na Rússia, com uma passagem no caminho pela Turquia, até chegar ao Atlético Mineiro, onde hoje busca dar a volta por cima.
Depois de mais de nove anos fora do Brasil, Maicon conta em entrevista para a equipe do oGol que a decisão de retornar para o país se deu, principalmente, por motivos familiares. Pai de uma filha nascida na Rússia e outra na Turquia, o jogador tinha o desejo de voltar para casa e sabia que isso implicaria em um novo grande desafio: a readaptação.
“Eu tive algumas outras propostas para voltar ao futebol brasileiro, estava feliz lá fora. Joguei muito pouco aqui (no Brasil), não tive uma grande sequência, mesmo sendo vendido. Sei que está sendo complicado para mim a readaptação e em relação a estar jogando pouco, mas não tenho dúvida de que posso dar a volta por cima”, afirma o atacante.
O atacante estreou pelo Fluminense quando tinha 19 anos recém completados e viveu intensamente a passagem pelo Tricolor, seja pelo bem ou pelo mal. De 2008 para 2009, o clube foi de finalista na Copa Libertadores para 99% de chance de rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
“Eu era um menino e presenciar aquilo tudo foi maravilhoso (campanha na Libertadores). Em 2009, a situação reverteu completamente. Qualquer jogador quer jogar no momento que o time está brigando para ser campeão, só que na minha situação foi diferente. Comecei a me destacar quando o clube estava mal. Para mim não tinha peso nenhum. Apenas entrava em campo e me divertia”, conta Maicon Bolt, ressaltando o feito de ter escapado do rebaixamento.
A oportunidade de sair do Fluminense dois anos depois de estrear pelo profissional surgiu com uma proposta da Rússia, do Lokomotiv. Bolt assume que sabia da dificuldade que seria e temeu “jogar a carreira fora”, caso tivesse um insucesso no país. O que se sucedeu, porém, foi justamente o contrário.“Fui para lá e hoje me sinto vitorioso. Passei sete anos e meio lá, consegui ser campeão. Deixei uma imagem muito boa tanto com meu nome e como para os brasileiros que vão para lá agora. Os russos tinham muito essa cisma com brasileiros, porque alguns não conseguiam se adaptar. Eu consegui deixar bem essa imagem”, diz orgulhoso o jogador, que acumula 217 jogos com a camisa do Lokomotiv e duas Taças da Rússia conquistadas.
Maicon conta que a adaptação no país foi facilitada pelo grupo de brasileiros que encontrou por lá: Guilherme, goleiro hoje naturalizado russo, o zagueiro Rodolfo, e os meias Wagner e Charles. “Todos se ajudavam, tanto na língua, quanto em questões familiares. Isso é bem legal porque acabamos criando amizades, vínculos mais fortes”, afirma.
Questionado sobre o racismo no país, tema noticiado de forma recorrente, Maicon lembra que já sofreu com gritos de torcedores que imitavam sons de macaco durante os dérbis fora de casa. Porém, ele ressalta que nunca viveu essa situação dentro do próprio clube e que construiu uma relação positiva com a torcida do Lokomotiv.
“Até hoje tenho torcedores que me escrevem. Tenho uma passagem bem marcante pelo clube, sou muito grato também à torcida. Nunca tive problema e acho que isso possibilitou ficar tanto tempo por lá”, explica.
A palavra não cumprida de um dirigente no Lokomotiv durante a renovação de contrato foi o que motivou a saída da Rússia. Com proposta do futebol turco, para defender o Antalyaspor, o atacante diz que encontrou um campeonato de alto nível e com torcida fanática. A melhor lembrança da passagem de um ano e meio pelo país, porém, fica pela dupla de ataque com ninguém menos que Samuel Eto’o.
Eles atuaram juntos por uma temporada e a parceria só não foi mais longeva por problemas políticos no país, que afetaram a economia e, consequentemente, geraram atrasos salariais.
“O Eto’o é diferenciado, ganhou tudo que a gente possa imaginar. Ele ficava muito mais com os brasileiros (o elenco contava com outros três atletas nascidos no Brasil), todos respeitavam e gostavam muito dele. Dentro do campo a gente sabe, a finalização, o domínio e a tranquilidade para fazer gol… Brinco muito que não era eu que servia ele, era ele que me servia, porque cheguei a fazer muitos gols com assistência dele (risos)! A gente leva essas brincadeiras e recordações com a gente”, afirma.
“Saí muito novo, sou pouco conhecido no Brasil. Preciso de uma sequência de jogos, isso me deixa mais vulnerável às críticas nesse momento que reconheço não ser muito bom”, conta o jogador, que se apega ao exemplo de um dos destaques do Flamengo para reconquistar a confiança. “Se você pega o Éverton Ribeiro quando ele volta dos Emirados, foi uma situação complicada na readaptação. O Éverton, por ter um nome forte no Brasil, as pessoas deram mais oportunidades”, explica.
Sobre a situação do Atlético no Campeonato Brasileiro, atualmente na 11ª posição, com apenas uma vitória nos últimos dez jogos, ele ressalta que o clube deve fazer para reverter o cenário negativo.
“Nós estávamos com pensamento em estar na final da Sul-Americana e acabou que em um jogo tudo foi por água abaixo. Não podemos nos lamentar, porque se não tirarmos força de todos podemos ficar numa situação complicada de aproximar da zona de rebaixamento. Precisamos voltar a ganhar”, declara.