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      A epopeia de um brasileiro que vive o sonho do futebol

      A epopeia de Diego Ivo: da roça ao sonho no futebol pisando no preconceito e quebrando barreiras

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      No meio do nada, os sonhos também nascem. Às vezes nascem mais no meio do nada do que em qualquer outro lugar. Mas uma coisa é certa: quanto mais longe dos grandes centros, mais difícil é tornar o sonho realidade. Aí começa, então, a epopeia de um brasileiro à procura de seu lugar no mundo. 

      O lugar de Diego Ivo, no início de tudo, era em Juazeiro, uma pequena vila no interior baiano. Lá, o menino cresceu, jogando futebol na rua. Lá, e em Teixeira de Freitas, cidade próxima, deu seus primeiros chutes. Mas enquanto dava os primeiros chutes, Diego Ivo tinha de trabalhar. Para cavar seu espaço no mundo, o baiano trabalhava na roça. Do suor da colheita vinha o sustento, embora a cabeça estivesse sempre no sonho. 

      "Eu trabalhava na roça de maracujá e melancia. Às vezes deixava de trabalhar para ir treinar, às vezes, para não perder o emprego, deixava de treinar e continuava trabalhando. Eu tinha aquela dúvida: de sair e perder o emprego, porque ajudava em casa. Mas chegou um tempo que era ou vai ou ´racha´", conta, em conversa com a reportagem de oGol

      O começo no meio do nada

      Diego foi, mas "rachou". O começo no futebol não foi fácil, como não é nada para um menino de uma cidade em que a grande novidade era um orelhão. "Quando tocava, era uma briga para atender. Todo mundo queria atender (risos)". 

      "Por morar em um lugar distante, trabalhar na roça, falavam que não daria certo... E eu não esperava que daria certo mesmo. Era muita gente querendo virar jogador. Eu era de uma cidadezinha no interior da Bahia e só tinha fé e vontade de vencer na vida". 

      ©Alexandre Torres/Paysandu

      Diego foi com fé: entre um treino e outro, trabalhava; entre uma colheita e outra, treinava. Nesse vai e vem, conseguiu chamar a atenção de grandes equipes. O menino teve a possibilidade de jogar um torneio em uma cidade vizinha. Era a grande oportunidade, mas a aventura não foi pouca. 

      "Tinha que pagar 250 reais para viajar. 250 reais era dinheiro que fazia a feira e sobrava. A gente não tinha dinheiro: o dinheiro que a gente ganhava na roça, era no limite para fazer as coisas. Aí comecei a pedir na vila e na cidade vizinha para amigos, familiares. Minha avó saiu pedindo no mercado... Conseguimos. E eu fui, e fui bem". 

      Da decepção ao telefonema inesperado

      Em Juazeiro, a expectativa era que o menino, de um dia para o outro, virasse celebridade. "O pessoal achou que eu ia, ia ganhar dinheiro e passar na televisão". Diego não ganhou dinheiro, nem apareceu na televisão. 

      "Quando eu voltei, foi uma frustração muito grande, virei motivo de chacota. Até voltei triste, voltei a trabalhar. Mas tinham muitos times que estavam assistindo aos jogos. Um belo dia, o orelhão tocou. A gente estava jogando na rua golzinho e aí tocou orelhão. Ligaram e queriam falar com Diego. Só que ninguém me chama de Diego. Atendeu a tiazinha que ficava sentada do lado do orelhão só para atender. Foi uma briga para atender. Aí ela atendeu e chamou Diego. Lá todo mundo me chama de pezão. Ninguém sabia quem era Diego, mas falei: 'Sou eu'. Era um treinador falando que a Chapecoense tinha pedido para eu ir fazer um teste. Por mim, eu nem iria. E ainda tinha que pagar a passagem: como que eu ia pedir dinheiro para o pessoal? Ninguém quis dar dinheiro (risos). Graças a Deus, um vereador na época pagou uma parte da passagem, até São Paulo", conta. 

      A epopeia seguiu, mas o zagueiro não demorou a conquistar seu espaço em Chapecó. "No meu primeiro treino, fiz um gol de bicicleta. Passei no teste e fiquei. Aí começou tudo". 

      Um chute no preconceito

      Apesar de se garantir no time da Chape, ainda na base, Diego Ivo não viu as barreiras pararem de aparecer. Lá, o baiano sofreu, pela primeira vez na vida, preconceito. Chorou, sofreu, e quase desistiu do sonho. 

      "Você tem que correr dobrado. Ainda mais quando a gente é negro: a gente tem que fazer duas vezes melhor. Isso não é jogar conversa fora. Achava que não tinha nada a ver, mas sofri muito preconceito. Principalmente na época da Chapecoense. Eu quase voltei, queria ir embora. Os moleques me chamavam sempre de macaco. Não do time, mas torcedores que estavam no estádio. A gente estava jogando e teve uma hora que fui pegar a bola na lateral, e falaram: 'Está fazendo o que aqui, macaco? Vai embora'. Foi algo que marcou muito, dói. Eu chorei muito. No outro dia, queria ir embora, liguei para minha avó, mas ela não deixou eu voltar. Era eu chorando de um lado, e ela do outro. Ela disse: 'Você não vai voltar, vai realizar o seu sonho'. O pessoal da cidade olhava torto para quem era negro. Santa Catarina é um lugar onde tem muito descendente de alemão, então é difícil... Eu quase parei por isso. Na época, não tinha ninguém para desabafar. Só minha avó e meu pai. Mas eu superei isso dentro de campo". 

      ©Alexandre Torres/Paysandu

      Diego Ivo conseguiu seguir carreira, pisando no preconceito. Passou por Avaí, Paulista, Sport, Atlético Paranaense, Ceará, Ponte Preta, São Bernardo, e jogou até em Portugal, no Moreirense. Calejado, vê o futebol como prioridade, como "praticamente tudo", mas sabe que, apesar de o futebol ser muito mais que o esporte, a vida vai muito além do futebol. 

      "Falo que futebol é tudo, minha profissão, vivo para isso. Mas futebol pode acabar amanhã. Eu me dedico ao máximo, me concentro, me preparo, mas, se amanhã acabar, o mundo não vai acabar. Muito jogador não consegue viver quando acaba o futebol. É muito complicado, mas a gente tem que saber viver. Mesmo ganhando bem, você tem que saber usar o dinheiro. Hoje é muito carrão, balada, e não precisa disso. Eu sou da roça, então a vida é muito simples para mim. Então o futebol, de uma certa forma, é minha profissão, mas, se hoje acabar, não vou deixar de viver por causa disso. Vou procurar trabalho. Se tiver de voltar a trabalhar na roça, volto, de cabeça erguida". 

      A luta com o Papão

      Depois de tanta história, de uma lição de vida que tem muito a ensinar, resta falar um pouco de futebol. Afinal, hoje, Diego Ivo vive para isso. E atualmente vai tentando evitar o rebaixamento do Paysandu para a Série C. 

      Zagueiro com quatro gols no ano, em 36 partidas disputadas, Diego Ivo acredita na recuperação do Papão. Para isso, pede união ao grupo e mais empenho. 

      "A gente deixou as coisas acontecerem de uma forma negativa. A gente tinha tudo para fazer um grande trabalho. Os culpados somos nós, jogadores. Tivemos bons treinadores: Marquinhos Santos, Dado Cavalcanti... A gente deixou um pouco a desejar. Eu, Diego Ivo, acho que os culpados somos nós, jogadores. A gente podia se ajudar um pouco mais. Infelizmente, acontece, mas ainda está em tempo de tirar o time disso". 

      Além da Série B, Diego ainda sonha. Sonha em jogar em um grande clube, com carinho especial pelo Flamengo, mas sonha além: "meu maior sonho é terminar bem minha carreira e ajudar minha família, porque foi esse o motivo que entrei no futebol: ajudar minha família". 

      Brasil
      Diego Ivo
      NomeDiego Ivo Pires
      Data de Nascimento/Idade1989-04-06(35 anos)
      Nacionalidade
      Brasil
      Brasil
      PosiçãoDefensor (Zagueiro)

      Fotografias(6)

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