Na manhã do dia 27 de novembro de 1981, o lateral Júnior, que já fora campeão da Libertadores daquele ano e estava prestes a decidir o Carioca e o Mundial, ouviu de seu ex-treinador, Cláudio Coutinho, em um reencontro no Clube dos Marimbás, em Copacabana: "Espera um pouco que vou trazer um peixe". Adepto da pesca submarina, Coutinho não trouxe o peixe, e só foi encontrado morto, afogado. No mar, o Brasil perdeu um dos treinadores mais inovadores do nosso futebol.
Gaúcho de alma carioca, Coutinho foi um esportista, campeão no time de vôlei do Flamengo, e militar, se formou em Educação Física e deu aulas na Escola de Educação Física do Exército.
Seu domínio de outros idiomas, principalmente do francês, o levou como representante brasileiro em eventos no exterior. Em um deles, na França, conheceu o Método Cooper de preparação física, do francês Kenneth Cooper.
O teste Cooper, que tem como objetivo medir o consumo máximo de oxigênio pelo corpo (VO2max) para estabelecer parâmetros de condicionamento, foi trazido por Cláudio Coutinho ao Brasil.
Com o conhecimento, Coutinho ganhou vaga na comissão técnica da seleção brasileira para a Copa de 1970. A preparação física foi um dos pontos fortes da seleção naquela Copa, com o trabalho de Coutinho, Carlos Alberto Parreira e Admildo Chirol.
Os conhecimentos de Coutinho no trabalho com Cooper, que na época desenvolvia um projeto de preparação física para os astronautas que iriam para a Lua, deram gás de sobra para a seleção voar na Copa do México, sendo tricampeã do mundo.
Da preparação para a tática
Ao longo dos anos seguintes, Cláudio Coutinho foi saindo da preparação física para a organização tática. Alternou trabalhos como técnico e preparador no Vasco, na seleção peruana e no Olympique de Marseille, da França.
Em 1976, recebeu a grande oportunidade de dirigir a seleção brasileira nas Olimpíadas de Montreal, depois de um desentendimento de Zizinho com os dirigentes da época.
Com Coutinho, a seleção brasileira chegou até a semifinal, mas foi derrotada pela Polônia e, em seguida, perdeu a medalha de bronze para a União Soviética.
Ainda assim, a campanha foi vista com bons olhos. Tanto que Coutinho recebeu o convite para ser treinador do Flamengo, depois de o Rubro-Negro não ter conseguido a liberação de Oswaldo Brandão da seleção principal.
No Fla, Coutinho voltou a trabalhar com Júnior, a quem dirigiu na Olimpíada. Revolucionário nos métodos de preparação física, Coutinho também revolucionou o campo tático.
Formou um Flamengo intenso, compacto, com constante participação de todos os atletas em todos os períodos da partida, com os atacantes ajudando na marcação, pressão alta e os zagueiros iniciando os ataques com bola no chão.
Coutinho montou a base do Flamengo que dominaria o mundo nos anos seguintes. Logo, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) o chamou de volta, mas para comandar a seleção principal.
Coutinho fez também a seleção evoluir taticamente, com atuações convincentes para levar o país para a Copa do Mundo de 1978. O Mundial, porém, não foi dos melhores.
As lesões, os problemas com os gramados e até a estranha goleada da Argentina sobre o Peru poderiam ser desculpas, mas a verdade é que a seleção não fez uma grande Copa e acabou eliminada.
Ainda assim, Coutinho seguiu na seleção. Iniciou a renovação do time que moldaria o belíssimo esquadrão de 1982, o do show na Espanha. Mas Coutinho não estaria lá: deixou o cargo depois de eliminação na semifinal da Copa América de 1979.
Coutinho voltou ao Flamengo, onde foi campeão carioca e, em 1980, terminou de lapidar o grande esquadrão rubro-negro de Zico, levando o time ao título do Campeonato Brasileiro de 1980.
No fim do ano, resolveu aceitar o desafio de trabalhar no futebol dos Estados Unidos, mas seu coração rubro-negro vibrou com a conquista da Libertadores de 81.
De férias no Rio, relaxava antes de trabalhar no futebol árabe, mas uma aventura fatal nas Ilhas Cagarras colocou fim a uma curta, porém inesquecível carreira.