O futebol arte sempre enfrentou a oposição do resultadismo. Desde o estilo tecelagem escocês diante do jogo corpulento inglês dos primórdios do esporte passando pela arte do Danúbio contra o pragmatismo italiano e a eficiência alemã nas primeiras Copas do Mundo até chegarmos aos duelos entre Pep Guardiola x José Mourinho do século XXI. Em 1982, os opostos se encontraram na Espanha, e uma seleção sublime acabou derrubada por Paolo Rossi e sua Azzurra que voltou a dominar o mundo.
A Copa do Mundo de 1982 foi disputada na Espanha, e os palcos espanhóis viram grandes craques do futebol mundial: de Zico a Maradona, passando por Boniek e Platini.
A Copa recebeu 24 participantes, contra 16 dos anos anteriores. Mesmo com o aumento no número dos participantes, o Uruguai não conseguiu classificação, ficando de fora para Chile, Peru, Brasil e Argentina, os representantes sul-americanos.
A seleção que encantou o mundo
A grande seleção da primeira fase, e talvez mesmo da Copa do Mundo, foi a seleção brasileira comandada por Telê Santana. O time de Zico, Falcão, Sócrates, Cerezo, Júnior e companhia encantou o mundo.
Em entrevista para oGol, Zico lembrou com carinho daquele verdadeiro esquadrão que brilhou nos gramados espanhóis durante o Mundial de 82.
"A gente tinha quatro jogadores entre os 100 melhores da Fifa: eu, Júnior, Sócrates e Falcão. Normalmente os caras dão essas premiações para quem ganha títulos. Então naquela seleção, quase todo mundo fez sucesso", recordou o Galinho.
A seleção tinha como base o Flamengo, campeão do mundo diante do Liverpool no ano anterior. O time de Telê, assim como o Rubro-Negro, apresentava um futebol ofensivo, que rendeu muitos gols durante o Mundial.
Na primeira fase, o Brasil sofreu para vencer de virada a União Soviética na estreia, mas depois engrenou e goleou Escócia (4 a 1) e Nova Zelândia (4 a 0).
Além da seleção brasileira, a única outra seleção que venceu todos os jogos da primeira fase foi a Inglaterra, que superou a França, de Platini (que também avançou na chave), o estreante Kuwait e a Tchecoslováquia.
O pragmatismo italiano
A Itália chegou na Espanha com pouca esperança. O técnico Bearzot comandava uma geração de jogadores não mais que esforçados, que não prometia muito para o Mundial.
A campanha na primeira fase foi condizente com a expectativa: a Azzurra empatou os três jogos (Polônia, Peru e Camarões) e avançou só por ter feito um gol a mais que os camaroneses.
Os italianos estavam longe do favoritismo na segunda fase de grupos, ainda mais depois de cair na chave do Brasil, o futebol arte, e da Argentina, de Maradona.
Maradona, então, sofreu com os italianos... Mais especificamente com Gentile. O volante fez diversas faltas no craque argentino, e ainda assim seguiu em campo. Com Maradona literalmente amarrado, a Azzurra venceu por 2 a 1.
Os brasileiros também venceram os argentinos, por 3 a 1, em mais uma grande exibição. E o grupo, disputado todo na antiga casa do Espanyol, o Sarriá, foi decidido no duelo entre Brasil e Itália.
O jogo do dia 5 de julho é conhecido no Brasil como uma "tragédia". Foi a partida em que Paolo Rossi escreveu seu nome como uma lenda das Copas do Mundo.
Nesta partida, a Itália mostrou ser um time além do pragmático: mostrou ter técnica, coragem para jogar de igual para igual com uma seleção eterna. Mas se consagrou por sua eficiência: Paolo Rossi marcou três vezes e o Brasil, para desespero de quem admira o futebol arte, foi mandado para a casa.
A Alemanha Ocidental, de Karl-Heinz Rummenigge, a Polônia, de Boniek, e a França, de Platini, também avançaram para a semifinal. Enquanto italianos bateram poloneses por 2 a 0, alemães e franceses fizeram um verdadeiro jogaço, dos mais marcantes naquele Mundial.
Depois de um empate de 3 a 3 com direito a prorrogação, que teve o polêmico pedido de pênalti francês por agressão do goleiro Schumacher em Battiston na área, a Alemanha se garantiu na final com um 5 a 4 nas penalidades, com o brilho de seu goleiro.
A grande decisão foi no Santiago Bernabéu, em Madri, e, apesar do primeiro pênalti perdido em uma final de Copa, desperdiçado por Cabrini, e de um gol de Paul Breitner, os italianos venceram por 3 a 1 e Dino Zoff levantou, aos 40 anos, o terceiro título mundial dos italianos.