Talvez David Beckham nunca tenha recebido o reconhecimento que merecesse enquanto jogador de futebol, mas isso é reflexo da revolução que ele próprio causou. Todo o marketing e tratamento de estrela recebido pelos jogadores que hoje faz parte do contexto do esporte só existe porque alguém teve que dar o primeiro passo - impossível de ser dado não fosse um craque, dentro e fora de campo.
David Robert Joseph Beckham nasceu no dia 2 de maio de 1975, em Leytonstone, na região metropolitana de Londres. Ao contrário do que muitos pensam, ele não começou a jogar futebol pelo Manchester United, onde marcou época, mas pelo pequeno Brimsdown Rovers, atualmente extinto. Antes de chegar aos Red Devils, Beckham ainda passou brevemente pela categoria de base do Tottenham. Só que a história estava destinada para ser escrita em casa, no clube de coração de sua família.
Turma de 92
Beckham chegou ao Manchester United aos 15 anos, sob olhares do lendário e maior treinador da história do clube, Sir Alex Ferguson. Em 1992, ano em que se profissionalizou, ele não se apresentava sozinho ao mundo da bola. Beckham era um dos integrantes da Class of 92, junto de ninguém menos que Ryan Giggs, Paul Scholes, Gary Neville, Phil Neville e Nicky Butt, todos advindos da categoria de base, com idade entre 16 e 19 anos.
A estreia de Beckham pelo United foi em setembro de 1994 e, logo na temporada seguinte, já era possível perceber que estaria destinado a grandes feitos. O craque do Manchester United naquela época era o francês Eric Cantona, que envergou a camisa 7 até 1997. Nos Red Devils, a camisa 7 está para a 10 na seleção brasileira, é o número que representa o principal craque do time. E quem herdou a camisa de Cantona foi justamente David.
A responsabilidade de assumir a camisa 7 e posto de referência vieram junto de um momento especialmente conturbado pelo jogador. A carreira de Beckham sempre se confundiu com seu estrelato fora de campo, tornando-se impossível dissociar uma imagem da outra. David nutria um relacionamento midiático com Posh Spice, talvez hoje mais conhecida como Victoria Beckham, mas que à época era uma das principais figuras pop do mundo, como um das cantoras do grupo Spice Girls.
Com isso, fora de campo, Beckham se tornava cada vez mais um fenômeno do marketing. O jogador passou a ser cobiçado como garoto propaganda e seus inúmeros cortes de cabelo geravam moda, o que nem sempre agradava a uma linha mais dura de treinadores da época.
O relacionamento com Victoria acabou por se tornar um ponto chave em sua carreira, seja dentro do sucesso ou da falta dele. Em 1998, Beckham caiu em desgraça na Copa do Mundo da França, ao ser expulso num jogo de oitavas de final contra a Argentina. Ele acabaria por ser considerado o culpado por aquela eliminação, e a mídia que o amava passou a persiguí-lo.
A rendenção de Beckham e que pôs fim a todo caos instaurado em sua carreira desde aquela expulsão foi o grande ano de 1999. O ponto alto nos 12 anos que vestiu a camisa do Manchester United. Comandado por Ferguson, Beckham guiou aquele time ao triplete, com as conquistas da Liga dos Campeões, Copa da Inglaterra e Premier League. O time ainda venceria o Mundial de Clubes.
Depois do ano perfeito, em que foi o líder em assistências na Champions e participou de 55 dos 63 jogos disputados pelo United, Beckham acabou em segundo lugar no prêmio de Melhor Jogador do Mundo da Fifa e também na Bola de Ouro.
A precisão ímpar nos lançamentos longos e a maestria nas cobranças de falta sempre foram a marca registrada do jogador, e foi justamente assim que ele ajudou o clube a empilhar troféus a perder de vista. O casamento entre Beckham e United, porém, teve fim em 2003, 394 jogos, 86 gols, e 12 títulos depois.
A estrela encontra os Galácticos
"Ele é um homem dos nossos tempos e um símbolo do estrelato dos dias modernos e o que é certo é que o Real contratou Beckham porque ele é um grande jogador e um profissional muito dedicado", essas foram as palavras de Florentino Pérez, então presidente do Real Madrid, na apresentação de Beckham como jogador do clube.
A história dos Galácticos, porém, não foi de tanto sucesso como se prometia. Em quatro temporadas, o time estrelado chegou ao fim e quase sem conquistas. O único troféu de Beckham chegaria em seu último ano, já sem a companhia de Ronaldo, Figo e Zidane, mas que serviu como um grand finale para David. Em 2006/07, Beckham venceu o título de La Liga numa improvável e histórica remontada contra o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho e Messi. O jogador passou grande parte da temporada no banco de reservas, já estava negociado com o Los Angeles Galaxy, mas teve seu retorno considerado como um dos catalisadores na corrida para o troféu.
Inglaterra, MLS, Milan e PSG
Na Inglaterra, Beckham não é apenas uma estrela do Manchester United. O meia é o terceiro jogador com mais partidas na história do English Team, com 115 participações e 17 gols. Pela seleção, não viveu apenas a decepção de 1998, mas se recuperou como responsável por levar a seleção para a Copa de 2002, foi capitão do time por 59 jogos, e acabou como símbolo de uma geração que passou com a sensação que poderia ter entregado mais.
O sucesso na MLS só veio mesmo a partir de seu terceiro ano. Com títulos e superando as dúvidas sobre seu comprometimento, Beckham se tornou a principal figura da liga e mudou a percepção internacional sobre o soccer. O sucesso foi tanto que, depois de aposentado, ainda se tornou dono de um clube que disputa a franquia, o Inter Miami. Anos mais tarde, contratou Lionel Messi, numa transferência daquelas que só pode acontecer porque o próprio Beckham havia explorado este terreno antes.
Beckham se aposentou em 2013 no Paris Saint-Germain, em mais uma dessas empreitadas cheias de estrelas, afinal Beckham nunca teve dúvidas de ser uma delas.