O Brasileirão de 2021 marcou o fim de um grande jejum. Sob o comando de Cuca, o Atlético Mineiro voltou a erguer a taça do Brasileirão após 50 anos. Primeiro campeão do Brasileirão, o Galo aguardava desde 1971 pelo título e foi coroado com o troféu em um ano mágico.
E, se a edição de 2021 foi especial para o Galo, o mesmo torneio foi frustrante para o Grêmio. Após campanha desastrosa no que tinha potencial para ser um grande ano, o Tricolor Gaúcho terminou rebaixado à Série B, assim como Bahia, Sport e Chapecoense. A Chape, inclusive, teve o pior desempenho da história do Brasileirão, com 15 pontos somados em 38 jogos.
Em contrapartida, quem também brilhou no torneio daquele ano foi o Fortaleza. Sob o comando do então pouco conhecido e recém-chegado ao Brasil Vojvoda, o Leão do Pici fez sua melhor campanha no Brasileirão e terminou com a vaga inédita à Libertadores, na quarta colocação.
Apesar de não brigar diretamente pelo título brasileiro com Sampaoli em 2020, o Galo terminou o torneio na terceira colocação. E as coisas pareciam animadoras para a temporada seguinte: nomes como Hulk e Nacho Fernández desembarcaram em Belo Horizonte para vestir preto e branco, assim como Diego Costa, Guilherme Arana, Tchê Tchê e Dodô.
Porém, o Galo passou por um baque no começo da temporada de 2021. Jorge Sampaoli, treinador responsável pelo bom desempenho atleticano em 2020, foi treinar o Marseille na França e abandonou o barco alvinegro. Para seu lugar, a diretoria foi atrás do velho conhecido Cuca, que fez história ano de 2013, conquistando a América.
Cuca foi responsável por dar mais oportunidades a alguns jogadores que tinham poucos minutos com Sampaoli. Foi o caso de Mariano. Convidado de oGol, o lateral entende que a chegada do campeão da Libertadores de 2013 para assumir a vaga na beira do gramado foi crucial.
“Ele (Sampaoli) joga da mesma maneira, ele tem um padrão de jogo. O Cuca, não. O Cuca joga muito em cima do adversário, que é o normal. No Brasil, o que a gente joga no Estadual, no Brasileirão, na Copa do Brasil e na Libertadores são quase 76 jogos. Então, 76 jogos, você jogando do mesmo jeito, é difícil”, disse o lateral, que dividiu os vestiários com Cuca em 2009 e 2010, pelo Fluminense, e o reencontrou no Atlético.
“O Cuca tem peças, ele quer elenco também. Porque ele gosta de dar essa rotatividade. Porque o campeonato é longo, são muitos jogos, a intensidade hoje é maior. Então para o próprio jogador, para os jogadores renderem, precisa ter esse descanso, às vezes mudar o estilo de jogo, às vezes você precisa dar a bola para o adversário e você baixar a linha um pouco mais. O adversário precisa se expor também, não só você se expor”, completou.
“Eu já estava com 34 anos, eu já não tinha a mesma velocidade (do tempo de Sevilla), a mesma intensidade, e isso o Sampaoli demorou a entender. Aí eu perco espaço com ele por causa disso. Tudo isso, o Cuca foi entendendo, porque no momento eu era outro, eu não era mais o Mariano que o Cuca trabalhou lá em 2009, com 23 anos, que atacava, atacava, atacava. Às vezes atuava na saída de três, um pouco mais recuado, dependendo do adversário. Eu também tinha a possibilidade de sair, de jogar como lateral direito mesmo”, finalizou Mariano, admirando a versatilidade do treinador.
Por conta da paralisação da pandemia da COVID-19 na metade de 2020, a temporada de 2021 começou imediatamente ao fim da anterior, com três dias de distância entre a 38ª rodada do Brasileirão e a estreia no Campeonato Mineiro. A estratégia adotada pelo Galo foi utilizar os jogadores que menos jogaram no estadual, como aconteceu com Mariano, e poupar os titulares para a Libertadores e para a reta inicial do Brasileirão.
Enquanto o Campeonato Mineiro foi um sucesso, com o título conquistado, assim como a Libertadores, com invencibilidade e melhor campanha na primeira fase, o Brasileirão começou com um baque. O Atlético levou a pior contra o Fortaleza na estreia em casa e somou outras duas derrotas consecutivas, contra Ceará e Santos, antes do campeonato chegar à décima rodada.
O clube alvinegro, porém, engrenou na sequência e começou a encurtar a distância para o então líder Palmeiras, que manteve a boa sequência da última temporada e liderou o torneio nas primeiras partidas. Até que chegou a 15ª rodada, quando o Palestra perdeu para o Fortaleza, algoz atleticano da estreia, por 3 a 2 e foi ultrapassado pelo Galo, que bateu o Juventude fora de casa, por 2 a 1.
A rodada seguinte reservou um confronto de cinema: Atlético e Palmeiras se enfrentavam em Minas Gerais, valendo a liderança do Brasileirão. A equipe alviverde começou com ligeira superioridade, mas, com a expulsão de Patrick de Paula no decorrer da primeira etapa, perdeu o controle do jogo e viu começar o show de Savarino. O venezuelano marcou duas vezes, uma nos acréscimos do primeiro tempo e outra no decorrer da segunda etapa, para levar o Galo ao triunfo, por 2 a 0.
E dali em diante foi só alegria para os mineiros. O Atlético chegou a ficar 18 jogos invictos, entre a oitava e a 26ª rodada (14 vitórias e quatro empates) e disparou na ponta da tabela. Com o bom desempenho, o clima era tranquilo nas palavras de Mariano, que foi eleito o melhor lateral direito do torneio na Bola de Ouro da ESPN.
“A gente ia para os jogos muito tranquilo. Muito leve, sabendo que não era, vamos dizer, menos pressão do adversário. É a fase, o futebol tem muito isso, quando você tá na fase boa, tudo dá certo, você vai muito leve para o jogo. A gente é muito tranquilo, estávamos com a cabeça muito boa, sabendo que as coisas iriam acontecer. A gente saía perdendo de 1 a 0 e virava o jogo. Contra o Bahia, que é o jogo que nos dá o título, a gente sai perdendo de 2 a 0 e vira o jogo em cinco, dez minutos. Foi um ano diferente mesmo para nós”, pontuou.
Além da grande campanha no Brasileirão, teve a histórica trajetória na Copa do Brasil. O Atlético passou por Remo, Bahia, Fluminense e Fortaleza até chegar à final, quando enfrentou o Athletico e fez mais história. O clube mineiro goleou por 4 a 0 e aplicou a maior vitória na decisão do torneio brasileiro até hoje. A Libertadores, que o clube também brigava pelo título, ficou perto de vir, mas o Galo sofreu a revanche do Palmeiras nas semifinais e deu adeus à Tríplice Coroa.
“A gente teve oportunidade. A gente saiu pelo critério do campeonato, né? A gente teve oportunidade em São Paulo, o Hulk perdeu um pênalti lá. Se a gente vem de lá com 1 a 0, a gente passava. E a gente faz 1 a 0 na nossa casa. E o Palmeiras era assim, né? O Palmeiras do Abel, nesse começo, eles jogavam por uma bola, era um time muito fechado que jogava só no contra-ataque. O Abel não era um cara que se arriscava muito, até hoje o time dele não se arrisca. A gente tomou um empate faltando, não sei, dez, cinco minutos pra acabar o jogo. Sendo que a classificação estava na nossa mão. Era uma semifinal. A gente indo pra uma final que a gente sabia que seria campeão. A gente seria campeão. A gente não tinha essa dúvida”, completou.
Nas palavras de Mariano, Hulk foi um dos pilares daquela temporada vitoriosa. Mais do que um grande atacante, o camisa 7 é uma pessoa fora de série.
“É um cara que gosta de vencer, não é à toa que vence. Que venceu na vida e está vencendo. É um cara que se cobra bastante, que cobra também seus companheiros, é um líder, é um capitão. Então, assim, ele dispensa comentários. Eu sou prova aí de convivência com o Hulk, de quatro anos, praticamente, que a gente conviveu no vestiário, um cara super do meio (futebolístico), um cara brincalhão, um cara que, em qualquer momento, em qualquer hora que você precisar, pode contar com ele. É um cara de um coração gigante, de uma humildade imensa e que merece tudo que conquistou”, disse Mariano.
E dentro das quatro linhas não poderia ser diferente. Foram 19 gols marcados em 35 jogos pelo Campeonato Brasileiro, sendo coroado como artilheiro de todo o torneio. A referência ofensiva foi crucial para transformar o ano de 2021 em um ano lendário para o torcedor atleticano.
Média de gols: 2,22 gols/partida
Melhor ataque: Flamengo - 69 gols
Melhor defesa: Atlético Mineiro - 34 gols sofrido
Artilheiro: Hulk - 19 gol
Jogador com mais partidas: Tiago Volpi (São Paulo) - 38 jogos