Que todo Campeonato Brasileiro é difícil e disputado o torcedor de qualquer time já sabe. Porém, a dificuldade e, consequentemente a pressão, de uma equipe aumenta quando ela é eliminada no Estadual pelo arquirrival, cai na Libertadores para um adversário sem tradição e durante o nacional perde uma dupla de ataque formada por ídolos que foram os protagonistas dos dois maiores títulos de sua história.
O Corinthians de 2015 passou por tudo isso e, de maneira impressionante, deixou os rivais para trás, abriu larga vantagem, ganhou a competição com três rodadas de antecedência, goleou o rival e ainda teve Renato Augusto como melhor jogador nas duas eleições de maior prestígio nacional: o Bola de Prata e o Prêmio Craque do Brasileirão. Ao final do ano, o melhor ataque com 71 gols marcados e a defesa menos vazada com 31 sofridos viu o Atlético Mineiro a 12 pontos de distância.
O começo do Brasileiro foi conturbado para o Corinthians. Eliminado na semifinal do Paulista para o arquirrival Palmeiras, nos pênaltis, o clube sofreu um duro golpe na Libertadores. O Timão fez sua parte e avançou como líder do grupo 2, que ainda tinha São Paulo, segundo colocado, San Lorenzo, então atual campeão, e Danubio. Mas nas oitavas, o Alvinegro caiu para o Guarani, do Paraguai, o que gerou pressão em torno do elenco.
"Foi um momento difícil. Nós estávamos montando um time competitivo e saímos precocemente dessas competições. As pessoas tiveram dúvidas e passaram a apontar o dedo. Nós sabíamos que o nosso time era bom. Quando se trata de time grande, existe a expectativa por títulos. Nós tivemos que focar no Brasileiro, nos fechamos, trabalhamos e quando vimos, estávamos voando e conquistamos o campeonato", contou o volante Cristian a oGol.
"Pra nós foi muito ruim porque eram dois jogadores importantíssimos. Um, autor do gol do Mundial, outro, com gols na final da Libertadores. O clube vivia uma montagem de time diferente, os campeões de 2012 estavam saindo. Quando eles saíram, nós sentimos muito. Mas por outro lado, chegaram jogadores como o Vágner Love que trabalharam forte e ajudaram o time a encaixar’’, comentou Cristian.
Já sem a dupla de ataque, o Corinthians foi derrotado no Dérbi para o Palmeiras, por 2 a 0, em plena Arena, e pelo Grêmio, em Porto Alegre, por 3 a 1, resultados que deixaram o time a cinco pontos do então líder Athletico Paranaense. O clube ainda se recuperou ao bater o Joinville, em Santa Catarina, por 1 a 0, e o Internacional, em São Paulo, por 2 a 1, antes de reencontrar a derrota em novo clássico, dessa vez, por 1 a 0 para o Santos, na Vila Belmiro. Revés que ficou para trás e quase não foi lembrado na continuidade da campanha.
"Quando o Luciano começou a ser titular e o Vágner Love foi para o banco, nós torcíamos da mesma maneira, porque, automaticamente ele indo bem, todo mundo iria também. Éramos um grupo muito unido. Infelizmente, ele teve essa lesão, que foi muito triste, mas ficamos felizes também por ver que a situação mudou totalmente para o Vágner Love. Nos abraçamos, demos força ao Luciano e ele retribuiu. É complicado quando o jogador tem lesão em um bom momento, precisa de apoio, mas ele tinha a cabeça boa e se recuperou", lembrou Cristian.
O Timão só foi reencontrar a derrota no Brasileiro na 26ª rodada, quando perdeu para o Internacional, no Beira Rio, por 2 a 1. Entretanto, o Atlético Mineiro foi goleado pelo Santos no litoral paulista por 4 a 0 e a distância para o principal concorrente permaneceu em cinco pontos. Depois disso, nova sequência de resultados positivos. Um dos motivos que ajudam a explicar a consistência da equipe era a presença de jogadores experientes.
Além de Cristian, na época com 32 anos, o plantel de Tite contava com Danilo (36), Edu Dracena (34), Ralf (31), Jádson (31), Vágner Love (31) e Elias (30). Por outro lado, havia uma mescla com a juventude dos pratas da casa Guilherme Arana (19) e Malcom (18). Apesar de jovens, a dupla já possuía experiência para agregar ao grupo.
"Foi muito legal porque os dois eram muito calejados da base, sentiam a adrenalina. A cobrança na base é forte. Eles eram jogadores diferenciados nos treinos. Eu sempre comentava com o Arana que ele tinha muito potencial, mas não estava tendo oportunidades. Eles são moleques do bem e nos ajudaram até demais, já que estavam acostumados com o clima 'Corinthians'. Eles nos ajudaram e nós os ajudamos", contou o experiente Cristian.
O Corinthians seguia líder, com o melhor ataque e defesa menos vazada, mas via, ainda que não de muito perto, o Atlético Mineiro tentando uma aproximação. Na 33ª rodada, os dois alvinegros se enfrentaram na capital mineira. Naquela altura, o Galo estava a oito pontos de distância e uma derrota no confronto direto poderia complicar os planos corintianos.
No segundo tempo, não deu para o Atlético Mineiro. A expressiva vitória corintiana começou a ser construída aos 22, quando Jádson aproveitou o rebote e cruzou na cabeça de Malcom, que mandou no contrapé de Victor e abriu o placar. Seis minutos depois, bola nos pés de Jádson novamente e passe para Vágner Love, que limpou a marcação e finalizou no alto: 2 a 0. Ainda teve tempo para Renato Augusto levantar na área e Lucca, de voleio, fazer um golaço e definir.
"Foi o jogo mais marcante, ainda mais para mim que sou mineiro. Rolou um clima de decisão e Belo Horizonte parou. Eles criaram um 'jogo de final' absurdo. Nós entramos com muita concentração porque sabíamos que seria um passo enorme rumo ao título e conseguimos dar um baile dentro do Independência. Eu considero um divisor de águas. Se perdêssemos, eles encostariam, mas se ganhássemos, iríamos nos afastar e com certeza, não chegariam mais em nós", comentou o volante que entrou na reta final do jogo.
Depois da convincente vitória em Minas Gerais, o Corinthians bateu o Coritiba, em casa, por 2 a 1 e foi até São Januário encarar o Vasco. O gol de Vágner Love garantiu o empate e o título com três rodadas de antecedência. A festa começou no dia 19 de novembro, ao final do duelo com o Cruz-maltino e só terminou no apito final da partida seguinte, três dias depois.
Isso porque na 36ª rodada, o campeão Corinthians recebeu o São Paulo, em Itaquera. Antes da bola rolar, Tite havia comunicado que o Timão iria a campo com um time reserva. Apenas Cássio, Felipe e Ralf, dos considerados "titulares", iniciaram a partida. E o placar foi surpreendente: vitória de goleada por 6 a 1, o maior resultado do Majestoso, nome dado ao confronto entre as duas equipes, com direito a defesa de pênalti do goleiro corintiano.
A conquista aumentou a coleção de troféus de Tite no comando do Alvinegro. O treinador já havia vencido o Brasileiro em 2011, a Libertadores e o Mundial, em 2012 e o Paulista e a Recopa Sulamericana, em 2013. O técnico deixou o clube no meio da temporada seguinte para assumir a seleção. O volante Cristian destacou as qualidades do ex-comandante.
"O Tite é muito transparente, se entrega muito e é competitivo demais. Ele gosta do alto nível e tira o máximo de cada atleta nos treinamentos. Ele sabia que tudo aquilo que treinássemos, iríamos fazer no jogo. Aí que está o diferencial dele. É um cara concentrado e intenso em tudo o que faz, não à toa é o técnico da seleção", finalizou o jogador.
Média de gols: 2,36 gols/jogo
Melhor ataque: Corinthians - 71 gols
Melhor defesa: Corinthians - 31 gols sofridos
Artilheiro: Ricardo Oliveira (Santos) - 20 gols
Jogador com mais partidas: Victor (Atlético Mineiro) - 38 jogos