O Palmeiras é o líder do Campeonato Brasileiro. Saiu da pressão pelo título (paulista) perdido para o rival (Corinthians) para o alívio pelo novo momento. E uma nova versão tática do time, com inspiração no WM, parece ser responsável por esse momento positivo.
No futebol brasileiro, a gente já conhece: qualquer sequência ruim é suficiente para fazer desabar o mais sólido alicerce. Incomparável na história palmeirense, Abel Ferreira já sofria com as críticas e seu futuro era colocado como dúvida. Não pela presidente Leila Pereira, mas por parte da crítica e torcida.
Pois bem, o que os palmeirenses chamam de "Abel do Velho Testamento" recolocou o time no eixo. E sempre que uma crise assim surge, é necessária uma nova variação tática. Todo modelo de jogo é adaptável, e toda a estrutura tática precisa de inovação para prosperar.
Abel já fez isso em outros tempos, foi campeão brasileiro em 2023 assim. Agora, em 2025, traçou um "novo plano" para a equipe reagir em campo. E o "acaso" também ajudou um pouquinho.
Não vamos tirar aqui, em nenhum momento, com nenhuma vírgula ou parêntesis, o mérito do trabalho de Abel. Mas o próprio treinador já garantiu, em coletiva, que a nova função de Estêvão, como um camisa 10, se deve mais a lesões no elenco do que a uma opção da comissão.
Ainda assim, Estêvão saiu da ponta direita para o meio. Com liberdade para flutuar pelo corredor central e também aparecer, de acordo com a leitura dos espaços, nos corredores laterais, Estêvão cresceu de desempenho, e não só: conseguiu, com sua grande capacidade criativa, fazer os companheiros também crescerem.
O WM
O papel dos alas voltou a ser fundamental para o sucesso do Palmeiras de Abel, isso não é novidade. A estrutura de saída de bola do time para a transição ofensiva segue uma tendência hoje em dia no futebol mundial, em uma espécie de releitura do antigo esquema WM.
WM, lembre-se, foi o esquema consolidado por Herbert Chapman no Arsenal na década de 1920 para se adaptar a mudança na regra do impedimento (que passou a exigir apenas dois jogadores entre o atacante e a linha do gol). O WM seguiu como tendência até os anos de 1950 e, inclusive, foi escolhido como vilão no Maracanazo de 1950.
O 3-2-2-3 palmeirense tem uma saída 3+2 com Giay ao lado de Gómez e Micael na defesa e um duplo-pivô (Emi Martínez e Richard Ríos). Micael, zagueiro canhoto com ótima capacidade no passe, e Giay, lateral de origem que também verticaliza o jogo, dão velocidade nessa saída.
Com Estêvão por dentro, e Piquerez como ala na canhota, Felipe Anderson cresceu de produção jogando como ala pela direita. É o melhor momento do ex-Lazio pelo clube. Facundo joga ao lado de Estêvão atrás do atacante referência, que geralmente é Vitor Roque, e contra o Fortaleza foi Flaco.
O esquema pode ajudar, também, a potenciar Paulinho, que ganha espaço aos poucos no time e pode, assim, jogar como um meia-atacante atrás de Vitor Roque, e até trocar de posição com o camisa 9 em determinados momentos. Time versátil é time imprevisível, e time imprevisível dá dor de cabeça para os adversários.
Na transição defensiva, o Verdão pode montar uma linha de 5, em transição 5-3-2, ou 5-4-1, a depender do momento do jogo. Pode contar com Estêvão e Facundo para ajudar na recomposição defensiva, já que são jogadores velozes e taticamente muito evoluídos.
Abel mudou um pouco algumas abordagens, mas manteve a essência de seu modelo de jogo. Fez as adaptações necessárias, com certa inspiração em um esquema de 100 anos, e volta ver o Palmeiras render o que se espera dele. Repertório tático nunca faltou ao português.