O conceito de franquia que o norte-americano (estadunidense e canadense) trouxe para o esporte talvez nos afaste do entendimento da relação do torcedor com o soccer. O futebol seguiu o basebol, basquete, hóquei, e demais esportes e a Major League Soccer foi construída para receber franquias, que representam cidades. Comunidades futebolísticas. O Columbus Crew foi campeão no fim de semana da Leagues Cup e se coloca, mais uma vez, entre os favoritos para conquistar a MLS, esboçando uma soberania local. Mas o clube esteve perto de perder sua essência quando seu antigo dono tentou mudá-lo de cidade. A história do futebol estadunidense poderia ter sido outra não fosse a paixão dos fãs pelo esporte.
Já vimos, em países de maior tradição no futebol, casos semelhantes. Mesmo na Inglaterra, o MK Dons surgiu em Wimbledon, e hoje o encontro com o AFC Wimbledon, fundado por torcedores do antigo clube da cidade, é um dos mais aguardados das divisões inferiores do futebol britânico. No Brasil, acompanhamos de perto os casos de Barueri, Boa Esporte e Boca Juniors do Sergipe, por exemplo.
A história quase se repetiu nos Estados Unidos quando Anthony Precourt, então dono do Crew, anunciou em 2017 planos para mudar o time da cidade para Austin, no Texas. Imediatamente, a comunidade local subiu a campanha #SaveTheCrew, que ganhou apoio não só de torcedores, mas de empresários locais e também dos governos municipal e federal.
A comoção terminou, em 2018, com a aquisição do clube por um grupo liderado por Dee e Jimmy Haslam (proprietários do Cleveland Browns) e pelo Dr. Pete Edwards, um médico local que já tinha uma longa relação com a equipe.
O "Novo Columbus" surgiu em um projeto ambicioso, que teve como ponto crucial enraizar ainda mais o clube na cidade. Os dois pilares para a nova era do clube foram os projetos para a construção do novo estádio, o Lower.com Field, e do novo centro de treinamentos, o OhioHealth Performance Center.
A construção do novo centro de treinamentos, projetado para ser referência na América do Norte, começou em 2019, enquanto as obras para o novo estádio se iniciaram em 2020.
A escolha do local do novo estádio foi estratégica: a Arena District, no centro de Columbus. O Lower.com Field foi construído atrás da torre de exaustão da antiga Municipal Light Plants, companhia que começou a fornecer energia elétrica para a cidade em 1905. Utilizando a nova tecnologia de turbina a vapor e a nova eletricidade de Corrente Alternada desenvolvida por Nikola Tesla, a usina colocou Columbus na vanguarda da geração eficiente de energia e impulsionou o crescimento da cidade.
"Percorrendo o local, a torre de exaustão é um marco óbvio da história na paisagem de Columbus que, imediatamente, chama a atenção. É daqueles momentos imperdíveis para você unir a sua marca com a cidade", disse na época Steve Lyons, diretor de negócios do Crew, que mandou pintar a torre com as cores do clube.
O Lower.com Stadium é um dos estádios mais modernos da MLS. Com capacidade para cerca de 20 mil pessoas, custou pouco mais de 300 milhões de dólares e possui uma cobertura que abrange todos os assentos. Há, também, espaço para se torcer em pé: a Nordecke é uma área sem cadeiras que recebe cerca de três mil torcedores.
Centro de excelência
O OhioHealth Performance Center é um dos centros de treinamentos mais equipados da América do Norte. Construído atrás do Historic Crew Stadium, antigo estádio do Columbus, o CT se espalha em uma área de 42,300 mil metros quadrados e conta com quatro campos, dois de grama natural idênticos ao do Lower.com Field; oito vestiários, incluindo o principal para 34 jogadores; academia, centro de recuperação e tratamento com piscina, dormitórios, barbeiro e um cinema, com capacidade para 40 pessoas, que a comissão técnica usa para analisar jogos e passar situações táticas aos atletas.
O centro de alta performance engloba todas as equipes do Columbus em um só lugar: do time principal a equipe sub-15. A equipe B, que joga a MLS Next Pro, manda seus jogos ali atrás, no Historic Crew Stadium.
"É realmente importante que a gente tenha uma grande integração. Nós queremos que os jogadores façam a trajetória da base ao profissional e, para isso, precisamos que estejam todos debaixo do mesmo teto, perto, aonde exista entendimento e colaboração, da base ao profissional. Estamos todos juntos, então é fácil compartilhar ideias. É importante mostrar aos jogadores da base que no final do corredor está aonde eles querem chegar", disse Caleb Porter, técnico do Columbus na época da inauguração.
Investimento no time
Além de investir em estrutura, a nova diretoria do Columbus, também, fez um investimento considerável em reforços para a equipe principal. As quatro maiores contratações da história do clube aconteceram a partir de 2020.
O armênio Lucas Zelarayán foi o primeiro grande reforço e, até então, maior contratação da história do clube, que custou pouco mais de sete milhões de dólares. Chegou em 2020 e deixou o clube ano passado. Foram contratados nesta temporada Marino Hinestroza (ex-Pachuca) e Diego Rossi (ex-Fenerbahçe) por cerca de dez milhões de dólares.
Quem mudou o patamar da equipe, entretanto, foi Cucho Hernández. Contratação mais cara da história do Crew, Cucho chegou do Watford, da Inglaterra, por mais de dez milhões de dólares em junho de 2022. Principalmente a partir de 2023, após a saída de Zelarayán, o colombiano se tornou o protagonista da equipe e, na última temporada e meia, contribuiu diretamente com 62 gols.
Sob nova direção, o Columbus Crew já foi duas vezes campeão da MLS e levantou, ainda, a taça da Campeones Cup da Concacaf. No domingo, com dois gols e assistência de Cucho, o time conquistou pela primeira vez a Leagues Cup.
Com três jogos a menos, o Columbus Crew tem a terceira melhor campanha de sua conferência na MLS. Quando voltar a focar na liga, sem dúvida será a grande ameaça de Inter Miami e Los Angeles Galaxy, melhores campanhas até o momento.