O intercâmbio entre brasileiros e argentinos, desde sempre, ficou reconhecido por ser uma via de mão única. Enquanto o número de hermanos cresce de forma efervescente no lado de cá da fronteira, os brasileiros continuam sendo raros no país vizinho.
A flexibilidade imposta pela CBF abriu o caminho para uma invasão argentina no futebol brasileiro. Questões econômicas, facilidade de adaptação e maior visibilidade atraem os estrangeiros para um Brasileirão pluralizado.
Por outro lado, o futebol argentino não se apresenta atraente aos brasileiros. O estilo de jogo particular e a dificuldade econômica dos últimos anos fizeram com que mercados como o Paraguai, Uruguai e até Bolívia despertassem maior interesse de atletas brasileiros.
Na última semana, a Liga Argentina deu o seu pontapé inicial para esta temporada e, pelo sétimo ano consecutivo, a competição iniciou com apenas um brasileiro inscrito. Rick Lima será o "guerreiro solitário" da vez no país vizinho.
Antes do atacante recém-contratado pelo Talleres, o jovem Lenny Lobato, formado pelo Vélez Sarsfield e atualmente no Sport, permaneceu por três anos sendo o único brasileiro na elite do futebol local.
Guilherme Parede, pelo Talleres em 2020 e 2021, Tiago Pagnussat, pelo Lanús em 2019, e Mosquito, pelo Arsenal de Sarandí em 2018, completam a lista dos brasileiros solitários nos últimos sete anos.
O atacante maranhense, de 25 anos, pode até ser um nome pouco conhecido no futebol brasileiro, mas chegou quebrando recordes no Talleres. Contratado nesta temporada junto ao Ludogorets, da Bulgária, Rick custou cerca de R$37 milhões ao time argentino e se tornou a transferência mais cara da história do clube. O brasileiro superou a marca paga pelo meia Matías Galarza, de R$22 milhões.
Rick tem o "DNA argentino", por coincidência, desde o início da sua carreira. O atacante começou a sua formação no Boca Júnior, clube sergipano que homenageia os Xeneizes no nome e nas cores do uniforme.
Ainda no início da sua trajetória, Rick chegou às categorias de base do Ceará e começou a sua transição para o profissional. O jogador estreou aos 18 anos pelo Vozão e, nos anos seguintes, intercalou entre atuações no time principal e nas equipes de base.
Em 2021, o atacante ganhou uma oportunidade em definitivo no Ceará e construiu a temporada mais artilheira da carreira, com sete gols em 41 jogos. O atuação de destaque abriu o caminho para a ida ao futebol europeu, sendo contratado pelo Ludogorets.
Em três temporadas e meia na Bulgária, Rick deixou 17 gols marcados e 21 assistências em 119 partidas. O brasileiro atuou no clube búlgaro ao lado de atletas que disputam o Brasileirão, como Cauly, do Bahia, Nonato, do Fluminense, Alex Santana, do Corinthians e Rwan Cruz, reforço acertado com o Botafogo.
Durante o período no Velho Continente, Rick teve seu nome vinculado ao futebol brasileiro, mas não recebeu uma possibilidade real de retorno. O atacante então aceitou o desafio de se aventurar na Argentina e tentar desbravar um território pouco acessível aos brasileiros.
O ponta é considerado uma aposta alta do Talleres para o seu retorno à Libertadores. O clube de Córdoba investiu apenas em quatro reforços para esta temporada e manteve a base do time vice-campeão nacional em 2024. A equipe é comandada por Alexander "Cacique" Medina, uruguaio com rápida passagem pelo Internacional em 2022.
Nas duas rodadas iniciais, Rick entrou apenas nos minutos finais e pouco conseguiu fazer para evitar as duas derrotas do Talleres para Independiente e San Lorenzo. Com toda a temporada ainda para mostrar o seu talento, o atacante é mais um corajoso brasileiro a tentar igualar os feitos históricos de Domingos da Guia (Boca Juniors, 1935/36), Silas (San Lorenzo, 1994/97) e Iarley (Boca Juniors, 2003) ao desbravar o futebol hermano.