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A pantera negra: Lilian Thuram, símbolo da luta dentro e fora de campo

Texto por Leonardo Parrela
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Mais de 6 mil quilômetros separam Pointe-à-Pitre, na Ilha de Guadalupe, um território ultramarino francês, de Paris. Dificilmente algum dos mais de 75 mil presentes no Stade de France esperavam ver Lilian Thuram marcar dois gols para classificar a França para a sua primeira final de Copa do Mundo. Mas assim o foi e o imigrante - como boa parte daquele time de 1998 - deu alegria a toda nação e relembrou a importância da própria luta fora do campo.

Ruddy Lilian Thuram-Ulien nasceu na cidade que é o centro comercial de Guadalupe no dia 1 de janeiro de 1972. Aos nove anos, junto da mãe e dos irmãos, se mudou para França. Apegado ao futebol, que praticava nas ruas da sua cidade natal, encontrou em Paris uma realidade diferente. Morando nos subúrbios parisienses, ele conheceu e sentiu de perto o preconceito da sociedade francesa contra imigrantes.

"Eu queria saber porque a cor branca está associada ao bem e a cor preta ao mal", diria anos mais tarde no livro que escreveu, publicado em 2004.

O livro leva como título "8 de julho de 1998", dia da semifinal entre franceses e croatas pela Copa do Mundo, disputada na França. Thuram, naquele dia, foi a epítome do quão surpreendente pode ser a vida e de como o futebol consagra heróis improváveis. Batalhando pelo título em casa, a França viu sua adversária sair na frente com Davor Suker. Jogando na lateral direita, Thuram brilhou no segundo tempo e marcou seus únicos dois gols com a camisa da seleção. Colocou o time numa inédita final e, posteriormente, ajudou a dar o título numa seleção que tinha o brilho de um filho de imigrantes: Zinedine Zidane. 

Até 2022, era o jogador com mais jogos defendendo Les Bleus com 142 partidas - foi passado por Hugo Lloris. Por mais orgulho que tivesse defendendo sua pátria, Thuram nunca fugiu do debate fora do campo. Comprou brigas com políticos como o ex-presidente Nicolas Sarkozy em razão de falas sobre imigrantes. Hoje aposentado, toca uma fundação própria que discute, principalmente, racismo. Tem participação em pelo menos 20 livros que discutem a temática. Até a explosão no dia 8 de julho, Thuram teria um longo caminho. 

O início no Monaco

Nascido longe da França e criado no subúrbio da capital, Thuram teve o início de sua carreira no principado de Mônaco. Em 1989 chegou para integrar as categorias de base do clube, mas machucou o joelho e os médicos da equipe consideravam a recuperação difícil - ali,Thuram, novamente, venceu. Fez sua estreia pelo profissional em 1991, sob o comando de Arsène Wenger. A partir da temporada 1991/92 foi presença constante na equipe titular junto de nomes como Emmanuel Petit, Youri Djorkaeff, Thierry Henry e George Weah. Aquela equipe conquistaria apenas o título da Copa da França em 1991, mas ficou marcada pelo bom futebol sob o comando do promissor técnico francês.  

Desde muito cedo, se destacou pelo porte físico e pela imposição em campo. Thuram jogava tanto como zagueiro quanto como lateral direito. Além disso, tinha técnica com a bola nos pés e um excelente posicionamento. Aos poucos, foi se tornando insubstituível na equipe do principado. Acumulou boas campanhas no campeonato nacional e também na Liga dos Campeões. Suas atuações começaram a fazer com que ele fosse presença frequente na seleção, com sua primeira convocação acontecendo em 1994. 

La pantera nera

Thuram e Cannavaro
Após boa participação na Euro de 1996 defendendo a seleção, Thuram chamou atenção do futebol mais poderoso do mundo à época. Com boas propostas, aceitou o convite do Parma, equipe que tinha um outro defensor de nível mundial e que Thuram encontraria mais vezes pelo caminho do futebol: Fábio Cannavaro. Junto do italiano, formou uma das melhores zagas da história do clube. Suas atuações ajudaram a equipe a chegar ao vice-campeonato italiano em 1997 e o zagueiro foi eleito o melhor francês do ano pela France Football no mesmo ano. 

Passou da lateral para zaga e seguiu atuando em alto nível no mais importante futebol do mundo. Foi eleito o melhor jogador estrangeiro e o melhor zagueiro do campeonato em 1998 e ajudou sua equipe a conquistar o "triplete das Copas": Coppa Italia, Copa da Uefa e, mais tarde, a Supercoppa Italiana. As atuações no futebol italiano renderam o apelido de Pantera Negra (La pantera nera). O alto nível no clube o fez dar um outro salto ainda dentro do futebol no país da bota. 

Foi em 2001 quando a Juventus resolveu gastar o maior valor da história por um zagueiro (e jogador francês) e tirou Thuram do Parma por 36,6 milhões de euros. Defendendo o clube de Turim, se firmou como zagueiro e logo nas duas primeiras temporadas, conquistou o título que havia escapado: o Scudetto. Foram dois, em sequência, sob o comando de Marcello Lippi que chegou a apelidá-lo de "Zidane da zaga". Ainda conquistou a Supercoppa Italiana em 2002 e foi vice-campeão da Liga dos Campeões em 2003. 

Foram cinco temporadas jogando na zaga da Velha Senhora e alternando entre zaga e lateral na seleção francesa. No período que esteve na Itália, ajudou a França a ser campeã da Eurocopa em 2000, formando zaga com Desailly, Blanc e Lizarazu. Fez parte da seleção da Euro e manteve os franceses no topo do ranking da Fifa. Foram 205 partidas na equipe bianconera e uma geração de torcedores impactados. 

Retorno à seleção francesa

Lilian Thuram
França
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Thuram tinha decidido se aposentar da França após a eliminação na Euro de 2004. Já jogando como zagueiro, caiu com sua equipe nas quartas de final para a então surpresa Grécia - que viria a ser campeã do torneio. Em 2005, com a seleção tendo dificuldades para buscar a classificação para a Copa do Mundo, foi convencido a voltar a defender a equipe. Formou zaga com Gallas e seguiu atuando em alto nível, ajudando a equipe a se classificar para o torneio e, depois, ser vice-campeã mundial - perdendo para a Itália, onde tanto jogou que tinha como capitã seu ex-companheiro de equipe, Fabio Cannavaro. 

A derrota para a mesma Itália, agora na Euro de 2008 - competição na qual Thuram foi capitão da França, sacramentou o fim de uma vitoriosa carreira internacional. Ele se aposentou com o recorde de aparições pela equipe e, além disso, integrou duas gerações que sucesso da seleção. A versatilidade deu a ele condição de ser campeão mundial como lateral-direito e vice-campeão mundial, oito anos depois, como zagueiro. 

A despedida na Catalunha

Depois do escândalo do Calciopoli que tirou da Juventus os títulos de 2005, 2006 e rebaixou o clube para Série B, Thuram chegou ao Barcelona - que havia acabado de conquistar a Liga dos Campeões na França sobre o Arsenal de Wenger e Henry. Em 2006, Thuram chegou ao clube com 34 anos e já sofrendo com lesões. Ao longo de duas temporadas, foram 58 jogos e o título da Supercopa Espanhola. Já sem o mesmo vigor físico, Thuram ainda tentaria retornar à França para jogar no PSG, no entanto, seu coração brecou o último suspiro de futebol. 

Nos exames médicos para assinar com o clube parisiense, foi detectada uma anomalia em seu coração - uma espécie de estreitamento de algumas partes do órgão. Condição semelhante havia tirado a vida de um dos seus irmãos e, tempos depois, o zagueiro confessaria que não soube como passou nos exames médicos do Monaco com essa condição. Confirmou a aposentadoria no dia 2 de agosto de 2008.

Palestras, livros e embaixador da Unicef

Gozando do enorme prestígio que teve dentro de campo, Thuram usou a plataforma e o espaço como jogador para encampar com mais vigor suas lutas. Criou sua própria fundação, fez parte de grupos de estudos e palestras por todo o mundo e se tornou embaixador da Unicef para continuar na luta contra o racismo. É um dos principais nomes do documentário "Les Bleus – Une Autre Historie de France 1996-2016" que conta a relação do futebol com a sociedade na França.  

No mundo, há três estádios que levam seu nome - dois na França, um em Guadalupe. É mais uma representação do que ele falaria, anos depois, numa entrevista ao jornal Marca, no lançamento de um dos seus livros. 

"Creio que o futebol é mais que futebol, é um esporte que deve se comprometer e formar parte da sociedade civil. Porque os jogadores muitas vezes vêm de lugares desfavorecidos e acabam sendo profissionais, as pessoas que vêm assistir aos jogos se reconfortam. É a vida. O futebol é uma metáfora da vida", afirmou.

Além de tocar sua vida fora dos campos, Thuram vê seu nome seguir no futebol de alto nível. Seus filhos Marcus e Khéphren carregam o legado do pesado sobrenome dentro do campo.

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Lilian Thuram (FRA)
Lilian Thuram (FRA)

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