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    As luvas santas de Michel Preud'Homme

    Texto por Eduardo Massa
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    Não há quem tenha acompanhado de perto a Copa do Mundo de 1994 que não guarde na memória a imagem de Michel Preud'Homme, com seus revoltos cabelos longos encaracolados e seu olhar impávido. Acima de tudo, a memória de suas defesas impossíveis, de um guardião que fazia os adversários tremerem. Um goleiro que seria reverenciado internacionalmente, e que ganharia ares de santidade no fim da carreira.

    A Copa dos Estados Unidos foi marcada pelo tetra e por Romário, mas foi também a Copa de Michel Preud'Homme. Mas o belga já era um veterano, e se fora da Bélgica poucos o conheciam, azar. Na Bélgica, todos sabiam de sua capacidade.

    Títulos e escândalo

    Com apenas 18 anos já era possível perceber que Preud'Homme era um talento fora do normal. Cria do Standard Liège, o goleiro foi chamado por circunstâncias inesperadas para assumir o posto de titular. E passaria a ser o novo dono da posição, apesar da juventude e inexperiência, que costuma ser uma inimiga da posição.

    Dois anos depois da estreia, Preud'Homme já era um nome respeitado na Bélgica com a conquista de seu primeiro título na elite: a Copa da Bélgica. Um troféu que rendeu ao clube a classificação à Taça dos Clubes Vencedores de Taças, também conhecida pelo nome menos esdrúxulo de Recopa Europeia. O sucesso acabaria por ser também o início de um escândalo que abalou o futebol belga.

    Preud'Homme começou a ganhar algum reconhecimento internacional por conta da campanha incrível do Standard Liège na competição europeia. Ao mesmo tempo, o clube atingia o topo na Bélgica depois de 10 anos de seca, mas não da forma mais limpa. Tudo por conta da ambição e do medo. O Standard precisava de apenas um empate para ser campeão belga na última rodada contra o modesto Waterschei, porém estava mais preocupado com a viagem para a Espanha para enfrentar o Barcelona na final da Recopa, poucos dias depois. Os dirigentes do clube tiveram então a ideia de subornarem os rivais, com pedido especial para evitarem entradas duras e lesões. Tudo foi descoberto dois anos mais tarde. E o Barcelona acabou campeão depois de vencer o Standard por 2 a 1.

    Antes de descobrirem o suborno, no entanto, Preud'Homme sagrou-se bicampeão belga com o Standard. Apenas em 84 veio o julgamento e a punição coletiva. Como boa parte dos atletas do Standard, o goleiro garante só ter tomado conhecimento do suborno quando foi descontado em parte dos salários (que foram pagos ao rival), mas o envolvimento indireto (ou direto em alguns casos) custou a todos punições de seis meses a um ano e meio.

    As temporadas de 84/85 e 85/86 foram perdidas para Preud'Homme, com seu prestígio abalado e um desgaste no clube onde era ídolo. O goleiro decidiu mudar de ares, para o mais modesto KV Mechelen, em uma decisão estranha, mas que renderia muitos frutos.

    O auge e a surpreendente conquista na Europa

    O investimento do Mechelen em Preud'Homme e outros nomes de peso para o cenário belga, como Erwin Koeman, foi logo recompensado. O clube galgou patamares rapidamente e quase foi campeão já em 1986/87, com apenas dois pontos atrás do Anderlecht. Na Copa, o time levou a melhor sobre o Standard Liège: o primeiro título na elite depois de uma seca de quase quatro décadas.

    De quebra, Preud'Homme teve nova chance na tal Recopa Europeia. E se a missão de vencer na Europa era considerada improvável com o Standard, ninguém colocaria suas fichas no modesto Mechelen. Mas o goleiro seria o trunfo para uma conquista inédita e histórica, parando na final o Ajax de Johan Cruyff, com nomes como Dany Blind, Aron Winter e um jovem Denis Bergkamp.

    O Mechelen seria depois campeão da Supercopa da Europa, batendo o PSV, e conquistaria o título do Campeonato Belga pela primeira vez em 41 anos. O time quase aumentou seu conto de fadas na Liga dos Campeões em 90, derrotado apenas nas quartas de final pelo esquadrão do Milan de Arrigo Sacchi, um dos maiores times da história, e na prorrogação. Nesta altura, Preud'Homme já era um astro em seu país e o sucessor natural para Jean-Marie Pfaff, lenda belga e do Bayern de Munique, como titular na seleção.

    O mundo se curva ao "Santo" Michel

    Seria triste ver um talento do nível de Preud'Homme restrito a poucos na Bélgica. E por muito tempo, antes do futebol globalizado como conhecemos, as Copas do Mundo exerceram essa importante missão de apresentar a todos os amantes do esporte os talentos de outras redondezas. Em 1990, o mundo conheceu o genial arqueiro belga, consagrado quatro anos depois nos Estados Unidos.

    As defesas de Preud'Homme levaram a Bélgica às oitavas de final na Itália. O destaque ficou para a atuação do goleiro contra o Uruguai na fase de grupos. O arqueiro ainda seguraria a Inglaterra por 119 minutos nas oitavas, mas David Platt encerraria o sonho belga.

    Quatro anos depois, Preud'Homme se apresentou com a Bélgica já com o mundo ciente de suas qualidades. Mas as suas atuações foram ainda mais espetaculares. O encontro com a Holanda na fase de grupos é lembrado como uma das maiores atuações de um goleiro em Copas, com defesas impossíveis, fantásticas, um bombardeio laranja que parou no muro belga. Albert anotou o gol dos azarões, por 1 a 0.

    A Bélgica cairia novamente nas oitavas de final para um adversário mais tradicional, no caso a Alemanha. Mas Preud'Homme terminaria por ser premiado como melhor goleiro da Copa - o primeiro a receber o Troféu Lev Yashin, que mais tarde ganhou o nome de Luvas de Ouro.

    As luvas de Preud'Homme prestariam serviço depois da Copa ao Benfica, em Portugal. Apesar da fase de vacas magras dos Encarnados, o belga logo se tornou ídolo e ganhou o título de Saint-Michel, ou o "Goleiro Perfeito". Conquistou apenas uma Taça de Portugal pelo clube.

    Com 37 anos, Preud'Homme ainda teve proposta para jogar no Real Madrid, mas o Benfica dificultou as negociações e o clube espanhol apostou no mais jovem Bodo Ilgner. Dois anos depois, recebeu o inusitado convite do Fluminense para a disputa da Série C e, de forma mais surpreendente, chegou a se apresentar no Rio e só não parou nas Laranjeiras por falta de acordo com os portugueses. Decidiu então pela aposentadoria.

    Aos 40 anos, Preud'Homme aposentou suas "santas" luvas em um amistoso contra o Bayern de Munique no Estádio da Luz. Cerca de 80 mil torcedores aplaudiram de pé, reverenciando um dos maiores goleiros da história do futebol.

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    Fotografias(10)

    Michel Preud’homme (BEL)

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