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      1992: Quando o encontro entre juventude e experiência levou o Fla ao título

      Texto por Paulo Mangerotti
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      O Rubro-Negro que cresceu assistindo futebol entre as décadas de 1980 e 1990, certamente, pode ser considerado um privilegiado. Depois de um esquadrão como o de Zico, Adílio, Júnior, Andrade e companhia conquistar tudo que era possível, coube ao "Capacete" o papel de passar o bastão para uma nova geração que faria todo flamenguista sorrir novamente. A celebradíssima conquista do Campeonato Brasileiro de 1992 representou o pentacampeonato para o clube, que depois viria a viver um jejum de 16 anos sem o troféu.

      Após duas décadas de muitas mudanças no Campeonato Brasileiro, desde o nome, formato, fórmula, número de participantes e critério de pontuação, em 1990 o Brasileirão ganhava uma cara com que o público já poderia começar a ficar familiarizado, ainda que os pontos corridos só tenham sido adotados em 2003.

      Em 1992, 20 equipes disputaram o campeonato, à exemplo do que aconteceu nos anos anteriores. As oito melhores equipes avançaram para uma segunda fase e foram divididas em dois grupos, com confrontos de ida e volta. O melhor de cada grupo garantiria uma vaga na final, e assim fizeram Flamengo e Botafogo.

      O ano de 92, inclusive, foi de domínio carioca. Na primeira fase, o Vasco despontou como primeiro colocado, com uma campanha de dez vitórias e apenas três derrotas em 19 jogos. O time tinha como destaque Bebeto, artilheiro daquele Brasileiro, que depois trocaria o futebol nacional pelo espanhol, para jogar pelo Deportivo La Coruña. O clube Cruzmaltino, porém, talvez não esperasse o crescimento do maior rival em meio a um contexto atípico.

      Do carnaval ao título

      O time do Flamengo campeão, é bem verdade, começou a ser construído em 1990. Dois anos antes do título Brasileiro, o clube já tinha no elenco principal jovens como Djalminha, Marquinhos, Júnior Baiano, Marcelinho Carioca e Nélio, todos então com menos de 20 anos. Esses jovens eram capitaneados por Júnior, já veterano, que ganhou no ano seguinte a companhia de Gilmar e de Wilson Gottardo, então ídolo do Botafogo.

      "Em 1991, na virada do ano, estava em pré-temporada e não cheguei a um acordo com o senhor Emil Pinheiro (presidente do Botafogo). Eu queria um contrato melhor, queria me sentir valorizado por tudo que fiz pelo clube desde 1987, pelo bicampeonato estadual e torneios conquistados na Europa e América. Eu acreditava que merecia um contrato diferente, melhor remunerado, e no meio dessa discussão longa surgiu o Flamengo", relembra o ex-zagueiro Gottardo, em entrevista ao oGol.

      "Uma transferência dessa entre clubes rivais, da mesma cidade, não é algo simples. Passei momentos difíceis. A torcida do Botafogo é implacável com seus atletas, seus ídolos", conta. 

      Tricampeão estadual antes da conquista do título Brasileiro, com dois Cariocas pelo Botafogo e um pelo Flamengo, Gottardo explica que tinha como meta pessoal um grande título, pois temia "passar a carreira em branco". Em 1992, o calendário futebolístico no Brasil foi invertido em relação aos que os torcedores estão acostumados: iniciando pelo Brasileiro e terminado com o estadual. Logo depois da maior festa do país, Gottardo, então, teve sinais de que conseguiria concretizar o sonho.

      "Aquilo (o título) foi construído num campeonato que era disputado no primeiro semestre, e aqui no Rio não é muito simples essa época de carnaval, festividade... A equipe foi crescendo após o Carnaval, foi adquirindo melhor forma física e encorpando na competição. Eu pensei: 'vai dar para chegar'. Era no formato mata-mata, não pontos corridos, e a equipe chegou nesse momento muito bem. A torcida acreditou, começou a acompanhar de perto a campanha", explica.

      E basta voltar os olhos para a campanha do Flamengo na primeira fase do Campeonato Brasileiro para comprovar a teoria do zagueiro. O clube até que começou bem a competição, passando invicto as cinco primeiras rodadas, com três vitórias e dois empates. Entretanto, ao final de fevereiro, uma semana antes do Carnaval, o time entrou em uma sequência negativa e passou seis jogos sem vencer. Sem um triunfo sequer no mês de março, fechado com uma derrota por 4 a 2 para o Vasco, o grupo só foi recuperar o fôlego em abril. A partir de então vieram vitórias expressivas, o clube saltou da 13ª posição para terminar a primeira fase em 4º lugar.

      Já na segunda fase, o clube conseguiu a revanche diante do Vasco, e mais do que isso, também bateu Santos e São Paulo, campanha suficiente para chegar até a final contra o Botafogo.

      "O orgulho de ser campeão Brasileiro é surreal, não é simples. Naquela época estávamos com quatro meses de salário atrasado e a estrutura do Flamengo era normal. Não tinha nada de luxo, nada de tecnológico, não existia nada disso. Era bem simples, acho que era padrão na época: uma nutricionista, uma casa em São Conrado para concentrar e só, nada demais. O que era bom era o ambiente e a qualidade do time", afirma.

      O título Brasileiro foi contra o Botafogo, clube que Gottardo defendera por quatro anos. O sonho de ser campeão estava concretizado, mas ao mesmo tempo ficava também o sentimento por tudo que havia vivido em General Severiano.

      "A amizade sempre existiu, ela vai além dos campos. Nos anos de 1991 e 1992 eu morava perto do bosque da Barra e o Botafogo fazia alguns treinamentos aqui no bosque, era normal na época. Várias vezes eu encontrei com eles, fazia visitas. Quando chegou a final, o Botafogo tinha um time muito forte, merecia também ser campeão. Após os dois jogos nós surpreendemos, principalmente no primeiro, pela forma de jogar implacável. Eles ficaram muito chateados, dava para ver pelo semblante dos jogadores. Eu lembro bem que nessa semana, no dia seguinte, fui na casa do Carlos Alberto Santos, dizer que eu imaginava a dor que ele estava sentindo. Confortei ele. A amizade é isso, nós somos adversários e não inimigos", ressalta Gottardo, que viria depois a ser campeão pelo Botafogo em 95, com direito a gol na final diante do Santos.

      Números da edição

      Média de gols: 2,29 gol/jogo

      Melhor ataque: Botafogo - 46 gols

      Artilheiro: Bebeto (Vasco) - 18 gols

      Jogador com mais partidas: Gilmar (Flamengo) - 27 jogos

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