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    2003: Absoluto, Cruzeiro dá aula ao Brasil sobre a era dos pontos corridos

    Texto por Paulo Mangerotti
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    De um ano para outro, tudo mudou subitamente. Na era dos pontos corridos, não há mais espaço para erros, não tem segunda chance, cada jogo passa, ou deveria passar, a contar como uma final, porque como muitos campeões (e vices) mostraram, a disputa se tornou maior do que contra todos os adversários, mas contra si próprio em nível de atenção, motivação, intensidade... Não há mais espaço para erros. Alguns clubes ainda não entenderam, bateram na trave diversas vezes, parecem ter faltado a lição dada pelo Cruzeiro de Vanderlei Luxemburgo no Campeonato Brasileiro de 2003.

    O novo formato de disputa do campeonato, defendido por aqueles que querem a "justiça no esporte" e afamado por quem questiona a "falta de emoção", colocou fim nas confusões quase que anuais sobre o Brasileiro. Afinal, apesar de parecer simples e uniforme o argumento sobre o mata-mata, a realidade é que, ao longo dos anos, o sistema com finais foi sempre se modificando, como apresentado ao longo desta série.

    Outra definição que surgiu junto da nova era foi um calendário estruturado para o futebol brasileiro, com datas que, somadas aos estaduais, Copa do Brasil e competições internacionais, cobre todo o ano dos clubes da Série A. Em meio a tantas novidades, era possível esperar que a adaptação levasse algum tempo, difícil mesmo era imaginar uma aula do "aluno prodígio". O Cruzeiro conquistou seu primeiro Campeonato Brasileiro de forma incontestável*.

    Confiança, Alex e Vanderlei

    2003 é o mais glorioso ano da rica história do Cruzeiro. O clube não levantou apenas o Campeonato Brasileiro naquele ano, mas também o Mineiro e a Copa do Brasil, formando assim a Tríplice Coroa, estampada de forma recorrente na camisa da Raposa. O lateral esquerdo Leandro, hoje aposentado, foi peça fundamental no time de Vanderlei Luxemburgo, tanto que é o jogador com mais partidas pelo clube naquele Brasileirão, em que ficou de fora de apenas uma partida.

    Leandro e Alex celebram o título @Cruzeiro
    "Fiquei feliz pelo Cruzeiro ser o primeiro campeão dos pontos corridos. Fiz parte desse plantel, um dos melhores em que eu trabalhei. Nós jogadores, quando jogávamos, não nos preocupávamos muito com isso (ser pontos corridos). Queríamos jogar, disputar o campeonato, e fomos felizes por sermos os primeiros campeões", afirmou Leandro, em entrevista ao oGol.

    A campanha do time no Brasileiro foi irretocável. O Cruzeiro estreou com um empate, em casa, com o São Caetano, e logo emplacou a primeira sequência invicta no campeonato, só conhecendo a derrota na nona rodada. O clube liderou 4ª a 15ª rodada, depois da 18ª a 27ª, e, por fim, quando reassumiu a liderança na 29ª, seguiu por lá até o final, na 46ª (o campeonato, naquela época, contava com 24 e não 20 equipes, portanto tinha oito rodadas a mais).

    "Nosso time estava confiante. Chegou certo momento no ano que a gente ia para campo sabendo que iria vencer. Não sabíamos o placar exato, mas sabíamos que iríamos vencer. Tinha situações que o Alex falava: 'fica tranquilo que hoje eu vou fazer gol'. E ele fazia, então a confiança estava muito lá em cima", relembrou Leandro.

    Nas palavras do próprio Leandro, Alex era a referência dentro de campo, o "carro-chefe" daquele time, enquanto Vanderlei Luxemburgo orquestrava tudo fora das quatro linhas. Entretanto, resumir aquele time do Cruzeiro a essas duas figuras não seria justo.

    @Cruzeiro
    "Se você olhar bem, o time todo foi bem. Desde o Gomes até o Deivid. O time sempre para frente, em busca dos gols, das vitórias. Eu de um lado e o Maurinho do outro, o Maldonado e o Recife deixavam a gente jogar, atacar... Encaixou, foi perfeito. O jogo que eu não joguei, o Sandro entrou e jogou muito bem. Quando o Maurinho não jogava, o Maicon jogava e dava continuidade ao trabalho... E o Vanderlei dispensa comentário, passava confiança para todo mundo", contou, ressaltando que o ambiente entre os jogadores, de respeito e sem vaidade, foi também um fator fundamental.

    "Foram vários momentos que me marcaram muito, mas um que sempre cito é o jogo fora de casa contra o Criciúma. O Vanderlei treinou nosso time na Toca II, onde tem quatro campos, e um deles tem dimensões menores. Treinamos nesse campo porque ele (Vanderlei) falou que o campo do Criciúma era pequeno. Ele fez três substituições no treinamento coletivo e falou que faria o mesmo no jogo e ganharíamos naquelas substituições. Foi o que aconteceu. Foi um momento marcante para mim. Falei: 'esse cara é fera mesmo, esse cara fez as substituições no treinamento, falou que a gente ia ganhar e acabou surtindo efeito no dia do jogo'", afirmou.

    Campeão com 100 pontos, 102 gols a favor e penas 47 gols contra, o Cruzeiro não deu margem para os adversários sonharem. Quem mais chegou perto foi o Santos de Diego e Robinho, campeão no ano anterior, que terminou o campeonato com 87 pontos. O Peixe, no entanto, não foi páreo quando enfrentou a Raposa, perdeu em casa, por 2 a 0, e no Mineirão, por 3 a 0. Esses dois jogos poderiam até ser dos mais especiais daquela campanha, se não ficassem "perdidos" entre tantas goleadas, como por 5 a 2 sobre o Athletico, 5 a 1 sobre o Paraná, ou o 7 a 0 sobre o Bahia, no último jogo do campeonato.

    Números da edição: 

    Média de gols: 2,89 gols/jogo

    Melhor ataque: Cruzeiro - 102 gols

    Melhor defesa: São Caetano - 37 gols sofridos

    Artilheiro: Dimba (Goiás) - 31 gols

    Jogador com mais partidas: Édson Bastos (Figueirense) e Wagner (Guarani) - 46 jogos

    *O Cruzeiro foi campeão da Taça Brasil em 1966, título que passou a ser considerado pela CBF como equivalente ao Campeonato Brasileiro em 2010.

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