Siga o instagram do oGol
    bet365
    Histórias do Futebol
    Histórias do Futebol

    Heleno de Freitas, o gênio que acabou louco

    Texto por Carlos Ramos
    l0
    E0

    Heleno de Freitas foi alvo de crônicas de Gabriel García Márquez, um dos autores mais importantes do século XX. Foi tema de filme. Foi Deus. Foi mortal e pecador. Foi boêmia. Foi craque. Foi desprezado. Foi louco. Foi, simplesmente, Heleno. 

    O fato de Heleno ter virado tema de filme em 2011, interpretado por Rodrigo Santoro, reflete uma trajetória cinematográfica. Nos campos e fora deles. Heleno foi de herói a vilão na bola, e acabou como louco, sozinho, em um hospital psiquiátrico em Barbacena. 

    Copacabana, o quintal de casa

    O craque, e Heleno foi, sim, um craque, nasceu em São João de Nepomuceno em 12 de fevereiro de 1920. Ainda jovem, se mudou com a família para o Rio de Janeiro no início da década de 1930, após a morte do pai. Jogando bola na praia de Copacabana, foi descoberto por Neném Prancha, que o levou para o Botafogo. 

    A estreia no profissional veio no fim da década, e Heleno já se mostrava um atacante ágil, habilidoso e, principalmente, goleador. Heleno vinha com média de 20 gols por temporada quando foi chamado para representar a seleção brasileira na Copa América de 1945. Foi o artilheiro, com seis gols em cinco jogos, mas o Brasil perdeu o título para a Argentina. 

    Apesar de o título não ter saído também no ano seguinte, em novo revés para a Argentina, Heleno era visto como o substituto de Leônidas na seleção. Mas na medida que seu sucesso ia ficando maior, quantos mais gols Heleno marcava, mais agitada ficava sua vida fora de campo. 

    Heleno era boêmio. Gostava de frequentar grandes festas no Copacabana Palace, tinha um estilo de vida de um verdadeiro astro e se achava melhor que seus companheiros. Por várias vezes discutiu com companheiros e recebeu o apelido de Gilda, personagem de Rita Hayworth em filme da época que tinha um comportamento irascível. 

    Heleno: entre o irascível e o genial

    E Heleno foi irascível. Era intuitivo dentro e fora de campo. Quando se tornou notícia mais pelo que fazia fora de campo do que dentro, deixou o Glorioso, sem título, para jogar no Boca Juniors. O atacante tinha 28 anos e, embora ainda prometesse grande desempenho em campo, certamente era problema fora das quatro linhas. 

    Ainda assim, o Boca o levou para a Argentina em uma transferência recorde. Heleno estreou com dois gols e parecia um sucesso. Mas, na medida que os resultados não iam agradando, ou sei lá o que não agradava Heleno, o jogador começou a perder a cabeça. Brigou com companheiros. Com o técnico. Foi noticiada até que chegou a ter um caso com Eva Perón, primeira dama da Argentina.

    Quando brigou também com o presidente do Boca, não teve jeito: Heleno foi mandado de volta ao Brasil. Acertou com o Vasco, para a irritação da torcida botafoguense, e conquistou seu único título por clubes: o do Carioca de 1949. Apesar do título, Heleno não tinha um bom relacionamento com o técnico Flávio Costa e, no ano seguinte, foi para a Colômbia jogar no Junior Barranquilla. 

    Lá, apesar de não ter ficado muito tempo, ganhou a admiração de Gabriel García Márquez, nobel da literatura. Em uma crônica, Gabriel, que chamava o brasileiro de Dr Heleno, chegou a relatar os altos e baixos que já vivia Heleno, genial quando ainda conseguia ser. 

    "O dr. De Freitas mostrava-se capaz de conjugar perfeitamente os tempos simples do verbo 'fazer'. 'Farei milagres', declarou à imprensa, ao dar-se conta de que o público queria exatamente isso. Que fizesse milagres. E, segundo me contam alguns que estiveram nesse dia no Estádio Municipal, o que o brasileiro fez foi uma milagrosa atuação. Praticamente, disseram, o dr. De Freitas - que deve ser um bom advogado - redigiu nesta tarde, com os pés, memoriais e sentenças judiciais não apenas em português e espanhol alternadamente, mas também citações de Justiniano no mais puro latim clássico". 

    Não foram muitos os milagres de Heleno na Colômbia, e nem 1950 foi o seu ano. Naquele ano, o atacante acabou de fora da Copa do Mundo e, no Rio de Janeiro, apareceu com um revólver para tirar satisfações com o técnico Flávio Costa, que acabou o dando uma surra. 

    Fim melancólico

    Nos anos finais da carreira, Heleno já sucumbia. Sofria da sífilis, doença que veio pelos anos de farras, bebedeiras e drogas. O tal sex, drugs and rock-roll antes do tempo. Heleno ainda foi contratado pelo Santos, mas, depois de um desentendimento com o técnico Aymoré Moreira, deixou o clube. 

    Ninguém mais queria Heleno. O futebol desistiu dele. No América, fez sua última partida, a única da carreira no Maracanã. O jogo diz tudo sobre Heleno: foram apenas 25 minutos de Heleno em campo. Depois de se desentender com companheiros, foi expulso. Ouviu a arquibancada gritar Gilda, o apelido que tanto odiava, e desistiu do futebol. 

    O fim da carreira acabou com Heleno, que ainda frequentou por alguns anos o clube do coração, o Botafogo, mas acabou em um sanatório em Barbacena e morreu de forma melancólica. Formado em direito, fã de jazz e apreciador de literatura, Heleno terminou a vida como um louco. Um louco que fez louca muita gente quando jogou bola. Um louco que encantou, mas que pagou o preço da fama. 

    D

    Fotografias(3)

    Heleno de Freitas (BRA)

    Comentários

    Quer comentar? Basta registrar-se!
    motivo:
    EAinda não foram registrados comentários…
    Links Relacionados