A confirmação da Superliga da Europa, em um torneio organizado por "12 dos clubes líderes da Europa", causou polêmica e consternação no mundo do futebol. A competição, quase uma quebra com a Liga dos Campeões, ainda deve ter de enfrentar batalhas legais antes de seu início. Há motivos para questionamentos e, entre eles, está o fato da nova liga tentar impôr uma elite na Europa, sem méritos esportivos.
Uma análise rápida ao desempenho atual e recente dos 12 participantes "fundadores" - Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, Barcelona, Internazionale, Juventus, Liverpool, Manchester City, United, Real Madrid e Tottenham - nos mostra a arbitrariedade de suas posições cativas em um torneio que propõe os "melhores clubes" da Europa, mas que na verdade pouco recompensa o sucesso em campo. Entre os fundadores há clubes sem tradição na Europa, sem títulos recentes, potências decadentes e equipes que sequer devem figurar na Liga Europa, no segundo nível do continente.
Começamos então nossa análise pela comparação entre as vagas na Superliga e as posições dos clubes nos torneios nacionais. Se por um lado os representantes da Espanha e Itália hoje estariam confirmados na Liga dos Campeões devido a classificação atual nas ligas locais, por outro quatro dos representantes ingleses (um terço dos fundadores) não disputariam a Champions: Chelsea (5º), Liverpool (6º), Tottenham (7º) e Arsenal (9º). Leicester (3º) e West Ham (4º), ao contrário do quarteto, não tem direito a uma vaga cativa, embora tenham demonstrado em campo melhores resultados.
Os requisitos para os clubes se intitularem como "melhores da Europa" também são para lá de questionáveis se considerarmos o histórico na Liga dos Campeões, e até nos torneios nacionais que disputam. Novamente um terço dos fundadores da Superliga nunca venceram a Liga dos Campeões: Arsenal, Atlético de Madrid, Manchester City e Tottenham. Na realidade, o Spurs tem apenas seis participações no torneio, e o City só se tornou presença frequente na Champions a partir de 2012.
Outros clubes podem reunir tradição e até títulos na principal competição da Europa, mas vivem secas longas e tem se portado como coadjuvantes na última década ou até mesmo no século. Caso, por exemplo, da Juventus, que não vence desde 1996. A Inter venceu pela última vez em 2010, o Manchester United não é campeão desde 2008 e o Milan desde 2007.
Há ainda grandes potências que ficaram de fora da Superliga, por opção ou não. O Bayern de Munique, atual campeão da Liga dos Campeões, se negou a jogar, assim como o Borussia Dortmund. Vice-campeão no ano passado, o Paris Saint-Germain também recusou fazer parte da nova liga, que simplesmente não terá integrantes da Alemanha e da França. Dono de quatro títulos da Champions, o holandês Ajax está fora, assim como os portugueses Porto e Benfica, campeões por duas vezes cada.
Com tudo isso, fica a pergunta: quem decide quais são os "melhores clubes" da Europa, e por quais motivos? A Superliga não traz respostas em seu comunicado, mas dá vagas cativas aos seus integrantes.