Passagem no Fla, desemprego e sucesso na Ásia: Éder repassa carreira e projeta sequência na China

"A vida é feita de desafios”. Esta é a frase que carrega Éder Lima, de 33 anos, jogador do Jiangxi Liansheng, da China. Revelado pelo Guarani e com uma passagem pelo Flamengo, o centroavante se transformou em uma referência no futebol asiático.

Mas quem observa o cenário atual nem imagina os percalços que o jogador teve de encarar para atingir seus objetivos. Oriundo do futsal do Bugre, o menino franzino da cidade de Campinas não imaginava o que estava por vir logo no início de sua trajetória.

Após migrar para o futebol de campo e se destacar em seus primeiros passos, Éder, com apenas 20 anos, foi parar em um dos maiores clubes do país: o Clube de Regatas do Flamengo.

“Foi um sonho maravilhoso para mim, né? Foi um grande baque chegar no Flamengo com tantos craques e tantos ídolos como Léo Moura, Fábio Luciano, Diego Tardelli... caras que eu só via pela televisão e de repente estava dividindo vestiário. Foi incrível”, relembra Éder Lima, em um bate-papo especial com a reportagem de oGol.

Alguns anos depois, Éder recebeu uma proposta para ter sua primeira experiência fora do país. O brasileiro embarcou para a Grécia para defender o Asteras Tripolis. Por lá, o jogador encontrou algumas barreiras como a língua e o rigoroso inverno grego, mas garante que tirou boas lições.

“Quando cheguei na Grécia foi um período um pouco complicado. De cara, enfrentei o inverno, um inverno bem rígido. Era treino com neve, jogar com neve é bem difícil.  Mas depois consegui me adaptar e acabei aproveitando bem. No fim, foi uma experiência que guardo com boas recordações”, conta.

Frustração “das Arábias” e o desemprego

Ao voltar do futebol grego, Éder rodou por alguns clubes brasileiros até se deparar com um novo desafio em sua carreira: jogar nos Emirados Árabes. 

“Foi um choque cultural. Além de chegar num local que não estava habituado, eu vinha de um período sem jogar, isso tornou tudo mais difícil. Por lá, por ser estrangeiro, você acaba tendo uma responsabilidade enorme. Eu cheguei para ocupar a vaga de um jogador que havia se machucado, e acabou que ele se recuperou e eu fiz apenas quatro jogos”, lamenta.

Apesar da falta de sequência nos Emirados, Éder Lima deixou as Arábias com o passaporte asiático, o que fora muito importante posteriormente.

Em mais um retorno ao Brasil, o jogador se deparou com o momento mais delicado de sua trajetória. Sem conseguir clube para atuar, Éder passou oito meses desempregado. A pressão pela continuidade da carreira e a necessidade de gerar renda para sua família criaram grandes dificuldades, mas não o fizeram desistir.

“Foi o momento mais difícil da minha carreira. Lembro que meu filho tinha um ano e meio, e eu sem clube, sem trabalho... Na época, eu me virei para fazer alguma renda e passei a vender tênis com alguns amigos. Foi realmente um momento muito complicado, mas, com a ajuda dos meus familiares, eu não deixei de acreditar que tudo ainda daria certo”, recorda.

Da peneira ao sucesso na Coréia

No meio de um turbilhão de incertezas, Éder recebeu um convite inesperado. O jogador foi chamado para uma peneira no Daegu, clube da segunda divisão coreana. 

“No final de 2014, eu recebi um convite para ir para a Coréia fazer teste. Imagina, na época eu tinha 27 anos e tive que encarar essa situação. Como eu estava sem nada, eu agarrei como se fosse a última oportunidade da minha carreira. Foi com essa intenção que fui para lá, e, a partir daí as coisas começaram a acontecer”, garante.

Após passar pelo período de testes, o brasileiro deu um verdadeiro salto em sua carreira e viu sua trajetória mudar de patamar. Foram seis anos no futebol coreano, com dois acessos à primeira divisão e um título nacional. Momentos especiais que jamais serão esquecidos. 

“Costumo dizer que, depois de tudo que passei até chegar a Coréia, a minha carreira mudou da água para o vinho. Cheguei desacreditado para um período de testes e, após seis anos, conquistei grandes feitos como dois acessos e um título nacional. Foi neste período que me senti verdadeiramente um jogador de futebol”, celebra. 

Dificuldades na quarentena, heroísmo na China e projeções para o futuro

Já com a carreira consolidada em solo coreano, Éder se lançou para um novo desafio. No segundo semestre deste ano, o atacante se transferiu para o Jiangxi Liansheng, da segunda divisão chinesa. 

Antes de atuar, o brasileiro passou por um longo período de quarentena, onde precisou se adequar à rotina dura de treinamentos para corresponder às expectativas na sua chegada ao clube chinês.

Na luta contra o rebaixamento, o Liansheng depositou em Éder Lima as esperanças para se manter na divisão de acesso à elite do futebol nacional, e foi correspondido. Nas partidas finais dos playoffs de rebaixamento, o atacante marcou os três gols decisivos que evitaram o descenso da equipe.

“Em meio às dificuldades, tenho a sensação de dever cumprido. Cheguei com uma grande expectativa, todos confiando muito no meu trabalho, e eu pude retribuir isso ajudando a equipe a se manter na segunda divisão. Considero esse momento como algo parecido com meus títulos e acessos conquistados na Coréia”, afirma.

Aos 33 anos, Éder não pensa em encerrar a carreira. Motivado e em grande fase, o atacante espera poder jogar na SuperLiga Chinesa, onde atuam os principais astros do futebol asiático.

“Ainda tenho muitas pretensões na minha carreira. Neste momento, a ideia é continuar o que se iniciou nesta temporada e, se Deus quiser, buscar o acesso a SuperLiga no próximo ano”.

“Eu tenho o objetivo de jogar até os meus 41, 42 anos. Muitos me chamam de fominha, mas eu costumo dizer que a minha carreira começou tarde, comecei a contar a partir do momento em que cheguei na Coréia, então tenho muitos anos pela frente”, finaliza.