Evelyn Monteiro aceitou o desafio de andar sozinha. Não olhou para trás, e aprendeu seu próprio caminho. Um caminho de muito amor ao futebol, e também de muitos gols.
Essa é a história da menina Evelyn, que nasceu em São Paulo, mas viveu a maior parte da vida na Bahia. Seja onde for, desde cedo ela tinha um sonho: ser jogadora de futebol.
Sua chance apareceu já na adolescência. Contando a história, Evelyn, hoje no Bahia, trata o Vitória, respeitosamente, de "rival". Como qualquer tricolor que se preze.
"Fui passar férias em São Paulo e estava com a intenção de ficar por lá, mas mudei de ideia. Ao voltar para Serrolândia (cidade de origem da família), ouvi comentários que tinha um cara (o Nivaldo) atrás de mim para me levar para fazer um teste no 'rival'. Não pensei duas vezes, corri atrás do que precisava e assim que pude fui para Salvador fazer o teste", contou, em conversa com a reportagem de oGol.
Logo de cara, Evelyn sentiu a falta da família, inclusive de seu filho, que ficou em Serrolândia, mas não desistiu e mostrou força para continuar correndo atrás de seu sonho de infância.
"Acho que o mais difícil foi se adaptar longe de casa, do meu filho e da minha mãe. A questão de conviver com outras pessoas... Porém fora a saudade, fui tirando as outras coisas de letra. Um sonho estava sendo realizado, era algo que sempre sonhei e não poderia dispersar a chance", continuou a contar.
Logo que chegou em Salvador, a menina Evelyn virou a artilheira Gadu. Pela fisionomia parecida com a cantora, Evelyn logo incorporou o apelido. "Assim que cheguei no rival, as meninas me deram esse apelido e pegou", brincou.
Evelyn Gadu é fã da cantora. "Como não gostar? Uma inspiração de mulher", defende. Com direito a escolher música favorita: "João de Barro".
"É uma música linda, que se você parar para observar, fala um pouco do amor, algo muito discutido hoje em dia (risos). É uma forma linda de mostrar o quanto podemos nos amar e amar o próximo".
Em Salvador, Gadu deu e recebeu amor, e se destacou pelos muitos gols marcados nos dois rivais, inicialmente com a camisa rubro-negra do Vitória. "Enxergaram o meu potencial e me ajudaram muito no meu desenvolvimento seja como atleta ou como pessoa".
Mas o coração de Gadu estava mesmo no lado tricolor. Tricolor Paulista em São Paulo, Tricolor Baiana em Salvador. Com o fim do projeto do futebol feminino no Vitória, a atacante se mudou para o Bahia.
"Infelizmente, houve algumas mudanças no rival e acabaram tirando o time feminino, como não iria poder participar do Estadual. Graças a Deus, pessoas próximas a mim me indicaram para o Bahia e eles toparam (risos). Entraram em contato comigo, e não pensei duas vezes para aceitar (risos). Estávamos falando do Bahia, né?!", ressaltou.
"Sou tricolor em São Paulo, uma paixão passada de pai para filha. Porém aqui no Nordeste, torcia, sim, para o Bahia. Ao chegar no rival, ganhei um carinho enorme pelo clube, por estar representando e por ter sido abraçada e tratada tão bem por todos. Porém aqui não foi diferente, e logo no início pude entender o porquê já amava esse clube antes mesmo de jogar aqui. Da direção à torcida, todos têm minha eterna admiração", garantiu.
Gadu destacou, ainda, a importância dada pelo Bahia ao futebol feminino. O clube, segundo a atacante, abraçou a modalidade depois de ter assumido o controle do time com o fim da parceria com o Lusaca (que representava o futebol feminino tricolor até 2019).
"Cheguei assim que eles deixaram a parceria com o Lusaca, e só de ver essa iniciativa foi muito legal. Ver um clube como o Bahia querendo abraçar o futebol feminino, abraçando e ainda mais... Poder fazer parte disso é muito gratificante. O trabalho deles está sendo algo muito importante para o Nordeste, dando uma valorização para a modalidade que muitos deveriam seguir. Dá visibilidade e suporte dentro de campo", comentou Gadu.
Em 2020, Gadu vive o ano de maior destaque no cenário nacional. Apesar de ter brilhado em terras baianas no Vitória, Gadu é, pelo Bahia, a grande artilheira do Brasileiro A2.
"Vivi um grande momento no rival, aprendi muita coisa. Porém hoje venho tendo oportunidade de mostrar o meu potencial, mostrando para quem me conhece desde o início o quanto o mundo dá voltas e o sucesso é questão de tempo. Devemos acreditar em nós mesmos correndo sempre atrás dos nossos objetivos. Estou muito feliz em estar podendo ajudar o Bahia de uma forma que também vem me ajudando na carreira", analisou a atacante.
Gadu é um dos grandes destaques do Brasileiro A2, com dez gols em cinco partidas, média de dois gols por jogo e dois hat-tricks no período.
Com os gols de Gadu, o Bahia avançou em primeiro no grupo C. A atacante só espera continuar balançando as redes para ajudar a colocar o Tricolor na elite.
"Pretendo continuar ajudando a equipe com gols (risos). Estamos muito focadas na luta pela conquista desse acesso", garantiu a artilheira.
Nas oitavas de final, o Bahia encara o Athletico Paranaense, neste sábado, às 15h, horário que vai marcar a abertura do mata-mata da competição.