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Um turno invicto

2017: De 'quarta força' ao hepta, Corinthians cala os críticos

2020/08/07 10:51
E2

A história do heptacampeonato do Corinthians, conquistado em 2017, teve início ainda no ano anterior. Em dezembro de 2016, o Timão bem que tentou, mas não conseguiu um técnico para a temporada seguinte. Por conta disso, a alternativa encontrada pelos dirigentes foi efetivar o auxiliar Fábio Carille. Com nove anos de casa, o novo treinador assumiu a responsabilidade e, em sua primeira experiência na nova função, conduziu o time a dois títulos. 

O novo comandante foi conquistando bons resultados e, até maio, mês de início do Brasileiro, a equipe de Carille perdeu apenas dois jogos, ambos no Estadual, para Santo André e Ferroviária. O perfil do jovem técnico, na época com 44 anos, foi elogiado por um dos ex-jogadores mais respeitados e vitoriosos do Corinthians: o ex-meia Danilo, que conversou com a reportagem de oGol

"Quando eu cheguei em 2010, o Carille já estava no clube. Ele trabalhou com o Tite e deu sequência ao trabalho, nos treinamentos, na forma de lidar com o grupo. É um cara mais calmo, que leva as coisas na base da conversa, mais amigo dos jogadores", comentou Danilo.

A 'quarta força' vira a primeira

Embora o Corinthians tenha ido ao mercado e trazido nomes como o atacante Jô, futuro Bola de Ouro e um dos artilheiro do Brasileiro, com 18 gols, o zagueiro Pablo, e recuperado Jádson, emprestado ao futebol chinês e um dos nomes mais importantes na temporada, os torcedores rivais e imprensa rotularam a equipe como "quarta força do estado de São Paulo".

O desacreditado Corinthians fez a segunda melhor campanha na primeira fase do Paulista, superou Botafogo nas quartas e o São Paulo na semi, antes de vencer a Ponte Preta na final do Estadual. Bicampeão paulista e críticos de boca calada: a quarta força era campeã. 

Danilo, tri com o Corinthians ©Getty / Cristiano Andujar
"Com certeza (ser considerado a quarta força incomodou). Quando vencemos o Paulista, ganhamos força. Às vezes é o momento, que o clube não está bem, mas sabemos que no Corinthians, nada é fácil. A prova é agora (Paulista 2020). Quando acham que o time está fora, eliminado, de repente cresce e vira candidato ao título. No Brasileiro, sabemos que é preciso ter uma constância muito grande. O Carille foi muito feliz. Em 2017, foi um ano que deu tudo certo", contou o ex-jogador.

Tanto na Copa do Brasil (caiu para o Internacional nos pênaltis após dois empates em 1 a 1), quanto na Sulamericana (empatou em casa com o Racing por 1 a 1 e fora em 0 a 0), o Timão foi eliminado de forma invicta. No Brasileiro, um primeiro turno incrível, no qual muitos já davam o clube como campeão antecipado, contrastou com uma segunda metade instável. Nada que tenha atrapalhado o Corinthians na conquista do heptacampeonato, em temporada com apenas dez derrotas em 68 partidas.

A arrancada inicial do Corinthians no Brasileiro foi a que todo torcedor espera. Apesar de um empate com a Chapecoense, em casa, na rodada inaugural, depois disso o Timão enfileirou seis vitórias seguidas, sendo duas delas em clássicos: 2 a 0 contra o Santos, com gols de Romero e Jô, e 3 a 2 contra o São Paulo, gols de Romero, Gabriel e Jádson. Um empate em 0 a 0 com o Coritiba, no Paraná e uma nova série de triunfos: cinco desta vez.

Pressão de rivais, torcida e imprensa

O último desta sequência foi na 13ª rodada, quando o Timão liderava o Brasileiro com folga, dez pontos a frente do vice-líder Grêmio, com 11 vitórias e dois empates. Naquela rodada, o Corinthians havia vencido o Palmeiras, no Allianz Parque, por 2 a 0, com gols de Jádson e Guilherme Arana, enquanto o Tricolor Gaúcho bateu o Flamengo, no Luso-Brasileiro, por 1 a 0.

Ao final da partida no Rio de Janeiro, o treinador gremista Renato Portaluppi comentou a boa fase do rival paulista e soltou uma de suas frases polêmicas, que repercutiu durante todo o campeonato: "anote o que estou falando, o Corinthians vai despencar". Entretanto, o que serviu para mexer com os ânimos dos torcedores corintianos, não foi levado para o dia a dia dos jogadores alvinegros.

"Não (afetou o grupo). Nós tínhamos que nos preocupar com o nosso trabalho e procurar vencer os nossos jogos. Cada um tem sua opinião e quando você olha para isso, aí que cai mesmo. Nós tínhamos um grupo bem fechado, com jogadores e comissão técnica e isso que foi fundamental para sermos campeões", garantiu Danilo.

Depois de um primeiro turno impecável, mantendo a invencibilidade e solidez defensiva, sofrendo apenas nove gols em 19 partidas e vendo o segundo colocado Grêmio, a oito pontos de distância, o Corinthians passou por um momento de instabilidade. Sem repetir os bons resultados, a equipe foi deixando pontos pelo caminho.

Em outubro, após perder para a Ponte Preta, em Campinas, por 1 a 0, em jogo válido pela 31ª rodada, a torcida, já incomodada com a sequência de resultados ruins, protestou e pichou os muros da sede corintiana. Naquele momento, o clube estava a quatro jogos sem vencer, sendo três derrotas. Além da Macaca, o Corinthians foi derrotado pelo Bahia, por 2 a 0, e pelo Botafogo, por 2 a 1 e empatou sem gols com o Grêmio.

"É normal em time grande ter essa cobrança, assim como a oscilação. O torcedor às vezes não entende. O Corinthians está acostumado a ganhar e aí, o time não vence dois jogos, já começa a pressão. Por isso que eu digo que não é qualquer um que joga no clube. A pressão por estar na ponta da tabela é muito grande. Mas a base da equipe já era acostumada a lidar com isso", comentou Danilo.

Além dos torcedores, a cobrança se estendeu para a imprensa. Um dos nomes mais identificados com o clube, Neto, ex-jogador, ídolo e campeão brasileiro pelo Corinthians em 1990, cobrou fortemente o técnico Fábio Carille e fez duras críticas ao elenco. A entrevista ganhou projeção nacional. Porém, de acordo com Danilo, o elenco seguiu unido e blindado para o que viesse de fora.

"Foi tranquilo. Como eu disse, cada um tem sua opinião. Nós tínhamos uma base que jogava junta há muito tempo e conversávamos sobre o momento, mas sabíamos que não adiantaria debater isso. Não eram opiniões de comentaristas que afetariam lá dentro. O foco permaneceria no trabalho e não daríamos ouvidos para o que estava acontecendo fora do clube. O importante era não perder a confiança no companheiro", lembrou o ex-meia.

Comemoração de Romero ©Getty / Alexandre Schneider
Dias depois dos protestos e críticas, o Corinthians entrou em campo para o dérbi contra o Palmeiras, em um confronto que, caso a vitória fosse alviverde, reduziria a vantagem para apenas dois pontos. Porém, o Timão fez valer o mando de campo e, com gols de Romero, Balbuena e Jô, venceu por 3 a 2. Para Danilo, o jogo foi o mais marcante de toda a campanha do clube na competição.

"Sim, porque se trata de um clássico e envolve muitas coisas. O time que ganha eleva o moral e o que perde fica pressionado, vem a desconfiança. Até mesmo o empate, para quem está na frente, é muito bom. São jogos muito decisivos", contou o ex-jogador.

Defesa sólida e ataque eficiente

Os três pontos deram alívio ao Corinthians e o clube engatou mais duas vitórias contra Athletico Paranaense e Avaí, ambas por 1 a 0, com gols de Giovanni Augusto e Kazim, respectivamente, antes de receber o Fluminense na 35ª rodada, no dia 15 de novembro. O Tricolor ainda flertava com a zona de rebaixamento e precisava vencer para afastar qualquer risco.

Até por isso, a equipe carioca fez jogo duro e logo no primeiro minuto de partida, abriu o placar com o zagueiro Henrique, de cabeça. O Corinthians respondeu na mesma moeda. Primeiro minuto da etapa final, Clayson levantou na área e Jô desviou, de cabeça, para empatar. Dois minutos depois, o mesmo Clayson cruzou, a bola quase encobriu o goleiro, que ainda tocou nela, mas no rebote, novamente Jô, e mais uma vez de cabeça, virou o jogo.

Com o título praticamente assegurado, o Corinthians ainda ampliou em chute cruzado de Jádson, da entrada da área, na reta final da partida e venceu por 3 a 1. O Timão era hepta e Carille, com apenas um ano de trabalho, levantava o seu segundo troféu. O time paulista enfrentou na sequência Flamengo (derrota por 3 a 0), Atlético Mineiro (empate em 2 a 2) e Sport (derrota por 1 a 0, que livrou o time pernambucano do rebaixamento). Mesmo com a ausência de vitórias nas rodadas finais, o Alvinegro foi campeão com nove pontos de vantagem para o arquirrival Palmeiras.

©Getty / Alexandre Schneider
Se por um lado o ataque marcou apenas 50 gols, o menor número entre os times campeões do Brasileiro por pontos corridos desde 2006 (ano que a competição passou a ter 20 times), por outro, a defesa se manteve como a menos vazada, com apenas 30 sofridos. Ponto que mereceu o destaque de Danilo.

"(A defesa) Era o nosso ponto forte. A maioria dos jogos não tomamos gols. Defensivamente, éramos muito fortes, trabalhávamos bastante a zaga. Por outro lado, na frente, não fazíamos muitos, mas todo jogo marcávamos ao menos um. No ataque, éramos uma equipe de mais posse de bola, não criávamos tantas oportunidades, mas as que tínhamos, fazíamos os gols. Às vezes, só tínhamos três chances e fazíamos o gol. Em vários jogos éramos pressionados e conseguíamos sair muito bem no contra-ataque ou marcar um gol de bola parada e vencer por 1 a 0", finalizou o ex-meia, três vezes campeão brasileiro (2011, 2015 e 2017) pelo Corinthians.

Números da edição: 

Média de gols: 2,43 gols/jogo

Melhor ataque: Palmeiras - 61 gols

Melhor defesa: Corinthians - 30 gols sofridos

Artilheiro: Henrique Dourado (Fluminense) e (Corinthians) - 18 gols

Jogador com mais partidas: Jandrei (Chapecoense), Jean (Bahia) e Wilson (Coritiba) - 38 jogos

Comentários

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Ah, e as figuras daquele título?
2020-08-07 13h03m por ScPKoHx
Danilo, também conhecido pela Fiel como ZiDanilo. Já estava ficando mais cansado por conta da idade, mas quando entrava em campo, era uma técnica absurda! Sempre se dedicava, sempre entregava o melhor que podia. E ajudava bastante. Gostaria que tivesse encerrado a carreira no Timão, mas ainda assim é um ídolo do clube. Bela entrevista, gostei.

Craque Neto. Lembro claramente do Neto xingando todo mundo no seu programa. De lá saíram várias frases que eu dou risada até h...ler comentário completo »
Outro título histórico
2020-08-07 12h59m por ScPKoHx
Corinthians não tinha um elenco badalado, pelo contrário, era bem desacreditado. Tanto que foi taxado como quarta força do Campeonato Paulista. O time da moda era o Palmeiras, que já vinha de um título em 2016, com ajuda da Crefisa, e havia se reforçado ainda mais com dinheiro da empresa.

O "cala-boca" começou logo no primeiro dérbi. Corinthians teve o Gabriel expulso em uma roubalheira absurda e, com um a menos, conseguiu a vitória com gol do Jô.
O título do Pa...ler comentário completo »
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