Dinamite dá dicas a Talles Magno e reclama de vaidade no Rio no meio da pandemia

Maior ídolo da história do Vasco, Roberto Dinamite concedeu entrevista exclusiva para a reportagem de oGol e falou sobre o momento do futebol carioca no meio da pandemia. O ídolo cruz-maltino aproveitou para analisar o ataque do time, com conselhos para o jovem Talles Magno.

Grande artilheiro da história do Vasco e ex-presidente do clube, Roberto Dinamite conversou com a reportagem pouco antes de Yaya Touré oficializar a sua desistência em vir para o Brasil. Mesmo sem saber da decisão de marfinense, Dinamite já demonstrava pouca empolgação com a possibilidade, e não por conta da qualidade inegável do meia - "grande jogador, de seleção" - mas sim por entender que, com 37 anos e vindo de longa inatividade, não seria a resposta para os problemas do time.

"O Vasco tem outras prioridades, mas não vou entrar no aspecto político do clube, não sei como está sendo feito. O cara pode ser bom tecnicamente, mas você tem que ter ritmo, sequência", explicou

Talles Magno, um talento a ser cuidado

Do elenco atual do Vasco, Talles Magno é provavelmente o nome mais promissor. Dinamite se diz um admirador do futebol do jovem, embora destaque alguns pontos que o atacante pode melhorar. O ídolo cruz-maltino espera que o clube saiba proteger o garoto enquanto ele segue sua evolução natural. 

"Ele já mostrou que tem qualidade, tem talento. Agora está em uma fase de afirmação. Ele machucou, está voltando. O que eu vejo é que o time não pode jogar em cima dele uma situação de salvador da pátria. É um jogador que precisa evoluir, porque ele tem muita velocidade, mas precisa aperfeiçoar a finalização. Isso só acontece com treinamento, na sequência. Torço para que o Talles mostre isso. O que ele vem fazendo com 17 anos, já é muito bom. Só não pode jogar a responsabilidade toda para ele. Tem que ser uma peça que faça diferença, mas que o conjunto trabalhe junto para poder dar essa liberdade para ele criar. Uma coisa que acho que ele vai precisar é a parte da finalização. Ele é muito bom jogador", analisou Dinamite, que recordou seu início no Vasco. 

"Eu também comecei com 17 anos, mas só fui titular com 19 para 20. O que não pode é jogar a responsabilidade em cima dele. Ele tem que ser a válvula de escape para criar a jogada, tocar, aparecer, fazer gol, que é importante de aperfeiçoar. Se encaixar para aquilo que o Vasco tem de proposta, pode fazer a coisa acontecer. Talento ele tem, mas precisa ser ajudado, e não só ajudar", completou. 

Dinamite elogiou também Germán Cano, o principal centroavante do Vasco. Ressaltou, porém, que o time ainda precisa de reforços em outros setores. 

"O Cano é um jogador rápido, tem um raciocínio rápido, sabe fazer gols. Ele é uma peça, assim como o Talles. Mas falta os caras ali atrás para fazer a ligação entre o meio-campo e o ataque para o time ficar equilibrado".

Vaidade atrapalha futebol carioca 

Quando o assunto é a volta do futebol em meio a pandemia do coronavírus, Dinamite é incisivo. Tem opinião clara, garantindo que o clubismo não tem vez, e que o futebol carioca precisa de união. 

"Existe uma decisão que os clubes não poderiam voltar. O Flamengo voltou, o único do Rio que voltou. E aí não acontece nada. O Flamengo pode fazer exame, mas não tem garantia nenhuma. O que falta, principalmente no futebol do Rio, é Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense e também as outras equipes dentro desse processo, tem que se sentar e discutir o interesse do futebol do Rio de Janeiro. Qual o interesse do futebol do Rio? É voltar? Então vamos ver de voltar. Mas se você falar com qualquer infectologista, ele vai falar que é cedo, muito arriscado. O grande problema hoje é que as pessoas não sabem direito o que vai acontecer. Você faz o exame, mas pode não aparecer ali, pode estar encubado. Pode não estar nem com os sintomas. Minha esposa estava (com a Covid). Eu acho que tive também, mas foi essa coisa assintomática. Mesmo que o jogador faça exame todos os dias, o cara vai ficar no hotel para sempre? Mas isso, para o futebol, tem que ser discutido por todos", disse Dinamite.

O ídolo vascaíno criticou a decisão do Flamengo de retomar os treinamentos presenciais antes dos rivais da cidade. Dinamite acha que o momento exige o máximo de cautela. 

"O Flamengo tomou a decisão porque tem estrutura para fazer os exames. Foi noticiado que vários funcionários do Flamengo estavam com o vírus, faleceu um massagista querido por todos... Aí não é clubismo. O que serve para um, serve para todos. Se foi determinado uma coisa... Se acontecer alguma coisa com um jogador do Flamengo, quem é o responsável? O próprio clube? Aqui no Rio cada um acha que é dono do seu nariz, mas quando fala em sentar uma mesa e discutir o interesse do futebol do Rio, tem os quatro grandes e quatro equipes de porte médio. Qual a garantia que você tem para eles? Isso não está muito claro. Como os clubes menores vão realizar isso? Fui presidente, sei a situação dos clubes, os clubes precisam jogar, se reestruturarem, arrecadarem algo. Mas o nosso ex-médico, Clóvis Muñoz, ficou 62 dias internado, perdeu 38 quilos. Tem que voltar é uma coisa, mas tem que voltar com segurança", aconselhou. 

Dinamite ainda questionou a recomendação da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, que "liberou" os treinos para as equipes do Estado. 

"Eu faço um programa com o Bismark e alguns convidados, e um deles era um infectologista que estava na listagem da Ferj. Ele falou: 'Eles botaram meu nome lá, mas não fui consultado'. Ele é contrário (a volta ao treino) nesse primeiro momento. Você tem que ver é que são vidas". 

O ídolo vascaíno finalizou com um pedido de união dos dirigentes das equipes do Rio de Janeiro. Para Dinamite, a vaidade impede a união dos times do Rio. 

"É vaidade. Os caras se acham. Estou falando como ex-atleta, ex-presidente. Vaidade é f... O Flamengo hoje tem condições de fazer exame todo dia, mas vai estar sempre sujeito a pegar. Fiz, minha mulher fez, meu filho fez. A mulher falou: 'Você pode ter pego a três dias e o vírus ainda está encubado'. Em o caso assintomático, mas tem também o cara que o exame não mostra logo. A gente tem que deixar a vaidade de lado e olhar o que é melhor para todo mundo", finalizou.