Entre as cinco principais ligas europeias, certamente a Premier League é o terreno mais complicado para o brilho de brasileiros. Se na Espanha, Itália, França e Alemanha os clubes estão acostumados a terem jogadores do país em destaque, na Inglaterra é um pouco diferente, ainda que essa "barreira" venha diminuindo cada vez mais. Bruno Ribeiro, um dos brasileiros que aceitou o desafio de jogar por lá, teve um trajeto um tanto incomum, deixando o Grêmio Barueri direto para a liga mais rica do mundo, em 2011, aos 29 anos.
Bruno, que hoje tem 37 e defende o Marília, é o primeiro e único brasileiro a defender as cores do tradicional Blackburn, clube que foi campeão da Premier League na temporada 1994/95.
"Não é um clube grande, mas é tradicional por ter sido um dos menores a ganhar a Premier League. Hoje temos o Leicester, que conseguiu o mesmo feito. Em termos de estrutura é algo assim que nunca imaginei, inexplicável. Chegar lá com a estrutura do Brasil e ver o nível de organização e o comprometimento dos torcedores com o clube é sensacional", diz o lateral direito em entrevista a oGol.
Apesar de ter feito uma ponte direta do Campeonato Paulista para a elite inglesa, Bruno não chegou a entrar em campo na primeira temporada pelo clube. Ele explica que concorrência na posição - o clube contava com Michel Salgado, ex-Real Madrid como opção -, a adaptação ao alto vigor físico do futebol inglês e a incompatibilidade com o treinador na época dificultaram o início no Blackburn."No segundo ano, na Championship, quando houve uma troca de diretor, o mesmo treinador resolveu me dar oportunidade, aí joguei mais. A Championship é a segunda divisão inglesa, mas quando a gente pensa em queda de nível técnico e estrutura, é diferente. A segunda divisão é muito forte, o nível é muito bom. Esse ano que joguei a Championship meus primeiros jogos foram contra Leicester, Wolverhamptom, Middlesbrough, Leeds, Crystal Palace... São equipes estruturadas e acostumadas a estar na Premier League", recorda.
A temporada 2012/13 acabou por ser especial e um divisor de águas na carreira do jogador. Foi quando ele teve a chance de jogar ao lado do atacante Nuno Gomes, que havia feito sucesso em Portugal e pela seleção lusitana, e enfrentar um então pouco conhecido Jamie Vardy, que já era titular do Leicester na Championship. Bruno lembra que foi eleito o Man of the Match no triunfo contra os Foxes.
"Também joguei contra jogadores que hoje estão brilhando muito, mas na época eram meninos na Inglaterra. Eu joguei pela equipe B contra Sterling, Pogba e alguns outros também, que na época não eram tão renomados", afirma.
A carreira de Bruno no futebol europeu, porém, foi curta. Ele chegou ao país aos 29, depois de ter conseguido o passaporte italiano, o que facilitou a transferência pelo fato de não contar como um estrangeiro (no caso não-europeu) no elenco. Pouco menos de dois anos depois, já embarcava de volta para o Brasil, em uma decisão que hoje ele se arrepende.
"Hoje posso dizer que me arrependo de ter voltado. Eu deveria ter tentado ficar mais lá fora, já que eu tinha mais um ano de contrato, estava em um bom momento e tinha jogado... Apenas uma troca de treinador, em que fiquei um pouco de lado, achei injusto e fiquei sete jogos fora. Fiquei chateado, nervoso com isso e, juntando com alguns problemas familiares que tive no Brasil, pedi para voltar, para ser emprestado", explica Bruno, ressaltando que tinha propostas de outros países para seguir na Europa.
Do Blackburn, Bruno foi para o Linense e rodou o futebol brasileiro do Nordeste ao Sul. Já veterano, a aposentadoria não está nos planos a curto prazo. Hoje ele joga por empréstimo no Marília, clube que o revelou, e possui contrato ativo com o Pelotas, onde pretendia disputar a Série D deste ano, mas a paralisação do futebol no país não deixa certezas sobre onde será o futuro.
"Eu fisicamente me sinto muito bem. Nunca tive nenhuma lesão muscular e isso me ajuda bastante. Neste ano, de 11 jogos eu joguei 10. Então, eu acredito que ainda consiga estender minha carreira por mais uns dois anos, mas o preconceito é muito eminente por parte de alguns clubes e treinadores, que provavelmente se não me conhecerem não vão querer me contratar pelo fato da idade", lamentou.
Quando se aposentar, Bruno já sabe o que pretende. Perto de se formar em educação física, o jogador não pensa em deixar o futebol de lado e tem nos planos fazer cursos relacionados com a gestão no esporte.