Lincoln tem apenas 21 anos, mas já tem a experiência de um veterano. Um verdadeiro prodígio no Grêmio, onde despontou ainda com 16 anos com direito a recordes, o meia conheceu em seus cinco anos de carreira os sabores e dissabores do futebol de alto nível.
No modesto Santa Clara, de Portugal, Lincoln conversou com a nossa reportagem em Portugal para falar da carreira desde os seus primeiros passos. E não foram fáceis. Ainda garoto, Lincoln perdeu seu principal incentivador, o próprio pai.
"Independentemente da idade sempre vamos sentir, mas eu tinha 10 anos quando perdi o meu pai, foi muito difícil para mim. No início era o meu pai que me levava para o treino, apanhava dois ou três ônibus, e ele fazia esse processo todos os dias comigo e isso acaba por ser difícil. Era muito jovem, não entendia muito e isso foi doloroso demais para mim", confessou.
"Eu sempre quis ser jogador de futebol e sei que ser jogador de futebol não é fácil, é preciso abdicar de muita coisa - cuidar da alimentação, amizades que só aparecem nos momentos bons -, é muita coisa. Eu estava disposto a abdicar disso para ser jogador, o meu pai sabia disso e me abriu os olhos em relação a isso. Quando saí para ir para o profissional isso foi um sonho, fiquei grato por tudo, pelo meu pai, porque ele fez parte desse processo também. Foi uma conquista para mim e para toda a minha família", completou.
"Eu disse ao meu tio - Vou dormir porque amanhã vai ser um dia muito importante. Ia ser um dia à parte porque ia jogar contra jogadores que via na televisão, profissionais em quem a gente se inspira. Então eu disse que ia dormir porque o dia seguinte ia ser especial, tinha de ir bem, precisava mostrar o meu trabalho e seria um dia especial. Graças a Deus, fiz um excelente treino e o professor (Felipão) gostou do que viu. Não era um treinador qualquer. Claro que todos os treinadores são importantes, mas era um treinador campeão do mundo, respeitado, estudado, entendido. Fico feliz pela oportunidade que me deu e sou muito grato a ele por isso, por tudo o que aconteceu", relembrou.
Poucos meses depois, Lincoln completou 16 anos e estreou como profissional. Acabou por superar o ídolo Ronaldinho Gaúcho como mais jovem gremista a marcar na Libertadores. Apesar do sucesso, o meia confessou ter sentido sim a pressão.
"Na verdade a gente sente pressão, sim. É uma coisa diferente. Estava com atleta experientes, mas os jogadores que estavam no elenco davam confiança, me deixavam tranquilo, não criavam pressão", explicou.
"Sou uma pessoa tranquila, os jogadores de futebol têm de aguentar, entender. Amadureci cedo com tudo o que aconteceu na minha vida e acho que isso também facilita. Agradeço ao Felipão tudo o que ele fez, porque entendia o processo e foi um pai para mim desde que subi a profissional", agradeceu.
"Acredito que tudo na minha vida tinha um objetivo. Sempre tive o sonho de jogar em Portugal e surgiu essa situação para ir para a Turquia. Sentei-me com o técnico, o Renato Gaúcho, e pedi para jogar na Turquia. Era um empréstimo, tinha o sonho de jogar em Portugal e ao ir emprestado para a Turquia já ia ter experiência e uma noção do que realmente é. Fui para a Turquia, fui campeão lá (da segunda divisão), depois voltei, ainda fui para o América Mineiro, mas acabei por ter a oportunidade de vir para Portugal", disse.
Lincoln acredita que o sucesso do Grêmio com Renato acabou por dificultar a sua continuidade, com concorrência forte para um jogador ainda em formação, apesar de tratado como grande promessa na base. No Santa Clara, o meia começou a temporada como reserva, mas conquistou seu espaço como titular e, com muito tempo pela frente na carreira, espera alçar voos ainda maiores.
"Já tinha ouvido falar muito do Campeonato Português, tive muitos amigos que jogaram aqui e lembro-me quando surgiu a chance de vir para o Santa Clara. Acabei por falar com o Lucas Marques, que estava aqui, e ele me disse que era muito bom, que o clube também era bom e nem pensei duas vezes. Tinha o sonho e acabei por nem pensar. Não tenho dúvidas que tomei a decisão certa", disse, embora não tenha sido fácil deixar o Grêmio.
"Foi um pouco difícil, mas ambas as partes queriam e quando é assim as coisas acontecem. Eu disse que o meu desejo era vir para a Europa, para Portugal, que era um sonho meu e o clube entendeu. Falei com o Renato e aí ficou mais fácil, ele entendeu a minha decisão".