No Brasil, o estereótipo sobre um jogador de futebol é de alguém que, cedo, teve que abandonar os estudos e optar por uma vida dedicada exclusivamente ao esporte. Provavelmente, essa é de fato a realidade da maioria dos jogadores. Há exceções. O meia Pedro Ribeiro, que atua no Vasteras SK, da Suécia, é exemplo disso.
Filho de professores e criado em uma família de classe média em Belo Horizonte, Pedro chegou a passar pela categoria de base de Cruzeiro e Atlético, mas não deu sequência no sonho de ser jogador de futebol no Brasil. Em 2006, aos 16 anos, ele deixou a base da Raposa e seguiu seus estudos, até surgir a oportunidade de ir estudar nos Estados Unidos.
"Eu tive uma trajetória um pouco diferente da maioria dos jogadores brasileiros. Em 2010 eu fui para os Estados Unidos para a universidade, na época eu não jogava mais futebol no Brasil. Então, aos 19 anos, fui para os EUA para estudar e jogar no futebol universitário - que hoje é um caminho que muitos brasileiros têm tomado. Depois dos meus quatro anos na faculdade, acabei entrando para o Superdraft da MLS, que é o processo de seleção de jogadores universitários. Aí fui selecionado pelo Philadelphia Union", explicou Pedro, em entrevista ao podcast oGol Pelo Mundo.
A passagem de um ano pelo Philadelphia foi um impulso na carreira para um salto, então, inimaginável. Pedro passou a ter seu nome especulado no Orlando City, onde teria a oportunidade de jogar com Kaká. A especulação se concretizou em transferência e foi com o ex-jogador do Milan, São Paulo e seleção brasileira com quem Pedro diz ter aprendido mais na carreira.
"Na época eu nem acreditava: 'não é possível, Kaká tá lá, um cara que eu sempre admirei, via na televisão, jogava no videogame, o último brasileiro melhor do mundo... '. Nessa época era só um sonho. Quando o processo acabou, fiquei em choque e contando os dias para chegar o início da temporada para ter o privilégio de jogar, conviver, treinar e aprender com o Kaká. Foram dois anos de muito aprendizado", afirmou o jogador, ressaltando que Kaká fez ele ver com outros olhos a preparação no futebol.
Depois de nove anos nos Estados Unidos, entre o futebol universitário e o profissional, Pedro teve a oportunidade de rumar ao futebol europeu, mas especificamente para a Suécia. Na Europa, conheceu algo que para ele seria uma novidade enquanto jogador - a relação com a torcida.
"Aqui é diferente dos Estados Unidos. Lá é um pouco mais tranquilo, não tem tanta pressão da torcida: se seu time empata, ganha ou perde a maioria dos torcedores mantém o mesmo tipo de relação com os torcedores. Não que eles não se importem, mas não tem aquela pressão que tem no Brasil. Aqui eu diria que está entre o Brasil e os EUA. Eles são muito apaixonados por futebol e a torcida vai mesmo aos jogos", comentou.
Tema inevitável no mundo, mesmo que seja no futebol, a pandemia do Covid-19 também afeta o futebol sueco. A liga do país tem previsão de início na primeira semana de abril, o que deve mudar com o surto da doença. Um possível adiamento do campeonato para início em junho não está descartado. Muito além disso, a vida em Estocolmo, capital do país, também já mudou.
"Estocolmo é uma cidade grande, tem muitos habitantes, a maioria da população da Suécia concentrada aqui. Tive que ir no centro para resolver algumas coisas e percebi muito menos pessoas, pouca gente no metro e restaurantes, cafeterias que normalmente ficam cheias estão vazias. A quarentena está começando aqui, mas ainda se vê algumas pessoas na rua e times treinando, então está um clima diferente. Pessoal parece que está meio assustado e os casos têm aumentado na Suécia", explicou.
Questionado se ele se sente ameaçado pela situação, Pedro diz que não e lembra que tem tomado os cuidados básicos de prevenção, como lavar as mão e evitar locais com grande aglomeração. Em campo, por outro lado, a situação ainda não mudou tanto.
"Pessoalmente, acredito que não mudou muito. A única coisa que não aconteceu foi o cumprimento antes do jogo, de cumprimentar os jogadores e os árbitros. Isso decidiram não fazer. Mas quando a bola rola, tudo normal. Também não teve torcida. Como todo jogador acredito que fala, é estranho jogar com estádio vazio, dá uma sensação de treinamento", disse o jogador, sobre um amistoso disputado no último sábado.
Até o momento, a pandemia do Covid-19 alcançou mais de 200 mil pessoas no mundo. Na Suécia são 1.196 infectados e nove mortos.