João Félix entrou em campo neste sábado pelo Atlético de Madrid para enfrentar o seu ídolo, Cristiano Ronaldo, em amistoso de pré-temporada contra a Juventus. Um momento especial na carreira de qualquer jogador. Mas Félix foi além. Saiu vitorioso do confronto, marcou um gol e deu a assistência para outro na vitória por 2 a 1. Acabou por ofuscar CR7. Não por acaso a nova sensação lusa, de apenas 19 anos, fez o Atleti pagar 120 milhões ao Benfica por seu futebol.
Félix não é um caso isolado. Nos últimos anos, o Benfica tem se especializado em revelar talentos para o restante da Europa. Dono de cinco títulos da Liga Portuguesa nos últimos seis anos, o clube encarnado combina esse sucesso em conquistas também com formação na base que rende frutos e altas cifras.
A venda de João Félix, ao Atlético de Madrid, é o ápice deste momento que o clube atravessa. Com apenas 19 anos, ele foi a transferência mais cara do futebol português e a quarta maior da história. E o início no Atleti, apesar da desconfiança inicial pelos altos valores, tem deixado o torcedor do clube esperançoso.
Na realidade, o futebol português há muito faz um papel de exportador de talentos para o restante da Europa, nem sempre de atletas formados na base. O próprio Porto, principal rival do Benfica nas últimas décadas, se notabilizou por montar sua estratégia na busca por talentos para exportação.
Como o mercado português não faz frente ao poderio de ligas como a espanhola, inglesa e alemã, os clubes fazem a famosa “ponte” antes do salto para os principais clubes, algo que os clubes brasileiros estão acostumados a fazer há algum tempo.
O Benfica tem conseguido muito sucesso em sua proposta. Para provar isso, a equipe oGol fez um levantamento de jogadores em destaque em grandes clubes do continente e que passaram pelo time lisboeta, contando apenas atletas jovens, com 25 anos para baixo. Há boas opções para todos os setores, e dividimos a nossa lista por defesa, meio-campo e ataque.
Começamos a nossa lista pelo gol, e com um brasileiro. Ederson, goleiro da confiança de Pep Guardiola no Manchester City, só não é titular da seleção canarinho pois Alisson, do Liverpool, é inquestionável e um dos, senão o melhor, goleiro da Europa. Ederson se formou na base do Benfica, ganhou experiência nos modestos GD Ribeirão e Rio Ave e voltou ao clube lisboeta para conquistar dois títulos nacionais antes de ser negociado por 40 milhões de euros, um valor surpreendente para um goleiro dois anos atrás.
Nas laterais, o Benfica poderia ter à disposição dois atletas que já são o presente e também o futuro. João Cancelo, do City, e Nelson Semedo, do Barcelona, têm apenas 25 anos de idade e disputam a titularidade na seleção pelo lado direito do campo. Semedo ainda chegou a se destacar pelos Encarnados, mas Cancelo mal jogou profissionalmente pelo clube antes de deixar Portugal.
Já na zaga, o destaque fica para Victor Lindelöf. Vendido ao Manchester United por 35 milhões de euros, em 2017, o zagueiro teria despertado o interesse do Barcelona nesta janela de transferências, embora tenha até sido criticado por falhas antes de se firmar na Inglaterra.
Chegamos ao meio-campo. Um dos mais promissores atletas portugueses dos últimos tempos, Renato Sanches, ainda aos 18 anos de idade, foi vendido ao Bayern de Munique. Com dificuldades iniciais de adaptação, o volante chegou a ser emprestado ao Swansea City, da Inglaterra. Nesta última temporada, finalmente voltou a mostrar um futebol em bom nível com a camisa do Bayern, embora não tenha evoluído como se esperava. O meia rendeu 35 milhões ao Benfica.
Já o italiano Bryan Cristante saltou do Milan para o clube português na temporada 2014/15 em busca de mais tempo nos gramados no início de carreira. Não teve muitas chances no time comandado à época por Jorge Jesus, hoje no Flamengo. De volta à terra da Bota, o atleta passou por Palermo, Pescara e Atalanta até chegar a Roma, e tem convocações para a seleção de seu país.
Para fechar a meia, talento criativo. Curiosamente fora da lista da FIFA com os dez melhores jogadores da última temporada, Bernardo Silva, do City, fez temporada impressionante. 13 gols, 13 assistências e os títulos de campeão inglês, vencedor da Copa da Inglaterra, Copa da Liga Inglesa e Supercopa da Inglaterra. Nunca um clube inglês havia vencido estes quatro torneios na mesma temporada e Bernardo foi peça chave nas conquistas.
Com apenas 16 anos, Luka Jovic foi vendido pelo Estrela Vermelha quando a equipe atravessava graves problemas financeiros. O jovem sérvio não se adaptou à Portugal e, inclusive, foi flagrado numa noitada antes de um jogo do Benfica. Emprestado ao Eintracht Frankfurt, com opção de compra, o atacante deslanchou na Bundesliga. Vice-artilheiro do campeonato alemão, com 17 gols, Jovic rumou para a Espanha, onde vai atuar com a camisa do Real Madrid.
Por fim, o Benfica imaginava que conseguiria segurar João Félix por mais tempo com uma cláusula de rescisão de 120 milhões de euros. Não foi bem assim. Foram apenas 43 jogos e 20 gols marcados com a camisa do Benfica, mas Félix deixou a sua marca impressa de tal forma que o Atlético de Madrid abriu os cofres para levar o jovem português à Espanha.
Apenas nesta janela, o clube recebeu quase 190 milhões de euros em vendas. Além de Félix, dá para destacar as vendas de Raul Jiménez, André Carrillo e Salvio, além dos mais de sete milhões pela compra de Jovic pelo Real.
Fora os atletas mencionados acima, vale destacar mais dois nomes atualmente com 26 anos: Jan Oblak, do Atlético de Madrid, e André Gomes, atualmente no Everton, da Inglaterra, são outros dois exemplos da máquina de fabricar e vender jogadores em que o Benfica se transformou.