Campeão com JJ no Benfica, Siqueira disseca treinador e dá conselhos a jogadores do Fla

Guilherme Siqueira, lateral com passagens por Valencia e Atlético de Madrid, esteve uma temporada em Lisboa. Lá, viveu uma temporada vitoriosa com Jorge Jesus, campeão português e da Taça de Portugal. Durante um ano, o brasileior conviveu com o novo treinador do Flamengo. 

Em entrevista para oGol, Siqueira falou do período em que trabalhou com JJ. Das broncas ao sucesso, do lado folclórico ao mais sério do técnico português, e aconselhou os jogadores do Rubro-Negro, principalmente os laterais, que ouvirão mais de perto as cobranças. 

Confira a entrevista: 

oGol: De acordo com jornalistas portugueses, o JJ é um treinador direto, do estilo português, sem meios termos. É por aí mesmo?

Siqueira: Jorge Jesus é um dos melhores treinadores que tive na minha carreira, junto com Simeone. Foram os dois mais completos. Procura sempre a perfeição, muito detalhista, profissional, respira futebol diariamente. Procura passar sempre para seus jogadores as melhores soluções possíveis para os jogos, no dia a dia nos treinos, enfim... É um treinador com o qual aprendi muito, me potencializou demais. Um treinador para potencializar uma equipe, ele precisa disso. O que falam à parte é secundário. O Flamengo precisa de uma equipe que jogue, que melhore, e acho que o Jorge Jesus é o treinador mais recomendado para o momento. 

Dizem também que ele é uma espécie de Rei da tática, optando por um futebol ofensivo. Taticamente, como analisa ele?

Taticamente, ele é perfeito. Foi o treinador que mais me potencializou taticamente no quesito ofensivo. É um treinador muito inteligente, com uma ideia de jogo, tanto ofensiva quanto defensiva, muito diferenciada. Sem dúvidas, é um treinador completo no quesito tática. 

Ele ficou marcado no Benfica por dar pouco espaço ao Bernardo Silva, apostando muito em medalhões. Acha que isso é mesmo uma característica deles e que pode favorecê-lo no Flamengo, já que medalhão não falta na Gávea?

Não vejo por esse lado. Na época do Benfica, tínhamos um plantel na equipe A muito qualificado, onde era muito difícil dar espaço aos jovens. Menciono, além de Bernardo Silva, Lindelof, hoje no United, João Cancelo, campeão com a Juventus, Ivan Cavaleiro, que joga a Premier League. Eram vários jogadores na equipe B do Benfica que mereciam oportunidade, mas o nosso plantel na equipe A era muito qualificado, então esses atletas acabaram tendo poucas chances, alguns tiveram que sair. Mas não por questões técnicas, mas por espaço. O Jesus gosta de potenciar atletas e, nesse quesito, os jovens são os mais necessitados. Então não vejo por esse lado, não.

Ele também é muito exigente, dá muitas broncas na beira do campo...

Eu, como lateral, presenciei algumas. Acabo ficando mais perto dos treinadores e ele é um treinador que vive o jogo intensamente, está sempre dando ordem, posicionando, arrumando, enfim. Então ouvi algumas indicações, algumas broncas do Jesus. Mas o atleta, quando acaba conhecendo ele, sabe que tudo é em prol da equipe, em prol do rendimento do atleta. E cada treinador tem sua maneira de se expressar, de ensinar, enfim. E ele tem essa forma um pouco mais peculiar dele (risos).

Pelo visto, então, Rodinei, Pará, Renê e companhia que se preparem... 

É, vão ouvir bastante indicação, viu? Mas o atleta que trabalha com o Jorge Jesus tem que estar muito feliz, muito satisfeito, porque, com certeza, o rendimento dos atletas aumenta muito. A gente sabe que todo atleta precisa de um comandante detalhista, perfeccionista, exigente, e isso o Jorge Jesus tem de sobra. Então, sem dúvida alguma, esses atletas estarão satisfeitos, dentro de um tempo, com o trabalho do Jorge porque, realmente, pude comprovar o que ele é capaz de fazer. 

E você, já ouviu muita bronca dele? Tem alguma história que queira contar para finalizarmos?

As primeiras semanas no Benfica foram de muitas reuniões, muitas conversas, onde ele, desde o início, quer passar que tipo de jogo ele quer, que tipo de comportamento ele quer nosso em campo. Um atleta que começa a trabalhar com ele, inicialmente, é muito corrigido (risos). Mas as broncas nunca foram pejorativas, nunca foram querendo denegrir, muito pelo contrário. Sempre foram construtivas. Como todo treinador, né. Como digo, cada treinador tem sua maneira de passar o recado. Ele é um pouco mais intenso no recado (risos). Mas o importante é o jogador captar aquilo que ele quer para melhorar dentro de campo. Quando a gente começa a ver desse lado, qualquer bronca é bem-vinda.