Quem vê Camilinha sorrindo hoje, no Algarve, em Portugal, se preparando para a Copa do Mundo Feminina, não imagina como foi difícil chegar até aqui. Além de toda a dificuldade que cerca a iniciação esportiva de uma menina no futebol (um misto de preconceito e desconfiança no meio da falta de estrutura), Camilinha sofreu com as lesões. E quase ficou fora da Copa, a ser disputada no próximo mês na França.
A meia do Orlando Pride, dos Estados Unidos, rompeu o ligamento cruzado anterior. Ficou afastada dos gramados por um período maior que o esperado. Duvidou de si mesma. Pensou que a Copa não chegaria dessa vez. Mas Camilinha manteve a cabeça alta e, com a bola nos pés, conquistou sua vaga no avião para a França, com conexão em Portugal.
"O período da lesão até chegar aqui foi árduo, bem complicado. Logo no início da lesão, tive complicações, tive de refazer a cirurgia porque os pontos não estavam fechando. Depois levei nove meses para voltar a jogar, jogando pouco, não estava na minha melhor parte física, isso complica muito. Depois percebi que tinha a confiança do meu técnico no Orlando, e quando fui convocada de novo para a seleção, vi que eles confiavam no meu trabalho. Então procurei me esforçar e fazer tudo da melhor forma para poder estar aqui hoje e, graças a Deus, tudo correu bem", disse, em entrevista exclusiva para oGol.
Após todo o drama, Camilinha vive o sonho de se preparar para uma Copa do Mundo. A meia ressalta ajuda das três grandes pilares da seleção hoje em dia: Formiga, Marta e Cristiane. A experiência das três é fundamental para o grupo.
"É uma experiência única e incrível. Acho que é a última Copa da Cristiane. Ter elas aqui é muito bom. A experiência que elas dão para as meninas mais novas, como eu, que vou para a minha primeira Copa, é fundamental. Elas passam toda a experiência delas e nos deixam tranquilas para a gente fazer o que a gente faz diariamente, que é jogar futebol. O nome delas é muito forte e, com certeza, tranquilizam a gente dentro de campo", confessou.
Camilinha tem uma parceria especial com Marta, de quem é companheira também em Orlando. A meia mais jovem revelou que já levou alguns "puxões de orelha" da melhor do mundo, mas agradece tudo o que aprendeu com Marta.
"Nossa união é muito forte mesmo. A gente se dá super bem. Ela já puxou a minha orelha várias vezes. Eu faço isso algumas vezes com ela, não muitas, poucas, mas ela sempre ouve. Mas ela puxou minha orelha várias vezes para estar aqui. Ela falou: 'Você tem capacidade, você é boa, a gente precisa de você e você tem que estar bem'. Ela me falou isso muitas vezes e falou: 'Agora que você está aqui, você aproveite a oportunidade que está sendo dada e faça seu melhor.' É o que estou fazendo diariamente. Além de parceira de clube e seleção, ela virou uma grande amiga, e essa amizade vai prevalecer com o passar do tempo".
Camilinha confessa que a seleção brasileira não está no melhor momento, já que chega para a Copa com nove derrotas seguidas, mas, com a união do grupo, tem condição de fazer um grande papel na França.
"A gente está trabalhando muito. A gente talvez não está na nossa melhor fase, mas é nesses momentos que a gente acaba se unindo muito. A gente sabe que a gente pode não estar na nossa melhor fase, mas está com um elenco fechado, 23 atletas que querem a mesma coisa, que buscam o mesmo objetivo. Não tem como dar errado: estamos fechadas e o que bater na gente vai voltar. A gente está com um grupo unido. Podemos não ser as favoritas, mas Copa do Mundo vale tudo, não tem derrotas anteriores. Vamos dar o nosso melhor para sairmos vitoriosas daqui", declarou.
O Brasil está no grupo C do Mundial, com Austrália, Itália e Jamaica. A estreia vai ser no próximo dia 09, às 10h30 (de Brasília), contra as jamaicanas.