Muitas vezes dizemos que o mundo é uma bola e gira muito rápido. No futebol, assim as coisas funcionam: um dia você está trabalhando no Brasil e, no outro, vai para um continente totalmente distante, com uma língua diferente da sua. Everton Rafael é mais um treinador brasileiro que teve um destino um tanto inusitado para a carreira.
Afinal, Everton é o único técnico brasileiro que trabalha na Nigéria. Ex-jogador de futebol, com passagens na base por Santa Cruz ,Sport e Bahia, Everton começou como treinador em Santa Catarina. Havia acabado a carreira no Fluminense de Joinville quando recebeu a oportunidade de comandar o time.
"Eu fui para jogar e acabei me machucando. Os primeiros quatro jogos o time acabou perdendo. Como eu tinha um bom relacionamento com o presidente, ele resolveu me promover a treinador. No começo eu não aceitei, mas depois de conversarmos bastante aceitei o desafio".
Everton Rafael acabou se saindo bem na nova carreira. "O Fluminense vinha de quatro derrotas e, quando eu assumi, fizemos dez jogos invictos". A boa campanha acabou levando o técnico para um destino inusitado no futebol: a Nigéria.
"O presidente do FC ifenayi Ubah, da Nigéria, estava de férias no Brasil e assistiu um jogo meu. Ele acabou gostando do meu trabalho e me fez uma proposta para eu vir para Nigéria", recordou o técnico, que em um primeiro momento não estava inclinado a aceitar o desafio.
"Tvemos três reuniões. As duas primeiras eu não aceitei pelo fato que via muitas notícias sobre guerra na Nigéria. E também por desconfiar que talvez fosse um golpe ou algo assim. Na terceira conversa, ele fez uma proposta irrecusável. Fez o pagamento à vista de um ano de trabalho. Dinheiro de contrato, direito a levar três jogadores brasileiros, auxiliar e uma estrutura muito boa de trabalho. Esse mesmo clube tinha parceria com o West Ham, da Inglaterra".
Everton Rafael tem como auxiliar seu pai, Israel, que tinha uma escolinha de futebol em Recife (na qual o hoje técnico deu seus primeiros chutes). Os temores do brasileiro com relação a segurança no país acabaram não se confirmando.
"Graças a Deus, tudo que eu via na televisão e noticiários não se confirmou. É um país muito bom de se viver, me acolheram muito bem e tiveram muito respeito por mim aqui. A região que estou, de fato, é muito pacata. Com as viagens dos jogos, já fui a lugares que falavam que eram muito perigosos e, graças a Deus, não vi violência ou algo parecido", contou.
Como é o futebol na Nigéria, o leitor deve se perguntar. Everton Rafael contou para a reportagem que é "bastante diferente" do brasileiro. Não só o futebol em si. "Aqui é muito quente, os hábitos alimentares são muito diferentes. No começo, sofri muito por causa da pimenta".
"No começo, foi difícil. Eles aqui falam inglês e eu não falava nada de inglês, mas tive aulas todos os dias e aprendi. Aqui, geralmente, existe certa dificuldade, pois a Nigéria é um pais que tem 500 tipos de línguas diferentes. Muitos jogadores não tem estudo e acabam falando apenas a linguagem da tribo deles", revela.
O brasileiro cita, por outro lado, semelhanças culturais na dança, artesanato e paixão pelo futebol. "O pessoal aqui ama futebol. Em todos os jogos, os estádios estão cheios. E aqui não tem as coisas que tem no Brasil, tipo torcedores fanáticos que brigam. Eles gostam de um futebol bem jogado. Se o time oponente for jogar na casa do adversário e trocar muitos passes ou fizer um gol bonito, eles aplaudem".
O técnico revelou que chegou a ver torcedores se ajoelhando na frente dele após uma classificação para a Champions League da África. "Eu descobri depois que essa atitude é uma forma de agradecimento pela felicidade que tinha propiciado a eles".
Everton Rafael tenta ganhar esta temporada a Premier League da Nigéria pelo Akwa, mas o grande objetivo do treinador é ganhar a principal competição de clubes da África. "Meu grande objetivo é ser campeão da Champions Legue da África, jogar um Mundial de Clubes, quem sabe contra um Real Madrid, Barcelona ou um grande clube da América".