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    Bruno Lopes relata clássico sangrento na Indonésia

    Brasileiro que já derrubou Dragões vai de tanque a clássico para fugir da violência

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    "É uma rivalidade que não fica dentro de campo. É uma relação de ódio e ódio. Não existe ódio e amor, é só ódio. Os dois clubes, as duas torcidas, se odeiam". Você pode achar que falamos de algumas das rivalidades mais conhecidas do futebol mundial, mas é na Indonésia que se encontra um dos clássicos mais sangrentos do esporte. Como onde tem futebol, tem brasileiro, é claro que encontramos um que viva de perto o duelo entre Persija Jakarta e Persib Bandung: trata-se de Bruno Lopes. 

    qTem registro de o Persib vir jogar em Jacarta e estar passando pelo viaduto e a torcida do Persija jogar coquetel molotov e tacar fogo nos ônibus. A polícia vem, os caras matam a polícia. A torcida adversária mata

    E história não falta para Bruno. É "resenha" que não acaba mais, falando de futebol por toda parte. Paranaense de Curitiba, o atacante começou no Figueirense e rodou o país. Mas foi na Ásia que conseguiu um destaque maior. O jogador, em conversa por telefone com a reportagem de oGol, afirma que seu melhor momento na carreira até o momento foi no tempo que defendeu o Albirex Niigata, do Japão.

    "Para mim, foi o melhor momento que vivi na carreira. Melhor oportunidade. Primeira oportunidade fora do Brasil. O Japão, por ser um país preparado como é, caí em um bom clube, que já era acostumado a lidar com brasileiros...", conta. 

    Brasileiro já derrubou Dragões do Porto

    Bruno lamenta a situação difícil pela qual passa a equipe japonesa no momento, na lanterna do Campeonato Japonês, mas não esquece de sua passagem por lá. Logo na primeira temporada, fez 13 gols em 32 jogos da J-League, e ainda outros dois em três partidas da Copa da Liga. O bom desempenho também nas temporadas seguintes o levou para a Europa. Em Portugal, defendeu o Estoril Praia. 

    "Portugal foi aquele sonho de jogar na Europa. O time era dos até então empresários meus. Apostei no projeto deles. Digo que foi até razoável. Tive a oportunidade de disputar duas Ligas Europa, jogar contra grandes equipes, como Porto, Benfica, Sporting, quebrando tabus... O  Estoril nunca tinha ganho do Porto no Estádio do Dragão e a gente ganhou, nunca tinha ganho do Sporting em Alvalade e ganhamos... Então  foi uma temporada bacana", recorda. 

    ©Catarina Morais

    "A gente tinha um grupo bom, mas sempre que vai jogar contra os grandes, em Portugal, o retrospecto conta muito contra. A equipe grande sempre é muito favorita, até pelo abismo de investimento. Tem Porto, Benfica, Sporting e também Braga, equipes que investem mais pesado, contra outras equipes que sobrevivem, com um orçamento bem mais justo. E a gente conseguiu fazer um belo campeonato. Bateu o recorde de pontos do Estoril, conseguimos vitórias contra os grandes, classificamos direto para a Liga Europa por dois anos seguidos. Quebrando recordes do clube... Foi uma experiência razoável por essas marcas que a gente conseguiu alcançar. Sem falar no grupo. Tinha gente de todo lugar, um grupo muito bacana de trabalhar", completou. 

    Bruno saiu de Portugal mais uma vez motivado por um desafio em um país de cultura bem diferente da do Brasil. Na Tailândia, defendeu o Ratchaburi.

    "Estava emprestado pela equipe do Japão, e a equipe do Japão que pagava 99% dos meus vencimentos. Todos sabem que Portugal é uma boa vitrine, mas, em termos financeiros, tirando os grandes, é completamente defasado. Perde até para a Série B do Brasil. Então recebi uma boa oferta financeira para ir para a Tailândia. Como já tinha amigos lá, pessoal falava que era muito bom, que pagava em dia... E arrisquei, fui para uma equipe boa. Não tive o que reclamar, a não ser da diferença do jogo e que era muito calor", garantiu. 

    O passeio do elefante

    Seu período na Tailândia foi curto, mas não deixou de o fazer criar memórias. Bruno recorda algumas das situações inusitadas que vivenciou no país.  

     "Desde você chegar no condomínio e ver uma cobra rastejando na frente dele, até um elefante na rua, o cara levando elefante para passear! Aí, no Brasil, a gente tem o costume de levar o cachorro para passear. Lá, os caras levam o elefante para dar uma volta na rua e tal... Em uma dessas oportunidades, até tirei uma foto da pessoa com elefante. Fora a comida... Eles não comem a comida com a pimenta, lá é a pimenta com comida!", brincou. 

    O atacante seguiu viajando. Voltou ao Brasil, foi de novo para fora atuar no futebol árabe, Brasil de novo... Em 2016 e início de 2017, jogou na Ferroviária e, por muito pouco, não foi campeão da Copa Paulista. No Paulista, entretanto, a campanha não foi tão boa: o time foi eliminado na primeira fase e Bruno fez apenas quatro partidas. 

    "A carreira da gente, a gente às vezes programa algumas coisas, mas Deus tem outras programadas para a gente. Quando saí da Arábia, não estava trabalhando com empresário, estava trabalhando sozinho e acabou fechando a janela e acabei ficando no Brasil. Como sou de Curitiba, acabei mantendo a forma no Atlético Paranaense. Através de lá, fui para a Ferroviária. Lá, a gente disputou a Copa Paulista, a gente foi vice-campeão, fui o capitão na final e tudo... A gente queria o título, mas, infelizmente, não veio. No Paulistão, para mim, foi uma decepção grande, porque esperava jogar mais, mas são coisas que acontecem", disse. 

    Onde atravessar a rua é um desafio

    Logo em seguida, surgiu, então, outro desafio inusitado para Bruno: jogar na Indonésia. O atacante não pensou duas vezes e logo aceitou o desafio. 

    "Para os brasileiros, você fala Indonésia e o povo fala Bali, a praia, a ilha bonita que tem e acabou... Mas é um país que, em partes, tem suas semelhanças com o Brasil. É um povo feliz, alegre, apesar de todas as dificuldades que eles enfrentam. É um país que tem diferença social muito grande. Aqui, ou você tem, ou não tem", analisa. 

    O brasileiro conta como vem lidando com o tradicional trânsito conturbado indonésio, de muitas motos, carros, e nenhum respeito para com os pedestres, que são meros aventureiros. 

    ©Divulgação

    "Não tem um trânsito pior que Jacarta, onde eu moro. Nunca vi tanta moto na minha vida. É uma loucura. Você vira o seu guia: tem que ir com a mão pedindo para os carros irem devagar e ficar ligado, ou então... Os carros passam por cima. Não tem leis de trânsitos rigorosas. Apesar de ser um país militar, e eles terem medo de ser presos, por ser muito rigoroso, nesse quesito de trânsito, eles deixam muito a desejar. Porém, se você for preso por algum motivo, você sabe que as leis são muito rigorosas. É diferente do Brasil: as leis de trânsito até funcionam, com exceção de ingerir bebida alcoólica e dirigir, mas o povo não tem medo de ser preso", diz. 

    Já em termos de futebol, Bruno conta que a Indonésia vive um recomeço. Após ter sido suspensa pela Fifa das Eliminatórias para a Copa da Rússia, por alegada intervenção do governo na federação local, o país vai se reestabelecendo. 

    "Os clubes têm direito a três estrangeiros e um asiático. Cada clube tem direito ainda a um mark player, um jogador que, teoricamente, viria com um salário mais alto. Como em alguns estaduais no Brasil tiveram há um tempo, a federação pagava um salário mais alto  para dar uma valorizada. Eles fizeram isso esse ano aqui. Cada clube tem direito a trazer esse jogador que, nos últimos três anos, tenha atuado nas dez ligas mais fortes da Europa. Aqui tem jogadores de renome como Essien, ex-jogador do Chelsea, Sissoko, que jogou no Liverpool, jogadores da Nova Zelândia, holandeses... E eu vim como esse mark player do meu time. A gente fica feliz porque a liga está se reestruturando e tem nomes assim", garante. 

    Futebol se mistura com guerra

    Nesta sexta, teve na Indonésia o clássico entre  Persija Jakarta e Persib Badung. Bruno, que conversou com nossa reportagem antes do jogo, falou sobre a rivalidade sangrenta entre equipes e torcedores.

    "Posso falar com toda certeza: é a maior rivalidade que vivenciei na carreira, sem dúvida. Se a gente for tentar comparar com clássico no Brasil, não tem. É uma rivalidade que não fica dentro de campo. É uma relação de ódio e ódio.  Os dois clubes, as duas torcidas se odeiam. Tanto que não tem como ter o jogo com as duas torcidas. É uma torcida só.  E a gente nem vai jogar em Jacarta porque o estádio do  Persija está em reforma e o estádio que a gente vem jogando,  que fica em uma região metropolitana, fica no caminho para ir para Bandung. A polícia, então, vetou o jogo lá e vai ser em uma outra cidade chamada Solo.  Mas lá a torcida dominante é a do Persija. Estádio maior também, capacidade para 35 mil pessoas, que vai estar completamente lotado, com certeza, porque é a vez deles jogarem contra a torcida. A gente foi lá no primeiro turno e jogou contra 45 mil torcedores, teve de ir de Tanque para o estádio, porque se for de ônibus eles quebram, jogam coquetel molotov, coisa de louco. Ódio mesmo. Tem registro de o Persib vir jogar em Jacarta e estar passando pelo viaduto e a torcida do Persija jogar coquetel molotov e tacar fogo nos ônibus. A polícia vem, os caras matam a polícia. A torcida adversária mata... No último jogo, torcida única, conseguiu morrer um torcedor no estádio", começa explicar.

    O brasileiro, que foi para o último clássico, na casa do Persib, em um "Caveirão" da polícia local, para não ser agredido por torcedores, relata a experiência. 

    "Foi uma experiência diferente de tudo que vivi. A gente sabe que é uma coisa única, que não é normal de se ver. Se você não registrar isso e for contar daqui 10, 15 anos, ninguém vai acreditar em você. Vão dizer que é exagero. Tem que registrar o momento, bater foto, porque é uma coisa de louco. A gente foi jogar lá e era segurança no hotel, carro de polícia... Geralmente, a gente sai para comprar alguma coisa, mas lá sem chance, não dá para comprar nada. No outro dia, tem cinco, seis 'Caveirões' esperando e vai a polícia escoltando o tempo todo naquele "Caveirão" quente para caramba. Acaba o jogo, você sai debaixo de garrafa... Tinha vários policiais com aqueles escudos para fazer a proteção nossa e sem banho... Você sai do jogo direto para o 'Caveirão' e para o hotel".

    E para sair de campo? Pois é! Bruno contou a epopeia que é tentar deixar o campo em um jogo como esse, diante de torcedores irascíveis e em um clima de guerra que não combina com o futebol. 

    ©Reprodução

    "Não invadem o campo por causa dos 500 policiais. Os caras vão fortemente armados e tudo. E eles (torcedores) jogam garrafas. É uma chuva de garrafas. Eu saí de campo com uns 50 policiais com o escudo que vão levar você para fora de campo. A hora que acaba, a maioria sai correndo já. Nesse meu primeiro jogo, depois do clássico, teve briga. Massagista nosso tomou porrada, dos caras também... É uma falta de responsabilidade total,  você arrumar uma briga em um ambiente desses é suicídio... Aí os caras separaram os jogadores, e a torcida louca para entrar em campo, tumultuar...Aqui é assim, se pular um, o resto vai atrás. Aí a polícia reuniu os que ficaram. Ficou eu e dois jogadores aqui, dois da seleção.  Então falei: 'Pô, vou colar nos caras aqui porque se eu ficar sozinho, estou morto. Vou colar neles, porque eles não vão machucar jogador da seleção'. Um é o ídolo máximo deles, como se fosse o Pelé. A moral que ele tem aqui é absurda, o Bambang Pamungkas. O outro é o atual goleiro da seleção, o Andritany. Ficou também o outro brasileiro, Willian Pacheco, e a gente ficou esperando até a polícia levar a gente. A polícia mandou a gente esperar no centro do campo junto com os jogadores dos caras, fecharam e fomos embora para o túnel. Chegamos no hotel era um com a bochecha vermelha, o outro: 'Ah, tomei uma bomba, não sei o quê...'", relembrou. 

    Nesta sexta-feira (03), diante de sua torcida, o Persija Jakarta venceu o Persib Bandung, por 1 a 0.  Bruno fez o gol que decidiu o clássico, de pênalti, e dessa vez não saiu debaixo de garrafas, mas nos braços de sua torcida. Mas o jogo não deixou de ser polêmico.

    "Depois de seis anos, a gente conseguiu vencer o clássico. Muito feliz por ter sofrido o pênalti e ter feito o gol. Mais importante é ter conseguido essa vitória para quebrar esse tabu. Nossa torcida viajou 12 horas de ônibus, deu 30 mil pessoas e foi um dia muito feliz aqui. Adversário difícil. Eles tiveram uma bola que entrou no primeiro tempo, mas o juiz não viu, por causa da chuva. O jogo seguiu. No intervalo, eles ameaçaram não voltar, por causa desse lance. E, no segundo tempo teve o gol. Logo em seguida, teve uma falta em mim, o jogador recebeu amarelo e xingou o juiz. O técnico tirou o time deles de campo e o jogo acabou com 88 minutos", contou o atleta. 

    Regresso ao Brasil?

    Bruno contou que teve um enorme aumento de seguidores nas redes sociais por conta dos fãs locais. O atacante admite que a pressão por jogar no país é grande, e sonha com um retorno ao Brasil. 

    "A temporada acaba com o último jogo na próxima sexta-feira. A minha expectativa é ajudar a equipe a conseguir a vitória e,  depois, se puder fazer gols, vou ficar muito feliz. Sobre futuro, há o interesse deles em uma renovação, mas eles têm a tradição de só conversar após a temporada. Mas tenho sonho, vontade de voltar ao Brasil. Hoje, estão trabalhando na reta final de Série A, Série B... Então quem sabe, se chegar uma proposta do Brasil, com certeza, agora com meus filhos pequenos, quero ter a oportunidade de estar mais perto deles, de criar eles no Brasil, apesar das dificuldades, de saber instabilidade do futebol brasileiro. Quero também fazer meu nome, criar uma identidade no Brasil, seja na Série A ou B. Na Ásia, já abri portas em alguns países. A expectativa é que eu consiga abrir portas no Brasil. A gente assiste futebol e a gente vê que tem condições de trabalhar em clube bom no Brasil. A gente aguarda uma oportunidade e, ela chegando, vou agarrar da melhor forma possível". 

     

    Brasil
    Bruno Lopes
    NomeBruno da Silva Lopes
    Data de Nascimento/Idade1986-08-19(37 anos)
    Nacionalidade
    Brasil
    Brasil
    PosiçãoAtacante (Centroavante)

    Fotografias(55)

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